Empresas ensaiam fim das praças de pedágio

Aparato tecnológico para dar fluidez e segurança ao tráfego inclui drones e câmeras de monitoramento

Por Rose Crespo — Para o Valor, de São Paulo


Centro de monitoramento da CCR: empresa gasta quase R$ 1 bilhão por ano para a gestão de sua área de operações, onde trabalham 10 mil profissionais — Foto: Divulgação

As concessionárias lançam mão de um aparato tecnológico para aumentar a eficiência do sistema, garantir fluidez do tráfego, minimizar e até evitar congestionamentos e filas nos pedágios, além de garantir a segurança dos usuários nas rodovias. Drones de monitoramento, inteligência artificial, gêmeos virtuais, free flow, além de câmeras inteligentes estão entre as tecnologias em uso ou estudo.

A adoção de novas tecnologias é um item indispensável nos contratos do Programa de Concessões de São Paulo, onde estão as 16 melhores rodovias do país, entre as 20 classificadas pela pesquisa da Confederação Nacional do Transporte (CNT) de 2021. “Acompanhamos de perto a evolução e os novos contratos devem atendê-la. Também monitoramos esses investimentos”, diz Lincoln Seiji Otsuichi, especialista em regulação de transporte da Agência de Transporte Rodoviário do Estado de São Paulo (Artesp), que fiscaliza 11,1 mil km de rodovias concedidas.

A malha já oferece perto de 3 mil câmeras de monitoramento, boa parte com sistema de análise inteligente de vídeo, mas a tendência é que os novos projetos tenham inteligência artificial embarcada. “O sistema pode acionar serviços sem depender da intervenção humana”, diz o especialista da Artesp.

“No futuro próximo, será possível inspecionar o tráfego e a infraestrutura, por meio de drones e fazer análises de imagens por meio de inteligência artificial, para identificar desde incidentes e objetos na pista até a contagem de tráfego, por exemplo”, afirma Afranio Spolador, diretor de tecnologia da EcoRodovias. O grupo atua em infraestrutura e logística intermodal no país e investiu mais de R$ 10 milhões em inovação nos últimos dez anos.

O sistema atual de inspeção já envolve drones, cada vez mais disseminados, e equipamentos dos sistemas analisadores de tráfego (SATs), que verificam quantidade de veículos, classificação por tipo etc. Para comunicar emergências, os usuários já podem se usar o WhatsApp ou recorrer aos mais de 8 mil callboxes ou totens. “Mesmo sem um pacote de dados, a pessoa pode pedir ajuda”, diz Spolador.

Nos três túneis da pista de descida da Imigrantes, administrada pela Ecovias, a empresa substituiu o sistema de detecção automática por uma plataforma mais moderna de rede neural, que permite identificar mais de 80 objetos na pista ou proximidades. “O sistema pode aprender novos objetos e cenários, aprimorando a análise e detecção. A ideia é expandir para outros pontos”, diz Spolador.

Sobre o modelo de cobrança pelo uso de rodovias, uma das tendências que ganha espaço é o “free flow”, sistema sem as praças de pedágio. “O pagamento é proporcional à quantidade de quilômetros rodados. O principal objetivo é cobrar de forma igualitária todos os que utilizam as vias”, afirma Alexandre Honorato Fontes, superintendente de operações da Veloe.

As tags combinam tecnologias de identificação a partir de câmeras OCR e antenas eletrônicas que reconhecem os veículos pela tag ou placa. A Associação Brasileira das Empresas de Pagamento Automático para Mobilidade (Abepam) recentemente apresentou à Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) um estudo para sua instalação no Brasil, focado nas tags como modelo principal.

A CCR, empresa de concessão de infraestrutura e mobilidade da América Latina, pretende instalar o sistema de “free flow” no trecho Rio-SP da BR-101, entre Ubatuba e Rio de Janeiro, a partir de março de 2023. A ideia é expandi-lo para outras estradas até 2025. O sistema está em testes na Rodovia Ayrton Senna, do grupo EcoRodovias.

Mais do que melhorar a estrutura já existente, as concessionárias olham para o futuro. “Temos um laboratório de inovação em Jundiaí (SP) e uma área de novos negócios. A concessionária é pioneira em avaliar o pagamento da tarifa no seu aplicativo”, diz Fausto Camilotti, diretor de operações da CCR. A empresa gasta quase R$ 1 bilhão por ano para a gestão de sua área de operações, com um “exército” de 10 mil profissionais. O resultado é a segurança: redução de 90% no índice de mortalidade e de 64% no total de acidentes de 1996 até o primeiro semestre de 2022, segundo a concessionária.

A CCR aposta ainda em inovações como robôs teleguiados, responsáveis pela manutenção da área verde no Rodoanel e na Via Oeste. Na ViaSul, o grupo aposta em usinas fotovoltaicas para a produção de energia limpa para garantir a iluminação pública ao longo de sua malha rodoviária. “Já conseguimos reduzir quase metade do consumo da energia elétrica nesses pontos”, diz Camilotti.

O avanço do 5G deverá ampliar as estradas conectadas com aplicações ainda mais eficientes. As tecnologias Cat-M e NBiOT (Narrow Band) do 4G são mais acessíveis, pois apresentam cobertura maior e os dispositivos consomem menos bateria. “Avança o uso de tecnologias embarcadas nos veículos de transporte, para garantir a segurança do condutor, como inteligência artificial, por exemplo”, explica Eduardo Polidoro, diretor de IoT da Claro /Embratel.

Outra tecnologia é a 3DExperience, plataforma com ferramentas para planejamento colaborativo e gerenciamento de dados, processos e pessoas. Conhecida como “gêmeos virtuais”, ela permite criar réplicas para simular as características de uma rodovia. “Ainda não temos rodovias que usam a tecnologia, mas já temos interessadas porque a gestão inteligente é o que vai garantir o sucesso do negócio e a satisfação dos clientes”, diz Luis Kondo, diretor da Dassault Systèmes para a América Latina.

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