Consumidores buscam redução na conta de luz e alavancam startups

Energytechs receberam US$ 66,4 milhões em aportes somente em 2021; um terço dos negócios eram relacionados a em energia renovável

Por Jacilio Saraiva — Para o Valor, de São Paulo


Startups brasileiras da indústria de energia, conhecidas como energytechs, receberam US$ 66,4 milhões em aportes somente no ano passado, segundo relatório da plataforma de inovação Distrito. O valor representa 78,1% de todos os investimentos garantidos desde 2015, que somam US$ 85 milhões. A categoria que mostra a maior atratividade entre 157 companhias mapeadas é a de energia renovável, que concentra 36,3% das transações. Empreendedores do ramo apontam que as crises hídricas, que pressionam o valor das tarifas de energia elétrica, e o interesse dos consumidores em economizar na conta de luz são alavancas para novos negócios.

A SolarZ, startup nascida em Mossoró (RN) que atua com monitoramento de sistemas de energia solar, acaba de receber uma injeção de R$ 1,5 milhão. A operação foi liderada pela gestora de venture capital Domo Invest e contou com a participação da Bossanova Investimentos, firma de micro venture capital focada em startups em estágio inicial. O valor deve regar o aperfeiçoamento de processos de pós-venda e de crédito para os clientes.

“Atuamos desde a geração de propostas e compra de equipamentos até o financiamento e capacitação das empresas que fazem as instalações”, explica Thiago Silvano, CEO da SolarZ, que já ganhou uma sede em São Paulo. Com um faturamento de R$ 980 mil no ano passado, a ideia é multiplicar esse resultado por quase cinco vezes em 2022 e alcançar R$ 4,5 milhões. “A previsão é aumentar a base de clientes e o mix de soluções em oferta.”

Silvano diz que a carteira passou de 1,2 mil clientes, em maio de 2021, para 2,5 mil empresas, que monitoram mais de 200 mil usinas solares em quatro mil municípios. “No começo, em março de 2020, tínhamos apenas um contrato no Rio Grande do Norte. Agora, estamos em todos os Estados.”

O atrativo da marca é uma plataforma de monitoramento de usinas solares que permite aos gestores que instalam os equipamentos acompanhar o funcionamento das máquinas, com a possibilidade de melhorar a performance dos sistemas em torno de 30%, segundo a SolarZ. “Os donos das usinas podem terceirizar o acompanhamento para parceiros, que criam uma receita recorrente.”

A maioria das companhias que instalam os ativos fatura entre R$ 1 milhão e R$ 50 milhões. Com recursos como a emissão de alertas e geração de relatórios de funcionamento, a solução identifica problemas antes que eles virem um prejuízo, explica. “Estamos ‘plugando’ mensalmente mais de 150 empresas”, revela Silvano, que planeja uma nova rodada de investimentos em 2023, ainda sem valor definido, para escalar a solução.

Lucas da Costa Corte Imperial, fundador e CEO da startup baiana Melbourne Engenharia, criada em 2015, aposta no conceito do “net metering”, em que o consumidor produz a própria energia, o excedente é fornecido à rede elétrica da distribuidora local e convertido em créditos de energia renovável.

Um dos diferenciais do negócio é o atendimento ao público de baixa renda, com a oferta de um pacote de serviços pago em parcelas mensais. Até agora, efetivou cerca de R$ 10 milhões em financiamentos.

“O tempo de retorno dos projetos de energia solar para os clientes varia de três a seis anos”, explica. “Cuidamos da implantação dos sistemas e alavancagem dos recursos financeiros”, acrescenta. A operação tem usuários em três Estados (BA, SE e AL) e passou a oferecer este ano geração distribuída na área de bioenergia com biomassa residual, como o bagaço da cana-de-açúcar. Dos 220 clientes - eram 130 há um ano - 70% são pessoas físicas e 30% empresas.

Um dos últimos contratos fechados, diz Corte Imperial, foi com a Perbras, de prestação de serviços e locação de equipamentos no setor de óleo e gás. “Participamos da concepção de um projeto de energia renovável para um novo tipo de sonda de petróleo.” O objetivo é que o sistema de energia solar reduza em até 70% a queima de diesel nos geradores da empresa.

Na opinião de Mário Letelier, general partner da gestora Domo Invest, que investe em três empreendimentos ligados ao segmento de renováveis (SolarZ, Volbras e Sensix), empreendedores interessados em captar recursos devem desenhar produtos mais escaláveis. “Empresas e consumidores estão mais abertos a adotar novas tecnologias que ajudem a economizar na conta de energia”, diz. Este ano, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) já aprovou reajustes que variam de 7% a 24% nas faturas de energia de clientes residenciais das distribuidoras. “Nos próximos meses, gostaríamos de realizar pelo menos o dobro do que já investimos”, afirma Letelier.

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