Até 2026, sol e vento moverão mais 241 usinas

Além da geração solar e eólica, biomassa também é fonte relevante na atração de investimentos

Por Dauro Veras — Para o Valor, de Florianópolis


Indispensáveis no enfrentamento das mudanças climáticas, as fontes de energia renovável complementares à hidrelétrica estão cada vez mais competitivas. Isso incentiva muitas empresas a planejar novos empreendimentos de geração, que em poucos anos podem colocar o Brasil entre os líderes globais nesse mercado. Até 2026, devem ser inauguradas 241 grandes usinas fotovoltaicas e parques eólicos, com investimento de R$ 34 bilhões, projeta a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE). A biomassa é outra fonte relevante, em especial nos setores sucroalcooleiro e florestal.

Em junho, o Brasil bateu recorde de geração fotovoltaica, 16 gigawatts (GW) de potência instalada, superior à da usina de Itaipu (14 GW). O país está na quarta posição mundial de crescimento da fonte, segundo a Agência Internacional de Energias Renováveis. “Esse mercado praticamente dobra de tamanho a cada ano”, diz o coordenador da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), Guilherme Susteras. Desde 2012, são R$ 78,5 bilhões de investimentos acumulados, 450 mil empregos criados e 20,8 milhões de toneladas de CO2 não-lançadas na atmosfera, informa a associação.

O crescimento no uso da energia solar fotovoltaica também se deve à popularização dos telhados solares em residências e pequenos negócios. “Mais da metade dos sistemas residenciais são comprados pelas classes C e D”, comenta Susteras. O aumento das contas de luz, a queda do custo da tecnologia, o financiamento facilitado e o novo marco legal do setor, que dá mais segurança jurídica, incentivam o investimento. A energia solar já responde por 2,5% da eletricidade consumida no país.

Os impactos da guerra na Ucrânia sobre a logística de commodities aumentaram os preços dos componentes para as usinas. Mesmo assim, a geração pela força dos ventos tem perspectiva de um futuro virtuoso, avalia a presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), Elbia Gannoum: “A fonte é competitiva desde 2009 e teve um forte ponto de inflexão há quatro anos, com o início dos negócios no mercado livre, que elevaram a média de contratações de 2 GW para 4 GW por ano”. A capacidade instalada supera 21 GW e responde por 11,5% da matriz elétrica nacional.

Outro avanço foi a regulamentação da geração híbrida, que permite economia de escala pelo compartilhamento de linhas de transmissão para solar e eólica. Os principais projetos híbridos estão no Nordeste devido às condições para geração diurna e noturna. Gannoum vislumbra o crescimento da geração eólica “offshore”, com torres no mar. “Também estamos olhando para o hidrogênio verde, que vai exigir muita energia renovável”, acrescenta.

Os projetos de geração voltados para consumo próprio das empresas devem receber aportes privados de R$ 29 bilhões nos próximos cinco anos, equivalentes a 5 GW de capacidade instalada, estima a Associação Brasileira de Investidores em Autoprodução de Energia (Abiape). A maioria dos empreendimentos planejados pelos 18 associados é de usinas eólicas e solares. Além do custo competitivo, outra vantagem dessas fontes é seu prazo reduzido para entrar em operação. “Há uma reserva de projetos outorgados que podem ser implementados em até dois anos e meio, se houver carga para atender”, diz o presidente da Abiape, Mário Luiz Menel da Cunha.

Entre os projetos listados pela associação está a usina fotovoltaica Sol do Cerrado, da Vale, empreendimento de R$ 5 bilhões que deve iniciar a operação este ano, com potência instalada de 766 MW. A Hydro pretende investir R$ 13 bilhões em dois projetos - uma usina solar flutuante de 2 mil MW e uma híbrida de 1,1 mil MW, ainda sem data. A Companhia Brasileira de Alumínio (CBA) planeja aportar R$ 2,6 bilhões em seis empreendimentos eólicos para gerar 571,6 MW, com prazo até 2023. A Votorantim vai investir R$ 2,3 bilhões na construção de duas eólicas (409,2 MW) este ano e uma solar híbrida de 68 MW para 2026.

A energia da biomassa tem base instalada superior a 16 GW, dos quais 12 GW na indústria sucroalcooleira. “Das 383 usinas de açúcar e etanol do país, 224 já exportam energia excedente e muitas estão se modernizando”, informa o presidente-executivo da Associação da Indústria de Cogeração de Energia (Cogen), Newton Duarte. “Temos um potencial de geração de 4 GW adicionais para exportação até o fim da década”. A bioeletricidade representa em média 10% do faturamento das empresas e gera de 30% a 40% do lucro. Duarte ressalta a importância da Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio), que viabilizou a venda de créditos de descarbonização. Todos os grandes grupos sucroalcooleiros estão investindo em projetos de geração de biogás, subproduto que deve trazer 3,7 GW adicionais ao sistema elétrico nacional.

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