Diferentes cenários

Economia mineira deve fechar ano com alta entre 3,5% e 4%, mas desempenho em 2023 é uma incógnita

Por Cibelle Bouças — De Belo Horizonte


Minas Gerais viveu em 2022 mais um ano de crescimento econômico. A economia mineira deve fechar com alta entre 3,5% e 4%, de acordo com projeção da Fundação Dom Cabral (FDC). O resultado deve ser melhor que os 2,8% projetados para a economia brasileira. Apesar do crescimento, o Estado vai encerrar o ano com déficit fiscal de R$ 11,7 bilhões, inferior aos R$ 61,2 bilhões de 2021. Para 2023 a perspectiva é que a economia mineira acompanhe a tendência nacional e internacional, com incremento entre 0,5% a 1%. O déficit para o próximo ano está estimado em R$ 3,6 bilhões.

Leia aqui a íntegra do caderno especial sobre Minas Gerais

“Foi mais um ano de recuperação financeira do Estado. E para 2023 não há um cenário confortável. A economia de Minas deve acompanhar a economia nacional, andar de lado. Pode até cair, dependendo da situação da China”, afirma Eduardo Menicucci, professor de economia e finanças da Fundação Dom Cabral (FDC). O Estado tem grande dependência da mineração e siderurgia, setores cujo desempenho é atrelado à China. O agronegócio, que tem um cenário positivo para 2023, tem participação pequena na economia regional, abaixo de 10%. Na área de serviços, o professor destaca o turismo com potencial de crescimento mais forte.

“Em 2022, a economia de Minas Gerais cresce acima da média nacional por causa do setor de serviços, que teve uma recuperação forte. Mas essa pujança não deve se manter em 2023. A perspectiva para a mineração não é tão boa. Parte da indústria de transformação está parada há algum tempo. Alimentos e bebidas são exceção na indústria”, afirma Raimundo Leal, economista e professor da Fundação João Pinheiro (FJP). No agronegócio, o destaque positivo deve ser o café, com previsão de safra maior devido à sazonalidade da cultura.

Apesar do crescimento, o Estado vai encerrar o ano com déficit fiscal de R$ 11,7 bi, inferior aos R$ 61,2 bi de 2021

De acordo com Leal, a atividade econômica tende a sofrer o impacto negativo dos juros altos, com a taxa nominal da Selic entre 12% e 13% no ano que vem, e da inflação entre 5% e 6% em 2023. “A gente trabalha com um cenário de crescimento de 0,5% a 1% no máximo no ano que vem no PIB mineiro”, diz Leal.

Nadim Elias Donato Filho, presidente do Sistema Fecomércio MG, Sesc e Senac, estima um crescimento de 2% a 3% no comércio de bens e serviços em 2023, apesar dos juros altos e da inadimplência da ordem de 40%. “A retomada da geração de emprego traz um capital de giro muito bom para o setor. Acredito que no ano que vem haverá mais contratações”, afirma Donato. No Estado, as contratações totais com carteira assinada somaram 219,7 mil no acumulado de janeiro a outubro, 5,1% a mais do que no mesmo intervalo de 2021, segundo dados do Caged. A manutenção do Auxílio Brasil também ajudar a sustentar o consumo, segundo Donato.

Donato destaca o turismo como segmento com demanda mais aquecida em 2023. O comércio de bens, varejo de moda e calçados tende a crescer mais com a volta dos eventos e festividades. “Bens duráveis ainda terão dificuldades por causa dos juros altos. O comércio de materiais de construção e decoração vai depender muito de como será novo Minha Casa Minha Vida”, diz.

Minas Gerais tem grande dependência da mineração e siderurgia, cujo desempenho é atrelado à China

João Gabriel Pio, coordenador de estudos econômicos da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) diz, sem citar números, que as indústrias esperam desaceleração na economia. “Indústria de alimentos, têxtil, de calçados e de bebidas podem ter impacto positivo com o Auxílio Brasil e redução do ICMS. Os outros setores da indústria serão mais prejudicados pelos juros altos”, afirma Pio. Setores exportadores, como de siderurgia, indústria extrativa, papel e celulose serão mais afetados pela economia global mais fraca.

De janeiro a setembro, a produção industrial no Estado encolheu 2,3%, ante queda no país de 1,1%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pio diz que a queda mais acentuada em Minas deve-se ao crescimento expressivo em 2021, que deixou a base de comparação alta. Em 2021, o PIB industrial de Minas cresceu 9,4%.

No agronegócio, a produção de grãos deve crescer 10% em relação à safra 2021/22, atingindo 18,37 milhões de toneladas, segundo a Federação da Agricultura e Pecuária de Minas Gerais (Faemg). A área cultivada aumentou 3,83%, para 4,19 milhões de hectares. Os principais produtos são soja e milho, que respondem por 91,5% da produção de grãos do Estado. Em relação ao café, principal produto do agronegócio de Minas, a produção foi de 22 milhões de sacas este ano, queda de 36% em relação a 2020 e quase estabilidade na comparação com 2021. A expectativa é que o déficit hídrico no Sul do Estado e no Cerrado possa impedir um crescimento mais expressivo da produção, segundo Antônio Pitangui de Salvo, presidente do Sistema Faemg.

Segundo dados da Secretaria de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o faturamento bruto do agronegócio mineiro foi estimado em R$ 132,8 bilhões, superando em 9,1% o valor de 2021. O aumento é sustentado pelas lavouras, com destaque para a alta de 27% no faturamento do café, para R$ 30,1 bilhões. O café representa 34,2% do total das lavouras.

Mais recente Próxima Infraestrutura deve receber investimentos públicos e privados

Agora o Valor Econômico está no WhatsApp!

Siga nosso canal e receba as notícias mais importantes do dia!