Pequenos ganham mercado com goiaba e espeto

Pequenas empresas são 34,4% dos exportadores do país e respondem por 1,2% do valor embarcado pelo Brasil

Por Carin Petti — Para o Valor, de São Paulo


Fábio Pescador, da gaúcha EspetoSul: exportação para países como Argentina, Portugal e Estados Unidos responde por 30% das vendas externas — Foto: Divulgação

O empresário Fábio Pescador tem 16 funcionários na EspetoSul, fabricante de churrasqueiras e espetos de churrascos no município gaúcho de Caxias do Sul. O agricultor Juliano Bicudo emprega três pessoas em sua plantação de goiaba em um sítio de dois alqueires em Carlópolis, no Paraná. Em comum, a dupla integra a crescente parcela dos micro e pequenos empresários que fincaram o pé no mercado externo.

O segmento responde por 34,4% das empresas exportadoras do país, com vendas externas de US$ 3,4 bilhões em 2021, o equivalente a 1,2% do valor exportado pelo Brasil, conforme dados da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex Brasil), compilados com base em números da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério da Economia. Em 2021, o número de empresas com faturamento de até R$ 4,8 milhões que venderam para o exterior chegou a 10.559 - alta de 59% em três anos.

Na avaliação do diretor-superintendente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) de São Paulo, Marco Vinholi, o crescimento decorre em grande parte da expansão das redes sociais e das plataformas de vendas on-line. Entre os beneficiários do fenômeno está a EspetoSul, que tem 30% da receita originária de exportações para países como Argentina, Portugal, Canadá, Estados Unidos e Nova Zelândia. Os negócios são fechados, conforme o mercado, por venda direta ou pelo intermédio de uma comercial exportadora.

“Nosso primeiro cliente estrangeiro, um distribuidor do Chile, nos conheceu pelas redes sociais”, diz Pescador, que divulga no Facebook, Instagram e TikTok seus espetos giratórios movidos a pilha para churrasco no estilo fogo de chão. A estreia foi modesta, com uma remessa de dez peças em 2017.

A possibilidade de envio de lotes reduzidos por intermédio de empresas como Fedex, Correios e DHL, é outro impulso às exportações dos pequenos, avalia o gerente de inteligência de mercado da Apex, Igor Celeste. “A logística fica mais fácil quando dá para enviar pacotes, não só contêineres”, diz.

“Com a primeira experiência, percebemos que a exportação não é só para grandes empresas, como pensávamos, mas também para as pequenas”, diz Pescador. Ele, porém, pondera: “As vendas externas não caem do céu. É preciso fazer a lição de casa”. Com isso em mente, o empresário participou do Programa de Qualificação para Exportação (Peiex) da Apex. “Um consultor deles nos ajudou a fazer o cadastro em sites que funcionam como vitrine no exterior, a prospectar mercados e entender melhor os aspectos operacionais”, conta.

Também colaboraram para a empreitada encontros com outros empresários, organizados pela Associação das Empresas de Pequeno Porte do Rio Grande do Sul. “Compartilhamos informações sobre processos e mercados”, conta. “Posso explicar para alguém em dois minutos algo que levei quatro anos para aprender”, afirma. Em sua avaliação, a grande vantagem das exportações vem da carga tributária reduzida. “Vendo pelo mesmo preço do mercado interno, mas os impostos, a grosso modo, caem de 20% para 5%”, calcula.

Ganhos mais gordos também são o principal incentivo para os 12 exportadores da Cooperativa Agroindustrial de Carlópolis Coac), no Paraná. Entre eles, está Bicudo, que diz ter exportado metade de sua última safra, de 60 mil quilos de goiaba. “Geralmente vendemos o quilo no mercado interno por algo entre R$ 2 e 2,40. Na exportação o preço fica em R$ 4 e, agora em setembro, passará para R$ 5”, conta a gerente de vendas da Coac, Inês Sasaki.

Motivado pelas cifras, no primeiro semestre, o grupo de produtores paranaenses enviou, por intermédio de uma trading, 65,2 toneladas de goiaba para países como Portugal, Canadá e Kuwait. É um aumento de mais de mil por cento em comparação com as 5,2 toneladas no mesmo período de 2020, quando ainda engatinhavam nas vendas externas. Para os próximos anos, Sasaki prevê avanço de pelo menos mais 50% nas exportações.

Para levar as frutas a novos territórios, os agricultores de Carlópolis tiveram assessoria jurídica, comercial e técnica de profissionais do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná, da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e do Sebrae-PR. O primeiro passo foi a transformação da associação dos produtores em cooperativa. Também foi preciso adaptar a lavoura para a obtenção da certificação Global G.A.P, que exige, entre outras coisas, análises periódicas de resíduos de agrotóxicos nas frutas e na água das propriedades. “Por conta do certificado, temos também de anotar tudo o que acontece com a planta, como irrigações, podas e pulverizações”, conta Bicudo. “Mas o trabalho vale a pena, tanto que quero a arrendar novas terras para plantar mais”, afirma.

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