Inflação e alta de juro no mundo desafiam apostas no exterior

Aperto monetário global trouxe perdas em 2022, mas há ganhos acumulados no longo prazo

Por Jiane Carvalho — Para o Valor, de São Paulo


Frederico Monteiro, gestor de fundos offshore da BB Asset: ano difícil com pandemia, guerra e ajuste nos juros — Foto: Divulgação

O início do aperto monetário global, na tentativa de conter a alta inflacionária, assim como perspectivas de crescimento menor nas principais economias acertaram em cheio os fundos de investimentos no exterior (FIEs), que vivem um 2022 desafiador. A desvalorização nas cotas dos fundos é uma constante. O ponto positivo, destacam os gestores, é que nos produtos de melhor desempenho as dificuldades são pontuais e não corroeram os ganhos acumulados.

A performance do Access USA Companies, gerido pelo BNP Paribas, um dos fundos de melhor desempenho na categoria é a prova da forte virada nos humores do mercado para os FIEs, que precisam ter no mínimo 40% do patrimônio líquido (PL) alocado no exterior. Este ano, até 17 de agosto, o Access USA acumulava queda de 24,52%. O resultado, contudo, veio após três anos de desempenho muito favorável, com alta de 36,95%, em 2019, 75,99%, em 2020, e 34,44% no ano passado. O “Guia Valor de Fundos de Investimento” analisou o período de três anos dos produtos, até 30 de junho.

“No ano passado, a inflação já tinha andado bem, mas os BCs não deram muita atenção. Neste ano, todos estão elevando juro, o que reduz apetite pela renda variável e também sinaliza desaceleração global, o que não é bom para fundo de ações”, explica João Uchoa Borges Filho, gestor de portfólio do BNP Paribas, acrescentando que em 2021 o desempenho do Access USA foi muito bem pelo tipo de papéis na carteira, basicamente ações dos EUA. O fundo não tem proteção contra oscilações do câmbio e se beneficiou de um dólar 7,47% maior frente ao real.

A estratégia de gestão do produto busca investir em ações de crescimento, que vão gerar maiores ganhos no futuro, normalmente empresas jovens e de tecnologia. Na média, o Access USA tem entre 50 e 58 papéis na carteira. “Não mexemos no portfólio com frequência, apenas realizamos alguns movimentos táticos quando percebemos oportunidades”, comenta o gestor do BNP, citando a venda de papéis do Twitter, que estavam em alta, feita logo após Elon Musk anunciar que compraria a rede. “Tem algum espaço para movimentos táticos, como esse, mas via de regra é investimento visando o longo prazo.”

A montagem de uma carteira de ações com horizonte de cinco anos é também o forte de outro produto campeão em rentabilidade, o Arbor Global Equities. “A gente vem fazendo ajustes, mas não nos descolamos da filosofia do produto”, comenta Leonardo Otero, gestor da Arbor Capital. Este ano, para lidar com o cenário de aperto monetário, o gestor fez movimentos pontuais. Entre as trocas no portfólio do fundo estão exposições menores em ações de e-commerce e fintechs e aumento de papéis de Google e Microsoft, que já estavam no portfólio e ganharam espaço.

O movimento em relação ao Brasil foi na direção contrária, com o Arbor Global reduzindo a exposição a papéis do país de 15% para 10% do PL. Este ano, o fundo acumula recuo perto de 24%, após altas de 75,99% em 2020 e 34,4% em 2021. O produto tem hedge cambial, ou seja, o resultado é só pela movimentação dos papéis.

Na lista dos fundos de investimento no exterior com destaque no guia do Valor um produto se destaca pela carteira composta apenas com ações de empresas que propõem soluções que beneficiam o meio ambiente. É o BB Ações Nordea Global Climate and Environment. A rentabilidade segue os pares: 65,17% em 2020 32,87% em 2021, com queda de 20,52% neste ano até 17 de agosto.

“Este ano não está fácil para ninguém, com pandemia, guerra e ajuste nos juros. Praticamente todos os ativos estão sofrendo. É nessa hora que faz sentido ter um fundo com boa gestão, ativa para proteger o portfólio”, comenta Frederico Monteiro, gestor de fundos offshore da BB Asset, acrescentando que o BB Ações Nordea investe no Nordea I - Climate And Environment Equit, cuja gestão é feita no exterior pela Nordea, com sede na Finlândia, conhecida por ser ativista em ESG, sigla para ambiente, social e governança, em inglês.

O fundo tem como meta comprar empresas que vão trazer benefício para o clima e o meio ambiente. “Hoje o maior número de ações que investimos está debaixo do pilar eficiência de recursos. A carteira atual tem 60% de empresas deste pilar, seguido por 35% em proteção ambiental e o restante de energias alternativas”, explica Roberto Martinho, head of fund distribution Latin America da Nordea. A única empresa brasileira na carteira é a Sabesp. “É a maior empresa de saneamento básico do mundo”, justifica Martinho. O fundo não tem proteção cambial.

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