Metas de descarbonização pressionam a indústria

Setor diversifica investimentos rumo à geração solar e eólica

Por Mônica Magnavita — Para o Valor, do Rio


Verônica Coelho, da Equinor: “Esperamos que a regulamentação possa deslanchar essa indústria de eólica offshore” — Foto: Divulgação

A transição energética, tema prioritário na agenda de descarbonização nesta década, enfrenta desafios de peso na indústria de óleo e gás. Tem pela frente a tarefa de conciliar maior agilidade na redução da queima de combustíveis fósseis para conter o aquecimento global em 1,5º C até 2050 com a ampliação da oferta global de combustíveis capaz de acompanhar a evolução da demanda, além de levar energia para cerca de 10% da população mundial sem acesso a fontes seguras. Tudo isso sem elevação de custos, o que aumenta o tamanho do desafio.

No Brasil, o setor responde por cerca de 20% das emissões de gases de efeito-estufa (GEE), basicamente devido à indústria de óleo e gás. No mundo, cenário mais crítico, fontes fósseis geram 80% da energia consumida. Para atingir emissão líquida zero em 2050 será preciso reduzir essa participação para 60% em 2030 e 20% em 2050, conforme a Agência Internacional de Energia (IEA).

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São metas ambiciosas e exigem urgência, mas, na visão de especialistas, não acontecerá da noite para o dia. O tema - a participação da indústria do petróleo nessa transição - foi debatido em painéis durante os quatro dias da Rio Oil & Gas, evento que reuniu centenas de executivos do setor no Rio de Janeiro.

Do encontro, um consenso: as petroleiras continuarão investindo em exploração e produção, não abandonarão combustíveis fósseis para se concentrarem em renováveis, mas buscam diversificar suas fontes de energia para reduzir a pegada de carbono de suas operações.

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O Brasil, segundo José Formigli, CEO da Forsea Engenharia, demandará investimento anual de US$ 24 bilhões até 2025 em desenvolvimento de produção e de US$ 156 bilhões só no pré-sal, até 2030. É das fontes fósseis que virão recursos para aportes em renováveis.

Empresas como Shell, Equinor e Galp, entretanto, vêm expandindo portfólios rumo à geração solar e eólica, sobretudo em projetos offshore. A Petrobras quer estar entre as maiores produtoras mundiais de combustível sustentável de aviação, um novo mercado com demanda elevada e urgente. A United Airlines, por exemplo, planeja reduzir em 85% as suas emissões de carbono até 2050, segundo Doreen Burse, vice-presidente mundial da companhia: “Estamos investindo em aviação inteligente e sustentável”.

Outro consenso são as oportunidades abertas com a transição energética. “Países bem-posicionados podem gerar empregos e atrair negócios”, segundo Fernanda Delgado, diretora do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP). Para tanto, é preciso planejamento energético integrado, capaz de tornar o Brasil exportador de energia limpa.

O mundo que se desenha pós-pandemia e guerra entre Rússia e Ucrânia é de maior demanda por segurança energética, aumento do consumo e disputa entre países pelo capital destinado ao setor. O Brasil tem vantagens comparativas que podem levar o país a liderar a transição energética global e credenciais para atrair parcela desses investimentos. “A vocação do Brasil é de ser potência energética. Quase tudo o que o mundo precisa para emissões líquidas zero o Brasil tem a oferecer”, diz Cristiano Pinto da Costa, presidente da Shell, empresa que tem investido em usinas solares, eólicas e em energia de baixo carbono, como de hidrogênio verde.

Ele enfatiza, no entanto, que avanços regulatórios são imprescindíveis para assegurar competitividade ao país, bem como a regulamentação de mercado de crédito de carbono.

A norueguesa Equinor, outra gigante do petróleo, visa atingir emissões líquidas zero até 2050 e destinar 50%, US$ 23 bilhões, dos investimentos mundiais em energia renovável e de baixo carbono até 2030, basicamente em geração eólica offshore. No Brasil, o grupo começou a diversificar seu portfólio com uma planta solar, de 162 MW, no Ceará, no ano passado, mas a meta é concentrar recursos em geração eólica no mar. “Somos a primeira empresa de óleo e gás a dar entrada no processo de licenciamento para eólica offshore. Esperamos que a regulamentação possa deslanchar essa indústria”, diz Verônica Coelho, vice-presidente sênior da Equinor.

A seu ver, o Brasil tem “potencial primoroso” na transição energética, mas sua concretização requer iniciativas essenciais. “É preciso garantir estabilidade no ambiente regulatório”, diz, sobretudo porque o Brasil compete com outros mercados na atração de capital para o setor. O país é hoje o principal mercado da companhia fora da Noruega.

A portuguesa Galp tem visão semelhante em relação ao potencial nacional. “O Brasil pode ser um dos principais motores numa transição energética justa no mundo”, afirma Rodrigo Villanova, vice-presidente da companhia, referindo-se a três fatores: matriz elétrica nacional com participação de cerca de 80% de fontes renováveis, estimativas de custo de hidrogênio verde entre os mais baixos do mundo e baixa intensidade de carbono da produção brasileira de óleo e gás.

A Galp investiu em projetos de solar e eólica de mais de 5,5 GW, além de hidrogênio verde, amônia e em biocombustíveis. Paralelamente, amplia a produção de óleo e gás no país e planeja investir US$ 5 bilhões nos próximos dez anos em fontes fósseis e renováveis no Brasil.

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