Investimentos em TI devem atingir R$ 35,5 bi este ano

Bancos elegem áreas de cibersegurança e inteligência artificial como prioridade máxima

Por Jacilio Saraiva — Para o Valor, de São Paulo


Sérgio Biagini, da Deloitte: “5G entra na pauta de prioridades para ampliar o poder dos investimentos feitos em TI” — Foto: Paulo Cesar Rocha/Febraban

Os investimentos em tecnologias voltadas à cibersegurança e inteligência artificial (IA) são prioritários para 100% dos bancos brasileiros. Para 78%, também entram nessa agenda a análise e exploração de dados obtidos via open finance. Já o orçamento destinado à TI, em 2021, atingiu R$ 30,1 bilhões, valor 13% superior ao registrado em 2020.

O cenário aparece na Pesquisa Febraban de Tecnologia Bancária 2022, elaborada pela consultoria Deloitte, com mais de vinte instituições financeiras. A trigésima edição do documento revela ainda o avanço das operações on-line. “Hoje, sete em cada dez transações bancárias são digitais”, afirma Sérgio Biagini, líder da indústria de serviços financeiros e responsável pelo levantamento na Deloitte.

Biagini explica que, para intensificar o uso de canais digitais pelos clientes e ampliar a segurança e a eficiência dos serviços, o setor bancário deve abrir ainda mais o bolso em 2022. “A estimativa é chegar a R$ 35,5 bilhões de aportes em TI até o final do ano, um avanço de 18% em relação a 2021.”

“Os bancos compõem o segundo setor que mais investe em TI no Brasil, atrás apenas do governo”, explica Rodrigo Mulinari, diretor de tecnologia do Banco do Brasil e do comitê de inovação da Federação Brasileira de Bancos (Febraban). “E agora, fica cada vez mais claro que a IA, a computação em nuvem e a segurança dos dados são pontos fundamentais para melhorar a experiência dos correntistas.”

Em 2021, segundo o estudo, os bancos atingiram a marca de mais de 653 milhões de chamadas atendidas via chatbots, baseados em IA. Desse montante, um número expressivo é destinado a realizar transações como consultas de saldos, investimentos e agendamento de transferências, sem a necessidade de interação humana, diz o relatório. Essas consultas, via chatbots, tiveram um crescimento de 53% entre 2020 e 2021, afirma Mulinari.

Na área de nuvem, diz o executivo, há forte adesão à oferta de software como serviço (SAS, na sigla em inglês). “Os bancos querem usar mais as aplicações em cloud computing para ampliar a integração de sistemas e escalar o atendimento a clientes.” Já investir no nicho de segurança é como aplicar na própria essência do setor, compara. “É natural que tenhamos, cada vez mais, recursos para educação e de preparação a ataques cibernéticos”, afirma.

Segundo o relatório, foram investidos R$ 56,8 milhões em capacitação para 294 mil profissionais dos bancos. Somente na área de segurança cibernética, foram aplicados R$ 5,7 milhões em cursos, para 93,6 mil pessoas, em 2022.

No ano passado, o orçamento de R$ 30,1 bilhões do setor bancário em tecnologia reservou 58% do total para o segmento de software, antes de hardware (27%), telecomunicações (8%) e serviços (7%). Para os próximos anos, Sérgio Biagini aponta tendências que já aparecem no levantamento de 2022.

“O 5G entra na pauta de prioridades para ampliar ainda mais o poder dos investimentos feitos em TI”, afirma Biagini. O novo padrão de velocidade de redes subiu de 17%, em 2021, para 100% dos entrevistados da pesquisa em 2022, na lista das principais tendências de gastos.

Outros destaques entre as escolhas dos bancos para futuros projetos são o “process mining” (metodologia que usa informações coletadas nos bancos de dados), que foi de 30% para 78% como opção na expansão de investimentos; e as aplicações com blockchain (tecnologia que agrupa conjuntos de registros), que avançaram de 41% para 67%, na comparação ano a ano.

De acordo com os especialistas, com o open finance, os clientes tenderão a compartilhar mais movimentações à medida que o ecossistema bancário proporcione uma melhor experiência de uso. O open finance é um sistema de compartilhamento de dados, feito com o consentimento do usuário às instituições, que processam os registros com o intuito de oferecer produtos personalizados.

“Os dados são um dos ativos mais importantes que o nosso setor possui”, diz Estevão Lazanha, diretor de tecnologia do Itaú Unibanco. “Já sabemos que o uso inteligente de informações pode aumentar em dez vezes a assertividade de ofertas pensadas para os clientes.”

De acordo com a pesquisa, o crescimento do número de usuários pessoa física que deram consentimento para a “doação” de dados foi de 18% em quatro meses, entre dezembro de 2021 e abril de 2022. Já entre clientes pessoa jurídica, o salto foi de 60% no período.

Entre os usuários que compartilham informações dentro do open finance, mais de 90% optam por “abrir” os registros durante um ano. “O que prova a confiança do consumidor na segurança dos dados e nos benefícios oferecidos com a integração dos sistemas”, diz Biagini.

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