Energia “dos telhados” pode superar usinas de Itaipu e Xingó somadas

Geração distribuída, com base na energia solar gerada nas residências e empresas urbanas e rurais, pode somar R$ 40 bilhões em 2022

Por Domingos Zaparolli — De São Paulo


O grande impulso da expansão da energia solar no Brasil é realizado por particulares, que instalam painéis fotovoltaicos nos telhados de suas residências, comércios, galpões industriais e rurais. É a chamada geração distribuída. Em abril, as instalações próprias somaram uma capacidade instalada de 10,33 gigawatts de potência e até o final do ano, devem alcançar 17,2 GW. A projeção é da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar).

Produção de painéis não é competitiva no Brasil e Ásia atende 95% do mercado — Foto: Divulgação

Se confirmada a projeção da associação, o Brasil iniciará 2023 produzindo mais energia sobre os telhados de casas e galpões do que a capacidade de geração em conjunto das usinas de Itaipu e Xingó, primeira e sétima maiores hidrelétricas do país, que somam 17,16 GW de potência.

Em 2022, os investimentos em geração própria de energia devem superar R$ 40 bilhões. “Será o resultado do esforço de consumidores que buscam fugir das altas constantes da conta de luz”, diz Rodrigo Sauaia, presidente da Absolar. Entre 2015 e 2021, o consumidor residencial amargou um aumento médio anual de 16% em suas despesas com energia elétrica, segundo a Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (Abraceel).

Os investimentos particulares em 2022 também são motivados pela publicação em janeiro da Lei 14.300/22, o marco legal da geração distribuída, que estabeleceu a manutenção, até 2045, da isenção das tarifas de distribuição de energia para os micro e minigeradores até 10 megawatts (MW) que entrarem em operação até janeiro de 2023. “A lei acelerou os projetos de quem pretendia investir em autogeração”, diz Sauaia.

A nova regulamentação, no entanto, não deve frear os investimentos particulares a partir do ano que vem, uma vez que a lei prevê um cronograma bastante gradual de redução das isenções - 15% ao ano - para os novos projetos que entrem em operação até 2029.

O Brasil conta com 930.833 sistemas fotovoltaicos instalados por particulares. Deste total, 77,4% estão em residências, 12,95% em estabelecimentos comerciais, 7,7% em propriedades rurais e 1,9% em indústrias. De acordo com dados da Absolar, 1.216.777 unidades consumidoras (1,3% do total) recebem créditos pelo Sistema de Compensação de Energia Elétrica, arranjo pelo qual a energia gerada nessas unidades é usada para abater seu consumo.

Em média, o consumidor residencial investe entre R$ 25 mil e R$ 32 mil para instalar por volta de 12 painéis solares de 25 m2 em seu telhado e gerar entre 6 e 7 quilowatts de potência (kWp). A projeção é de uma redução média de 95% da conta de luz. “É um investimento que se paga em um prazo de quatro a seis anos e os equipamentos possuem uma vida útil de 25 anos. É um bom negócio”, diz Rodolfo Meyer, CEO da franquia de instalações fotovoltaicas Portal Solar, empresa que soma 190 franqueados e 18 mil sistemas instalados. “Vamos superar 21 mil instalações até o final do ano”, afirma o executivo.

Um modelo de contratação de geração distribuída que ganha força é a assinatura, que atende principalmente consumidores que não possuem condições econômicas para investir em um sistema próprio ou infraestrutura física adequada para instalar os módulos solares no telhado de seus imóveis. Esse modelo atende também a demanda de moradores de apartamento ou de imóveis alugados.

A fazenda solar é instalada na área de atuação de uma companhia distribuidora, para quem é destinada a energia gerada. Os créditos recebidos pelo fornecimento são comercializados com clientes dessa mesma distribuidora. “O consumidor não investe nada, economiza entre 10% e 15% em sua conta de luz e ainda incentiva a sustentabilidade energética”, diz Guilherme Susteras, sócio-fundador da Sun Mobi.

Em abril, a empresa inaugurou uma usina solar de 4 megawatts (MW) em Porto Feliz (SP) e pretende fechar o primeiro semestre com 250 clientes em 27 municípios paulistas dentro da área de concessão da CPFL Piratininga. “Nosso plano de negócios prevê a geração de 200 MW e 6 mil clientes em 2025”, diz Susteras.

Mais recente Próxima Produção de painéis não é competitiva no Brasil e Ásia atende 95% do mercado

Agora o Valor Econômico está no WhatsApp!

Siga nosso canal e receba as notícias mais importantes do dia!