Fabricantes de fertilizantes buscam diminuir a pegada de carbono

Investimentos se concentram na substituição da amônia utilizada na produção pelo biometano

Por Lauro Veiga — Para o Valor, de Goiânia


Adriana Waltrick, da SPIC: “Hidrogênio verde é vetor energético para descarbonização de vários setores” — Foto: Silvia Zamboni/Divulgação

A produção de fertilizantes verdes ganha impulso e mobiliza recursos de fabricantes do insumo e também de empresas do setor energético. A SPIC Brasil, subsidiária da State Power Investment Corporation of China (SPIC), empresa global de geração de energia, e o Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (Cepel) da Eletrobras trabalham em conjunto para desenvolver um projeto conceitual de engenharia de uma planta integrada para produção de hidrogênio verde (H2V), com foco igualmente na fabricação de amônia verde, produtos estratégicos para projetos de descarbonização de quase todas as cadeias produtivas.

O objetivo final não é exatamente construir uma planta, esclarece Adriana Waltrick, CEO da SPIC Brasil. “Dentre outros propósitos, o projeto visa avaliar a economicidade de soluções de engenharia para aplicações reais em diferentes condições e escalas”, comenta ela. “O hidrogênio verde deve ser considerado um importante vetor energético para a descarbonização e integração de diversos setores, principalmente a indústria e para a mobilidade”, afirma.

De acordo com a executiva, o projeto se encaixa no investimento total de R$ 10 milhões que a SPIC Brasil realiza desde 2018 em projetos de pesquisa e desenvolvimento “com foco em eficiência energética, sustentabilidade, comercialização e regulação de energia”.

O projeto também faz parte da estratégia global da SPIC rumo à transição energética e é um dos resultados, ainda, do memorando de entendimentos firmado em 2020 entre o braço brasileiro do grupo chinês, o próprio Cepel e o State Nuclear Electric Power Planning Design and Research Institute (Instituto Estadual de Pesquisa e Projeto de Planejamento de Energia Elétrica Nuclear) para troca de experiências em projetos de energia inteligente, como parte da colaboração entre Brasil e China.

Os estudos a cargo do Cepel, no acordo com a SPIC Brasil, vão dedicar atenção especial à amônia verde, “considerada um importante produto da cadeia do H2V”, explica Waltrick. A executiva antevê perspectivas animadoras de inserção do insumo “em amplos setores”, a começar pela indústria de fertilizantes, com impactos ambientais positivos para o agronegócio, mas também nos setores químico, farmacêutico e de refrigeração. Iniciado em abril, o projeto será desenvolvido ao longo de 18 meses.

A Yara Brasil pretende substituir gradativamente o gás fóssil utilizado na produção de amônia destinada à fabricação de fertilizantes nitrogenados em seu complexo químico de Cubatão pelo biometano, como parte de seu compromisso de descabornizar sua operação, reforçando a participação de fertilizantes verdes em seu portfólio. “Estamos olhando desde o início da cadeia de produção de fertilizantes com o objetivo de reduzir nossa pegada de carbono”, afirma Deise Dallanora, diretora de Food Solution Innovation da empresa. O biometano, segundo ela, deve reduzir em pelo menos 80% as emissões de carbono equivalente na produção de fertilizantes verdes, embora a Raízen, parceira da Yara nesse projeto, estime redução superior a 90% nas emissões diretas de gases do efeito estufa na substituição de gás natural, diesel ou GLP pelo gás renovável.

Por meio da Raízen Geo Biogás S.A., joint venture com a Geo Energética, a Raízen investe em torno de R$ 300 milhões para erguer sua segunda planta de biogás e a primeira inteiramente dedicada à produção de gás natural renovável em Piracicaba, anexa ao Bioparque Costa Pinto.

Com inauguração prevista para 2023, a unidade terá capacidade para produzir anualmente 26 milhões de m3 de biometano a partir de vinhaça e torta de filtro, resíduos da produção de açúcar e etanol. Segundo a Raízen, o projeto segue os planos já anunciados pela empresa de expansão em negócios renováveis e amplia seu portfólio de soluções em energia, “reforçando o papel de liderança na transição energética no país”.

Parte da produção já foi contratada pela Yara, que passará a receber perto de 20 mil m³ diariamente a partir do segundo semestre de 2023, de acordo com Dallanora, o que corresponderá a algo próximo de 3% de sua necessidade diária, estimada em 700 mil m³ por dia. “A companhia está empenhada em buscar diferentes fontes para suprir toda sua necessidade de biometano e estuda parcerias diversas para isso”, acrescenta a executiva.

Em novembro, ainda conforme a Yara, foi registrado o primeiro passo em direção à comercialização de fertilizante verde em larga escala com a formalização de memorando de intenções com a Cooxupé para estudar a viabilidade de fornecimento do insumo. Os estudos deverão ser concluídos em 18 meses, conforme prevê a parceria firmada entre a produtora de fertilizantes e a cooperativa. Nesse prazo, as duas partes vão trabalhar também na definição de práticas agrícolas, métodos e ferramentas para mitigar emissões na produção de café, aumentar a produtividade da cultura e a qualidade do grão.

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