Turismo regenerativo ajuda a preservar os ecossistemas

Projetos de conservação envolvem as comunidades locais e miram fauna, flora e oceanos

Por Jacilio Saraiva — Para o Valor, de São Paulo


Malu Nunes, da Fundação Boticário: 110 parcerias e projetos ambientais — Foto: Divulgação

O turismo em unidades de conservação (UCs) federais aumentou 42,9% no Brasil, em número de visitantes, entre 2017 e 2019, último ano antes da pandemia - saiu de 10,7 milhões para 15,3 milhões de pessoas no período, de acordo com pesquisa da Fundação Grupo Boticário. Para especialistas, atividades como a observação de espécies e expedições de base comunitária ajudam a aumentar a conscientização da população sobre a necessidade urgente de proteger a biodiversidade.

A conservação da natureza depende do conhecimento científico, que precisa estar associado a iniciativas de proteção ambiental e de desenvolvimento das comunidades do entorno, explica Malu Nunes, diretora executiva da fundação. A entidade mantida pelo grupo Boticário existe desde 1990 e doou mais de R$ 80 milhões a 1,6 mil projetos ambientais, sendo 25% para atividades ligadas à proteção marinha. Atualmente, mantém 110 parcerias e projetos em andamento, sendo 40 iniciados no último ano.

Na opinião de Rudã Fernandes, CEO da BioFábrica de Corais, startup de ciência que estuda a regeneração dos recifes de corais, é preciso sensibilizar os turistas sobre a conservação do meio ambiente. A BioFábrica criou em 2015 o projeto Coalizão pelos Corais em Porto de Galinhas, em Ipojuca (PE), e já abriu novas frentes de trabalho em Tamandaré (PE) e João Pessoa (PB).

A ideia é capacitar operadores de turismo locais a realizarem o manejo de conservação dos corais e envolver os turistas na preservação dos ambientes marinhos - no modelo que o setor ambiental costuma chamar de “turismo regenerativo” ou para ajudar a conservar e recuperar ecossistemas ameaçados. “Queremos integrar mais pessoas na conservação ‘recifal’ e diversificar as fontes de renda das comunidades”, diz Fernandes.

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A BioFábrica de Corais acumula parcerias com empresas e entidades como a WWF-Brasil, Uber e o Serrapilheira, instituto privado de apoio à ciência criado pelo casal João e Branca Moreira Salles. O Coalizão pelos Corais é patrocinado pela Fundação Grupo Boticário e tem orçamento anual de R$ 178 mil.

As atividades em Porto de Galinhas, segundo Fernandes, possibilitaram o mapeamento de 400 espécimes em quatro tipos de corais e a construção de dois “berçários” com capacidade para cultivar 6,5 mil mudas de corais. As atividades de turismo serão iniciadas até o início de junho. “Há tratativas para expandir a nossa atuação em Alagoas e no Rio de Janeiro.”

Em Fernando de Noronha (PE), uma das metas do projeto Aves de Noronha é criar roteiros e capacitar guias com técnicas de “birdwatching” ou observação de pássaros. De acordo com Cecília Licarião, Heideger Nascimento e Larissa Amaral, equipe que coordena a ação criada em 2016, das 17 espécies de aves residentes no arquipélago, seis estão ameaçadas de extinção.

“O objetivo é fazer com que o turismo ‘trabalhe’ para fomentar a conservação e vice-versa”, diz Licarião. Parte de um conjunto de cinco projetos do Instituto Espaço Silvestre, ONG fundada em 1999, o Aves de Noronha conta com o apoio de instituições como a fundação irlandesa Naji Foundation. Já ofereceu dez cursos de capacitação para 200 guias. Até 2023, o plano é lançar um livro sobre as aves e um festival de observação.

Para Felipe Braga e Thaís Chaves, educadores do projeto Conhecer para Conservar, iniciado em janeiro em Icapuí (CE), o turismo comunitário pode ser a chave para a preservação dos paraísos naturais. Ao longo de março e abril, a dupla realizou rodas de conversas, envolvendo condutores de passeios e donos de pousadas na praia a 200 km de Fortaleza (CE).

No segundo semestre, devem promover formações profissionais para a observação de aves e peixes-bois, para cerca de 80 pessoas. Icapuí abriga um cativeiro de aclimatação do peixe-boi, de responsabilidade da ONG Aquasis, onde a espécie passa por reabilitação antes de voltar à vida marinha. “Segundo dados do governo estadual, a cidade recebeu 300 mil turistas em 2021”, diz Chaves.

A diversidade de opções do turismo regenerativo deve continuar em crescimento, segundo Daniel Cabrera, co-fundador da Vivalá, que organiza expedições de base comunitária. A empresa social já ampliou as viagens de duas para oito UCs, em biomas como a Amazônia e o Cerrado.

Já Marta Cremer, coordenadora do projeto Caminhos do Mar, de desenvolvimento sustentável da Baía Babitonga, em Santa Catarina, aposta no turismo de observação de toninhas, um tipo de golfinho em risco de extinção. “O turismo de natureza precisa de políticas públicas que o fortaleçam. Estamos falando de atrativos que são patrimônios públicos”, diz.

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