Em 12 meses, título de crédito privado supera o do Tesouro

Fundos oferecerem menor liquidez e apresentam riscos maiores, por estarem atrelados a um emissor privado

Por Mônica Magnavita — Para o Valor, do Rio


Daniel Pegorini, CEO da Valora: diferencial está no crédito estruturado — Foto: Divulgação

Os fundos de crédito privado, por serem ativos de renda fixa, tornaram-se opção atrativa de investimento nas atuais condições de mercado de juros elevados, com a Selic em 11,75%, e com perspectiva de alta diante das pressões inflacionárias. Compostos por carteiras que incluem securitização de recebíveis, como os fundos de investimentos em direitos creditórios (FDICs), debêntures, certificado de recebíveis do agronegócio (CRA), de recebíveis imobiliários (CRI), tais fundos, entretanto, oferecerem menor liquidez e apresentam riscos maiores do que aqueles aplicados apenas em títulos públicos, por estarem atrelados a um emissor privado. Em contrapartida, o retorno pode ser bem superior ao dos demais fundos de renda fixa.

O desempenho recente das carteiras privadas demonstra a variação de ganhos em relação aos portfólios compostos por títulos do Tesouro Nacional. Nos 12 meses encerrados em março de 2022, a rentabilidade do índice IDA-DI, que acompanha o mercado de títulos indexados ao CDI emitidos por empresas, foi de 9,09%, enquanto o IMA-S, relacionado aos títulos atrelados à Selic, rendeu 6,99%, ambos acima do CDI, conforme a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).

No “Guia Valor de Fundos de Investimento”, os destaques foram selecionados em função da rentabilidade obtida no período entre abril de 2019 e março de 2022, refletindo as diferentes estratégias adotadas por seus gestores. Fundos como o Empírica Lotus IPCA, com prazo de resgate superior a 16 dias, e o Valora Absolute, com até 15 dias para resgate, aparecem como destaques ao lado de outros como os geridos pela Capitania Capital e Angá Administração de Recursos.

O fundo da Empírica, conforme o gestor Guilherme Lagnado, aloca capital em papéis classificados como high yeld e adota estratégia de investimento baseada em dois pilares: diversificação da carteira por tipo de crédito e gerenciamento de risco. O portfólio é composto por crédito securitizado, os FDICS, sempre tendo por trás uma gama extensa de devedores. Na carteira, apenas cotas sênior e mezanino. “São eles que dão consistência de retorno. Não compramos cotas júnior, que são alavancadas e se comportam como ações, com muita oscilação”, diz Lagnado. O Empírica Lotus IPCA investe em mais de 20 FIDCs e em 15 tipos de crédito, passando pelo consignado privado e público, empréstimos para pessoa física.

Outro aspecto que o diferencia dos demais fundos de renda fixa é o fator de liquidez, inferior aos de fundos de outras categorias, fazendo com que o investidor fique atento caso espere do produto o equivalente a uma reserva de emergência. “Não conseguimos mudar nossa carteira de posição rapidamente. É um produto complexo”, diz o gestor.

Os papéis têm prazos longos, de 36 meses, 48 meses e até de 10 anos. Em virtude desse perfil, o gerenciamento de risco é fator decisivo. “Quando vamos comprar um novo FDIC passamos quatro semanas analisando, olhamos os prestadores de serviços envolvidos, o originador de crédito, o agente de cobrança. É por uma diligência grande”, diz Lagnado. A Empírica, no mercado há 12 anos, também estrutura FIDCs e monta estrutura de garantias. Hoje, gere mais de 36 desses fundos.

O Valora Absolute tem perfil diferente. Daniel Pegorini, CEO da Valora Investimentos, explica que o fundo concentra 98% de sua carteira indexada ao CDI, em função de sua estratégia de evitar riscos de ordem macroeconômica. “Não ficamos apostando no IPCA porque são dinâmicas voltadas para os multimercados. Nossa concepção é entregar spread sobre o CDI”, diz Pegorini.

A meta de rentabilidade é de 2% sobre esses papéis e, para tanto, mantém 80% de seu portfólio em créditos líquidos, como debêntures e letras financeiras, e os outros 20% em crédito estruturado, como CRAs, CRIs e FIDCs, geridos de acordo o cenário para obter os ganhos almejados. “Nossos fundos diferem pela quantidade de crédito estruturado em suas carteiras. É o formato que usamos para dar ao fundo um alfa maior”, diz Pegorini.

Além disso, o Valora Absolute tem gestão ativa em sua carteira de liquidez. No ano passado, os gestores identificaram redução no mercado de papéis de maior liquidez, em virtude da entrada de recursos nesses fundos, na busca por ativos high grade. Com isso, a remuneração caiu. “Percebemos o movimento e ficamos de fora, preservando liquidez. No início do ano, quando muitas empresas captaram ao mesmo tempo, a demanda por investidor aumentou e as taxas abriram. Atuamos de acordo com cada momento do mercado”, conclui o executivo da Valora. Hoje, estão com a carteira mais comprada.

Mais recente Próxima Instabilidade dá força ao mercado de debêntures

Agora o Valor Econômico está no WhatsApp!

Siga nosso canal e receba as notícias mais importantes do dia!