Fornecedores de máquinas têm foco na modernização

Investimentos se intensificam nas áreas de mineração, agro e construção

Por Carmen Nery — Para o Valor, do Rio


Rodrigo Fumo Fernandes, da WEG: oportunidades para as empresas que se adaptaram mais rapidamente — Foto: Divulgação

Vital para o desenvolvimento do país, o setor de bens de capital faz uso intensivo de inovação assegurando a modernização das atividades de clientes de segmentos como manufatura, mineração, agronegócio, construção e energia. Três empresas do setor - Embraer, WEG e CNH - estão entre as dez mais inovadoras de todo o país em 2020, segundo o “Anuário Valor Inovação Brasil”, parceria do Valor e da Strategy&, consultoria estratégica da PwC. Desde o início da pandemia, as seis mais inovadoras do setor vêm procurando responder aos desafios exigidos pelo novo cenário experimentado por seus clientes.

A Siemens, uma das que se destacaram no ranking, desenvolveu uma solução com recursos de gêmeo digital - reprodução digital fiel de uma planta fabril - para mapear roteiros otimizados que devem ser percorridos pelos funcionários nas plantas a fim de garantir o distanciamento.

“Desde 2005, a Siemens identificou a tendência do digital e tem feito aquisições. Entramos em 2019 preparados e com um portfólio consistente. Na pandemia, usamos realidade aumentada para manutenção ou para que clientes inspecionem seus equipamentos em produção em nossas fábricas”, diz José Borges Frias Jr, diretor de inovação corporativa da Siemens.

Em 2020, a companhia fez o spin off da área de energia criando a Siemens Energy. A empresa mãe ficou concentrada em soluções de automação industrial e de transformação digital, além de infraestrutura para energia e smart grid. “Entre 2014 e 2019, o gasto com P&D aumentou 40%, investimos € 5,7 bilhões no último ano, o equivalente a 6% das receitas. No Brasil, são quatro centros de P&D”, afirma Frias.

Rodrigo Fumo Fernandes, diretor global de engenharia da WEG, afirma que a pandemia trouxe oportunidades para as empresas que se adaptaram mais rapidamente. “Crescemos 31% em 2020 em receitas, e nosso investimento em P&D aumentou 38% porque economizamos com a logística de viagens. A pandemia acelerou lançamentos que estavam no pipeline. O mais recente é uma turbina eólica de 4,3 MW que consumiu investimentos de R$ 100 milhões”, diz.

Em 2020, a WEG investiu R$ 469 milhões em P&D, o equivalente a 2,7% do faturamento. A empresa tem 45 plantas em 12 países e 109 laboratórios de P&D, 70 dos quais no Brasil. Segundo o executivo, as vendas externas representam 56% do faturamento.

A Schneider Eletric Brasil foi outro destaque entre as mais inovadoras. Para o presidente da empresa, Marcos Matias, a pandemia fez os clientes entenderam que precisariam investir na conectividade para enfrentar o desafio que viria. Na visão de Matias, pior do que a pandemia e a crise econômica é a mudança climática, que vai exigir eficiência energética e inovação.

“A Schneider atua no gerenciamento de energia e automação industrial com forte foco em ESG [melhores práticas socioambientais e de governança] e investe € 1,2 bilhão em inovação, o equivalente a 5% do faturamento de € 26 bilhões. E destinamos US$ 500 milhões para startups”, informa.

A empresa tem multihubs de P&D espalhados pelo mundo. No Brasil, o centro de P&D em São Paulo e as duas fábricas em Fortaleza e em Blumenau têm centros de adaptação. Investe ainda em economia circular - com o reaproveitamento de embalagens deixou de descartar três toneladas de papelão em 2020.

Outra iniciativa é a parceria com a startup Tupinambá para ofertar carregadores em postos de abastecimento de carros elétricos. “Temos o compromisso de trocar, até 2030, 100% da nossa frota de carros a combustão para elétrico”, acrescenta Matias.

Também na lista das mais inovadoras, a ThyssenKrup investiu 800 milhões em P&D, o equivalente a 2,8% do faturamento de € 28 bilhões, no último ano fiscal.

A empresa atua na cadeia global de componentes automotivos; faz planejamento de plantas de mineração, cimento e indústrias químicas; e fornece equipamentos de defesa naval. Com 75 localidades com atividades de P&D e 3,8 mil profissionais na área, a companhia cria inovações com equipes globais. “No Brasil, temos um centro de P&D em São Paulo, para desenvolvimento de soluções para a área automotiva”, diz Paulo Alvarenga, CEO da Thyssenkrupp.

Entre as mais de 20 mil patentes globais, a mais recente do Brasil foi publicada em abril, referente a um silo de carregamento automático de vagões de trem de carga para mineração desenvolvido pela empresa. O trem passa por baixo do silo sem parar, e, por meio de medidores, o equipamento faz o controle fino para garantir a máxima precisão na ocupação do vagão. “Conseguimos melhorar a precisão de 3% para menos de 1%”, afirma Alvarenga.

A operação de siderurgia da Thyssenkrupp no Brasil foi vendida para a Ternium em 2017, e a global de elevadores, para um consórcio de investidores liderado pela Advent e pela Cinven, no início de abril.

Sérgio Soares, head de inovação global da CNH Industrial, que atua nos setores de transporte, energia, construção e agricultura, também considera que a pandemia acelerou a digitalização. Segundo ele, houve a intensificação da tendência de ‘servitização’, que é a transformação de produtos e softwares em serviços.

“As máquinas hoje são transportadoras de dados que vão para uma nuvem para serem acessados pelo gestor da fazenda, que usa dados de máquina, de clima e de agronomia. Com a pandemia, tivemos de ficar fisicamente distantes, mas, de alguma forma, próximos”, diz.

Também entre as mais inovadoras, a CNH Industrial investiu US$ 1 bilhão globalmente em P&D (3,5% das receitas). Desse total, 10% foram na América do Sul, onde tem dez unidades fabris e sete centros de P&D. “No Brasil, somos menos uma filial e mais um centro de criação pela demanda específica do mercado local, com duas a três safras [de grãos] por ano e deficiências de infraestrutura. Como temos condições mais severas, geramos especificações para o desenvolvimento do produto global.”

A empresa é uma das fundadoras da Associação ConectarAGRO, criada para levar internet ao campo via redes 4G em 700 MHz, de maior cobertura.

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