Preço de energia nova gerada pelos ventos já é inferior ao de hidrelétricas

Em dez anos, país subiu de 15º para 7º no ranking mundial de fornecedores do setor

Por Vladimir Goitia — Para o Valor, de São Paulo


Turbinas ligadas: 5,5 GW adicionados ao parque gerador do país este ano vão exigir R$ 38,5 bilhões em investimento — Foto: Markus Distelrath/Pixabay

A indústria eólica brasileira deve obter neste ano o maior e melhor resultado desde que começou a gerar energia elétrica com a força dos ventos, em 2005. A Associação Brasileira de Energia Eólica e Novas Tecnologias (Abeeólica) informa que a capacidade adicional fornecida até dezembro vai se aproximar de 5,5 GW, superando o recorde histórico de 2021, quando foram adicionados 3,8 GW. Com isso, a capacidade instalada do setor eólico (onshore) deve encerrar em dezembro com 27,14 GW, potência acima dos 21,56 GW observados ao final do ano passado.

Esses resultados acompanham o boom da indústria eólica global, que em 2021 teve seu segundo melhor ano, com quase 94 GW de capacidade adicionada, ficando atrás apenas dos 95,3 GW em 2020, quando havia mostrado uma potência adicionada 50% superior à de 2019. Nessa transição e avanço das energias renováveis, que têm ajudado o mundo a evitar mais de 1,2 bilhão de toneladas de dióxido de carbono (CO2) por ano, o Brasil já é o 7º no ranking mundial de capacidade instalada em energia eólica. Dez anos atrás, o país era o 15º.

O bom desempenho da indústria não deve ficar restrito aos resultados conseguidos na última década. A capacidade instalada do setor deve atingir o patamar de 35 GW em 2026, quase 14 vezes mais do que em 2012. “Não se trata apenas de projeções, mas de uma realidade concebida”, afirma Elbia Gannoum, presidente da Abeeólica. Essa meta, diz ela, tende a ser ainda maior porque só nos leilões de energia realizados este ano foram contratados entre 3 GW e 4 GW, que entrarão nas estatísticas dos próximos três anos.

Nesse ritmo, a capacidade instalada do setor em 2030 pode se aproximar de 55 GW. Gannoum explica ainda que os resultados do setor no âmbito nacional e global se devem não apenas ao aumento significativo dos investimentos em renováveis, mas também “à indução do desenvolvimento tecnológico e sua evolução”, que permitiram forte redução nos custos de produção de energia eólica.

“As máquinas hoje são mais produtivas e, cada vez mais, têm custos menores”, acrescenta. Em 2004, o preço do MWh gerado pelo setor, por exemplo, era seis vezes maior que do MWh gerado por hidrelétricas. Cinco anos depois, quando foi realizado o primeiro leilão de energia elétrica no país, o preço tinha recuado para duas vezes mais.

Em 2017, a eólica já era mais barata do que a da Hidrelétrica de Belo Monte, e estava entre as mais competitivas. Hoje, para se ter ideia, os preços de referência para empreendimentos sem outorga e sem contratos para o leilão de energia a ser realizado no dia 27 de maio, com início de suprimento em janeiro de 2026, estavam previstos em R$ 225 o MWh para as fontes eólica e solar, bem abaixo dos R$ 315 previstos para as hidrelétricas.

Gannoum explica que, para cada GW a ser instalado, são necessários pelo menos R$ 7 bilhões. Isso quer dizer que os 5,5 GW que devem ser adicionados ao parque gerador do país este ano vão absorver R$ 38,5 bilhões. Dados da Abeeólica apontam que entre 2011 e 2020 os aportes ao setor somaram US$ 35,8 bilhões (cerca de R$ 180 bilhões ao câmbio atual). Esses recursos fizeram com que a energia eólica brasileira deixasse de ser apenas uma fonte alternativa para ter papel fundamental na matriz elétrica. Hoje, já é a segunda, com cerca de 10% de participação, atrás apenas da geração hídrica.

“Nesse contexto de globalização, fica estranho falar em empresa nacional ou multinacional. Prefiro chamar de investimentos transnacionais, já que hoje não se discute mais a origem do capital”, diz a executiva. Segundo ela, praticamente todas as empresas brasileiras têm acionistas estrangeiros, como é o caso da CPFL ou da WEG, entre outras. “Nesse setor, contamos com grandes utilities, como a espanhola Iberdrola, a portuguesa EDP, a francesa EDF, a americana AES e o grupo frango-belga Engie, entre outras”, acrescenta. Ela cita ainda companhias brasileiras como Casa dos Ventos e Omega.

Só a Engie Brasil Energia, a maior geradora e comercializadora privada de energia do país, investiu mais de R$ 22 bilhões desde 2016, com alavancagem de 82%, em energia renovável, linhas de transmissão, aquisições e novos projetos. Hoje, o parque gerador da companhia soma quase 8,5 GW de capacidade instalada.

A Casa dos Ventos opera um dos maiores parques eólicos do mundo (Complexo Eólico Rio do Vento), com capacidade instalada de 1.038 MW. Em 2023, a companhia iniciará atividades do Complexo Eólico Babilônia Sul (360 MW). A companhia adquiriu ainda equipamentos para implementar o Complexo Eólico Umari (200 MW), com início de geração previsto para 2024. Todos esses parques estão localizados no Nordeste. A Casa dos Ventos também já obteve outorgas para 1,7 GW de eólicas e 1,2 GW de solar a serem entregues até 2026.

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