Negócios virtuais crescem enquanto o metaverso não chega

Intitutições experimentam nova tecnologia, mas o metaverso pleno só virá em dez anos com a rede 6G e latência zero

Por Ana Luiza Mahlmeister — Para o Valor, de São Paulo


Fernando Freitas, do Bradesco: “Pesquisa mostrou que 60% dos compradores viram fotos do imóvel antes da visita” — Foto: Joyce Cury/Febraban

O metaverso ou mundo imersivo estará plenamente entre nós em cinco a dez anos. Enquanto isso, as instituições financeiras ensaiam a transformação radical dos negócios que vai muito além de colocar a agência ou os produtos bancários no mundo digital. O metaverso é um espaço imersivo onde ativos digitais serão transacionados de forma descentralizada e com pouca intermediação, trazendo novos desafios como o gerenciamento de identidades.

A chamada Web3 que abrange as redes blockchain, 5G e internet em qualquer lugar, pavimentou a infraestrutura sobre a qual os metaversos estão sendo construídos. Os bancos começaram a testar serviços imersivos com tecnologias 3D e realidade aumentada e adquirir “terrenos” virtuais como um aprendizado na nova tecnologia.

O metaverso trará impactos culturais, econômicos e tecnológicos na passagem de ativos físicos para mundos totalmente digitais. “Em 2032 as pessoas passarão 60% de seu tempo na terra e 40% no metaverso; e em 2042 esse número pula para 20% e 80%”, afirma Thammy Marcato, sócia de inovação e transformação da KPMG que fez um estudo sobre as perspectivas da nova tecnologia.

A pandemia acelerou a infraestrutura que permite a experiência de imersão no mundo digital, porém, em sua visão, o metaverso pleno só virá em dez anos com a rede 6G e latência zero. As sementes já estão aqui com ativos digitais, NFTs (tokens não fungíveis na sigla em inglês), realidade virtual, inteligência artificial e integração cérebro-máquina (introdução de chips dentro do corpo).

No mercado financeiro o metaverso envolve descentralização e governança distribuída em um espaço digital persistente e deve ganhar escala para se popularizar. Basta acompanhar a queda dos preços dos óculos de realidade virtual que costumavam custar US$ 1 mil e hoje podem ser encontrados por US$ 300. “A fase inicial envolve visão e audição, e, no futuro, corpo e mente em uma interação completa da pessoa no mundo virtual, fazendo compras, trabalhando e estudando”, afirma Marcato.

A Mastercard comprou um terreno virtual na Decentraland, universo em 3D governado por uma organização autônoma descentralizada (DAO na sigla em inglês) desenvolvido em blockchain, para a realização de eventos. A empresa dedica 80% da equipe de tecnologia ao estudo do blockchain e criptomoedas. “Estamos em fase de aprendizagem com estudo de casos e avaliação das lições aprendidas, além do treinamento dos profissionais que vão lidar com consumidores virtuais”, afirma Thiago Dias, vice-presidente de estratégia e laboratórios fintech na Mastercard para América Latina e Caribe.

Não basta abrir uma agência ou um estande no mundo virtual, lembra Nicholas Sacchi, diretor de cripto e futuro do dinheiro do BTG Pactual. “Será necessário reimaginar a forma de interação e conexão com o cliente pois os novos meios de pagamento requerem infraestrutura de blockchain, internet de melhor qualidade, chips e capital intensivo para prosperar”.

A criação de ativos digitais em uma infraestrutura de dados distribuídos abre novos mercados para os serviços financeiros. Caberá ao cliente decidir se vai delegar esse ativo a terceiros, como bancos e agentes financeiros. Tudo isso demanda um novo arcabouço regulatório para legislar sobre propriedade dos ativos, armazenamento de propriedades digitais, direito a herança, preservação da identidade dos avatares, tokenização com smartphones, custódia, chaves criptografadas, carteiras digitais de multimoedas, moedas fiduciárias digitais e ativos em NFT.

O Bradesco começou a testar a tecnologia com o objetivo de expandir a oferta de crédito imobiliário com o uso de realidade aumentada. “Uma pesquisa interna mostrou que 60% dos compradores viram fotos do imóvel antes da visita”, afirma Fernando Freitas, diretor de inovação do Bradesco. A experiência começa com o cliente apontando o celular para a planta, entrando no imóvel virtualmente e recebendo informações sobre o preço e a simulação de crédito. Em parceria com a NTT Data, o corretor mapeou o imóvel e as informações foram para um aplicativo que é acessado pelo cliente em 3D.

Em uma outra experiência, com a rede 5G em parceria com a Claro, o cliente aponta o celular para a planta e o empreendimento é recriado no aparelho com o mínimo de tempo de latência. “Tivemos maior conversão de vendas acompanhando toda a jornada do cliente, incluindo o financiamento dos móveis, mostrando que o uso dessa tecnologia faz sentido na decisão de compra”, diz Freitas.

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