Conexão inteligente

Empresas de serviços públicos ganham eficiência com adoção da IoT

Por Ana Luiza Mahlmeister — Para o Valor, de São Paulo


A conexão entre coisas, ou internet das coisas (IoT), é consequência direta da maturidade digital, onde bilhões de dispositivos, em redes públicas ou privadas, geram cada vez mais dados em um ecossistema que inclui a computação em nuvem e a análise e armazenamento dessas informações. A chegada da rede 5G adiciona um ingrediente ao cenário, dando mais rapidez e resiliência às conexões móveis.

A consultoria IDC estima o mercado de soluções de IoT em US$ 1,6 bilhão (R$ 8,6 bilhões) em 2022, o que representa um crescimento de quase 18% comparado ao ano anterior, e é esperado um aumento de 15% ano a ano até 2025. “A adoção no país é impulsionada por oportunidades de redução de custos e aumento na eficiência dos serviços, combinando diferentes tipos de rede, computação de borda e sistemas analíticos”, afirma Luciano Saboia, gerente de pesquisa da IDC.

IoT vai além dos sensores, alcançando dispositivos conectados e integrados, microprocessadores e softwares já presentes na indústria 4.0. Segundo Sílvio Dantas, diretor de inovação da Capgemini, globalmente é o setor de manufatura que mais utiliza IoT em escala, seguido pelo varejo, telecom, produtos de consumo, utilities e automotivo.

Segundo a Associação Brasileira de Internet das Coisas (Abinc), cerca de 81% das empresas projetam que os investimentos em IoT crescerão acima de 10% nos próximos cinco anos. Pesquisa realizada entre outubro e dezembro de 2021, que contou com a participação de 55 profissionais de empresas de serviços ou utilities, aponta que cerca de 70% estavam na etapa de avaliação de projeto piloto ou já na fase de implantação de projetos.

A rede de sensores apoia a gestão e monitoramento de ativos, e, combinada com inteligência artificial (IA), entende padrões e dá eficiência às telecomunicações, agronegócio, medicina, logística e processos fabris. “No Brasil esse mercado é liderado por empresas avançadas na automação industrial e manutenção, e que já tinham projetos de conexão entre máquinas”, afirma David de Paulo Pereira, analista da TGT Consult/ISG.

A KPMG estima que o Brasil chegará a 20 bilhões de dispositivos conectados até 2025. Uma pesquisa realizada pela consultoria com mais de cem executivos mostra que o aperfeiçoamento na qualidade das conexões e o aumento da velocidade da rede impulsionam a adoção em processos industriais, diz Luiz Sávio, sócio da KPMG.

A área de utilites vem se destacando na adoção da telemetria inteligente para aperfeiçoar a captação e análise de dados, melhorar o faturamento e diminuir erros de leitura. Em 2021 a Sabesp concluiu a implantação das primeiras 100 mil ligações de água monitoradas com telemetria inteligente na região metropolitana de São Paulo, acompanhando diariamente o consumo de água de 123 mil clientes, além de um novo projeto, em andamento, para 120 mil pontos.

Os medidores calculam o consumo duas vezes ao dia e enviam informações à central, facilitando uma análise mais apurada, evitando emissão de contas por média e protegendo o faturamento. Os sensores são conectados pelas redes Sigfox e Lorawan. “A mudança na medição de água e o acompanhamento da leitura melhorou o relacionamento com o cliente, permitindo a identificação de possíveis vazamentos internos, reduziu fraudes, deu mais assertividade às vistorias e projeção do faturamento”, ressalta Ricardo Batista dos Santos, gerente metropolitano do departamento de medidores da Sabesp. Entre as dificuldades do projeto estão os custos dos equipamentos e as falhas na cobertura, áreas de sombra e intermitência na entrega dos dados que dificultam a transmissão das informações. “Grande parte dos componentes desses aparelhos é importada e precificada em dólar, o que encarece o valor final”, afirma Santos.

A Neoenergia opera uma rede privada 4G LTE no projeto Energia do Futuro, em Atibaia, no interior de São Paulo, com mais de 78 mil medidores inteligentes e sistema automatizado de recuperação de falhas. As subestações estão conectadas por enlaces de fibra óptica que dão mais confiabilidade à transmissão. Os religadores e sensores se interligam por uma rede própria de rádio digital e a empresa prevê usar o 5G em futuras expansões, afirma Heron Fontana, diretor de processos da Neoenergia. Os medidores inteligentes são conectados por um mix de tecnologias, incluindo o 4G LTE, Cat-M ou NB-IoT. “A prevalência de um desses padrões de rede vai permitir ganhos de escala nos sensores e uma maior abrangência aos projetos”, diz.

Para baixar o custo dos sensores a Neoenergia fez uma parceria com a Tecsys para o desenvolvimento de dispositivos para vários tipos de aplicação, como os sensores para redes de média tensão (13,8kV e 34kV) e monitoramento de transformadores de distribuição e da rede de baixa tensão.

A CPFL instalou medidores inteligentes em 35 mil clientes do grupo A (indústrias) nas quatro distribuidoras (CPFL Paulista, CPFL Piratininga, CPFL Santa Cruz e RGE) e concluiu um projeto de tele medição dos clientes do grupo B (residenciais e pequenos comércios) em Jaguariúna, na região de Campinas (SP), atendido pela CPFL Santa Cruz para avaliar a viabilidade da massificação nos demais municípios atendidos. “Estimamos que para trocar todo o parque de medição de mais de 10 milhões de clientes é necessário cerca de R$ 5 bilhões em investimentos”, afirma Luís Henrique Ferreira Pinto, vice-presidente de operações reguladas da CPFL.

Os telemedidores usam sistema de comunicação mesh, em que os dispositivos mandam as informações para um concentrador, que envia os dados para a base central da CPFL. “Usamos ainda tecnologias como 3G e satélite para situações específicas, conforme a disponibilidade da rede em cada local”, diz Ferreira Pinto.

A meta da Comgás até o fim de 2023 é alcançar 200 mil sensores inteligentes na região metropolitana de São Paulo e cobrir toda a rede em dez anos. Desde 2020 instalou sensores em cerca de 20 mil km usando redes 2G, 3G ou 4G LoRa. “Recentemente implantamos um projeto de IoT em veículos que rodam pelo aplicativo Uber em parceria com o hub de inovação Plugue, com a instalação de chips nos carros para medir o nível de gás metano na atmosfera para dar mais eficiência na identificação de vazamentos na área de cobertura da concessionária”, explica Cristiano Barbieri, diretor de tecnologia e inovação da Comgás. Segundo o executivo, o 5G permitirá ganhos na escala de transmissão de dados e no tráfego de imagem, mas será necessária experimentação para atingir custos competitivos.

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