Nordeste concentra principais projetos

Produção crescente de energias renováveis atrai grandes grupos aos polos do CE, PE, BA e RN

Por Carmen Nery — Para o Valor, do Rio


A força do Nordeste em energias renováveis está potencializando o protagonismo regional no novo cenário de produção de hidrogênio verde (H2V), estimulado pelos polos de Pecém (CE), Suape (PE) e Camaçari (BA), com indústria já desenvolvida e condições climáticas e de localização favoráveis. O polo mais avançado é o do Ceará, onde o governo fechou acordo com a Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), a Universidade Federal do Ceará (UFCE) e o Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIP) para desenvolver o hub de hidrogênio verde, o mais estruturado do país.

Já são 24 empresas com memorando de entendimentos (MoU), interessadas em se instalar no hub de H2V de Pecém. A expectativa é de que a produção comercial tenha início em 2025 ou 2026. A mais avançada é a australiana Fortescue Future Industries (FFI). A lista de interessados inclui ainda Neoenergia, AES, Engie, EDP, Eneva, White Martins/Linde, Nexway e Transhydrogen - consórcio que envolve fundos de investimento, empresas de armazenamento e transporte -, entre outras.

“A FFI já está pagando aluguel e, na COP27, assinou com a governadora do Ceará, Izolda Cela (PDT-CE), emenda ao MoU comprometendo-se a concluir os estudos até 2024. Já a EDP será uma das primeiras a produzir hidrogênio verde na América Latina, com uma planta-piloto que vai consumir 3 MW de energia renovável do parque solar em construção pela empresa”, informa Roseane Medeiros, secretária executiva da indústria da Secretaria do Desenvolvimento Econômico e Trabalho do Ceará.

A ideia é atrair toda a cadeia do H2V; e a produção do novo combustível foi um dos motivos apontados pela ArcelorMittal para a aquisição da Companhia Siderúrgica do Pecém, instalada no CIP.

“Pecém já tem 20 anos, foi criado para abrigar uma siderúrgica e uma refinaria, e conta com a única ZPE em funcionamento do país. O complexo tem, entre seus sócios, o Porto de Roterdã (Holanda), com 30%, que está se preparando para receber o hidrogênio em forma de amônia para abastecer países como a Alemanha, que está avançando na transição energética”, observa a secretária.

Em Pernambuco, o TechHub Hidrogênio Verde é uma iniciativa liderada pela CTG Brasil e o Senai em parceria com o governo estadual. A iniciativa concentra em Suape a implementação de seis projetos focados em produção, transporte, armazenamento e gestão de hidrogênio verde (H2V). “A Neoenergia também tem piloto de H2V com investimentos de R$ 18 milhões”, informa Carlos Cavalcanti, diretor de meio ambiente e sustentabilidade do Complexo Industrial e Portuário de Suape.

Até 2027, Suape deve receber R$ 38,6 bilhões em empreendimentos, que se somarão a 224 empresas atualmente instaladas no complexo. Elas já investiram R$ 75 bilhões em 11 segmentos. Entre os novos empreendimentos, está a planta de hidrogênio verde da Qair, única a se qualificar no chamamento público lançado por Suape.

O investimento é de R$ 22,5 bilhões para 1 GW de capacidade de eletrólise, a partir da dessalinização da água do mar numa área de 72 hectares. Serão quatro plantas de H2V e duas de hidrogênio azul a partir da reforma de vapor metano como insumo para produção de amônia.

“Não queremos ser exportador de commodity. Nosso potencial de consumo é alto, e há muitas sinergias em Suape, dentro do conceito de economia circular. Em outubro, o Senai lançou um edital exclusivo para H2V. A proposta é que Suape abrigue 42 contêineres integrados por uma plataforma blockchain, monitorando a produção e o consumo”, diz Cavalcanti.

Aos 44 anos e reunindo 80 empresas, o Polo Industrial de Camaçari responde por 15% das exportações e 22% do PIB da Bahia. O polo aposta no diferencial de maior complexo industrial integrado do hemisfério sul para atrair projetos de hidrogênio verde. A Unigel anunciou investimentos de US$ 120 milhões na primeira usina de hidrogênio verde do país. Há ainda iniciativas do Senai Cimatec.

“As empresas do polo poderão se beneficiar do hidrogênio verde, combustível e energia do futuro, principalmente para uma indústria neutra em carbono”, destaca Mauro Pereira, superintendente geral do Comitê de Fomento Industrial de Camaçari (Cofic).

Em outubro, o governo do Rio Grande do Norte lançou o Programa Norte-Riograndense de Hidrogênio Verde, por meio de um convênio com a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e a Fundação Norte-rio-grandense de Pesquisa e Cultura (Funpec). Com apoio da Secretaria do Desenvolvimento Econômico, da Ciência, da Tecnologia e Inovação (Sedec), caberá à fundação executar as atividades previstas no acordo, cujo objetivo maior é a criação de uma proposta de lei de incentivo ao hidrogênio verde.

Jaime Calado, secretário da Sedec, destaca que o potencial eólico offshore na costa do Estado é fator essencial para a viabilidade do hidrogênio verde, por ser considerada a melhor fonte de energia para a produção de H2V. O Estado é o maior produtor de energia eólica do Brasil - são 3,8 GW em 224 parques onshore já operando, além de 63 em construção e 85 contratados, que vão gerar 12,2 GW. Agora, o governo luta para viabilizar oito parques offshore já licenciados, somando 11,8 GW, mas que aguardam definições regulatórias.

“Teremos um porto para a indústria verde com potencial de 140 GW, o equivalente a dez Itaipu O governo federal lançou um decreto, mas os investidores veem insegurança jurídica e aguardam a aprovação de uma lei. No Congresso, o projeto de lei mais avançado é o do senador Jean Paul Prates (PT-RN), que ouviu todos os setores, mas o governo precisa dar celeridade ao processo”, afirma Calado.

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