Empresas projetam novas realidades a partir da rede 6G

Tecnologia permitirá experiências sensoriais e novas aplicações baseadas em hologramas

Por Carmen Nery — Para o Valor, do Rio


Edvaldo Santos, da Ericsson: internet dos pensamentos vai eliminar teclados, mouses e telas touch screen — Foto: Silvia Zamboni/Valor

Como o foco das operadoras no 5G é o B2B (negócios entre empresas), a grande mudança esperada na vida das pessoas virá com o 6G, com aplicações de realidade virtual (VR), realidade aumentada (RA) e realidade mista dos metaversos. Rogério Takayanagi, diretor de transformação e estratégia da Oi, diz que esses recursos permitirão, por exemplo, que um consumidor compre móveis na Amazon testando antes suas dimensões visualmente em casa.

“A desmaterialização também pode permitir impressão de objetos no espaço e até de órgãos humanos em qualquer lugar do planeta. Tudo devido à mudança estrutural das redes, com mais capacidade e baixa latência”, diz Takayanagi.

Edvaldo Santos, vice-presidente de P&D e inovação da Ericsson, informa que a empresa vem fazendo pesquisas nos laboratórios de consumo para identificar o que já poderá ser implementado após o 5G. A internet dos pensamentos e a internet dos sentidos vão eliminar interfaces como teclados, mouses e telas touch screen.

“A internet dos sentidos vai revolucionar até a ecologia, pois vai desmaterializar alguns segmentos, exigindo menos equipamentos”, diz Santos.

Carlos Lauria, diretor de relações governamentais e assuntos regulatórios da Huawei, explica que as gerações pares de telefonia celular - 2G (voz) e 4G (aplicativos) - foram as redes focadas no consumidor, enquanto as ímpares - 3G e 5G - são redes para os negócios. A sexta geração voltará a ser focada no humano”, diz Lauria. Se o 5G, uma rede ímpar B2B, é focada em internet das coisas, o 6G focará na inteligência das coisas. Inovações em VR e RA estão em desenvolvimento avançado no laboratório da Huawei em Xangai, mas não há nada definido, nem no 5G.

“Em toda nova tecnologia, é preciso deixar espaço para o imponderável. O forte do 6G serão as experiências sensoriais como a internet tátil, percepções de odor e sabor, e aplicações baseadas em hologramas, usando VR e RA, mas sem a necessidade de óculos e com velocidade de 50 Gbps ubíqua”, antecipa Lauria.

Karam Takieddine, gerente de P&D da Ericsson, diz que os preços dos óculos caem porque os fabricantes estão tirando funções, como renderização de imagens dos óculos, e jogando na nuvem para torná-los mais leves e baratos.

Para Wilson Cardoso, diretor de tecnologia da Nokia, aplicações de metaverso, gêmeo digital, VR e RA vão coordenar as plantas e a manutenção, permitido encomendar peças e garantir que elas cheguem à linha de produção, onde um técnico com óculos de VR ou RA fará o reparo. “Os óculos de VR vão ser nossa interface com o mundo”, diz Cardoso.

Rodrigo Duclos, diretor de inovação digital da Claro, alerta que o que vai causar impacto no setor é menos a tecnologia e mais o modelo de negócios. Os surgimentos do smartphone e da nuvem informatizaram as pessoas e suas vidas e geraram um mercado global de bilhões de consumidores. No setor de TIC, isso alterou modelos de negócio e promoveu transferência de receitas.

“Operadoras das Filipinas e do Sudeste Asiático chegaram a ter 30% de suas receitas com a venda de ringtones. Em 2000, sete anos antes do iphone, a rede da NTT Docomo caiu de tanto tráfego em sua loja de aplicativos, modelo que a operadora japonesa inventou. A partir desse embrião, Steve Jobs entendeu que poderia 'bypassar' as operadoras. Foi uma falha da indústria de não se coordenar”, analisa Duclos.

Agora elas procuram retomar o caminho das receitas. Renato Ciuchini, vice-presidente de novos negócios e inovação da TIM, informa que a empresa quer criar programas de inovação aberta por meio de padronização e liberação de APIs. Os desenvolvedores vão se conectar à operadora para usar os recursos, criar inovações e remunerá-la. “Os desenvolvedores são mais ágeis, têm mais liberdade regulatória e recursos de fundos para inovar”, diz Ciuchini.

“O maior sucesso de Apple, com IOS, e do Google, com Android, é construir APIs para os desenvolvedores usarem. A GSM Association está definindo padrões para todas as operadoras desenvolverem APIs no mundo. As que estão em desenvolvimento serão anunciadas pela GSMA em Barcelona. A TIM vai desenvolver a API para confirmação do número”, anuncia Leonardo Capdeville, CTIO da TIM.

Rodrigo Gruner, diretor de inovação e novos negócios da Vivo, diz que a Telefônica integra o projeto, e possivelmente serão desenvolvidas APIs na Espanha e na Vivo. Para ele, a capacidade do 5G de conectar coisas vai mudar a forma como as pessoas se relacionam entre si, com a casa e a cidade. “Inovação também leva em conta as necessidades do ser humano. Duas das coisas que incomodam no VR são o isolamento do indivíduo e o impacto no desenvolvimento do cérebro das crianças”, alerta Gruner.

Mais recente Próxima Metaverso vai prover experiências mais imersivas e significativas

Agora o Valor Econômico está no WhatsApp!

Siga nosso canal e receba as notícias mais importantes do dia!