Desempenho na B3 aponta retomada heterogênea

Alpargatas, Banco do Brasil e CPFL estão entre as mais antigas

Por Felipe Datt — Para o Valor, de São Paulo


O Banco do Brasil ingressa em 2021 no seleto grupo de empresas com mais de cem anos de presença na bolsa brasileira. A instituição se junta a Alpargatas e CPFL Energia (ambas com listagem em 1913) e Cia Melhoramentos (1910), conforme lista da B3. Apesar de atuarem em setores diferentes, as empresas viram as ações sofrerem forte desvalorização nos meses iniciais da pandemia, e desde então engataram um processo de retomada heterogêneo.

O BB viu as ações ordinárias caírem 32,4% no acumulado de 12 meses até 12 de fevereiro, descolando do Ibovespa (alta de 2,4% no período). O roteiro da instituição não diferiu muito do trilhado pelos grandes bancos privados durante a pandemia. As medidas de restrição à mobilidade e o fechamento do comércio impactaram a demanda por crédito e o risco de inadimplência motivou um forte aumento das provisões para créditos de liquidação duvidosa.

Essas reservas destinadas a cobrir calotes impactaram os balanços e o lucro dos quatro grandes bancos listados caiu pela primeira vez desde 2016. O BB computou lucro líquido de R$ 12,6 bilhões em 2020, queda de 30,1% em relação a 2019. As perspectivas para 2021 são melhores, ainda que o volume de provisões deva continuar alto. “Conforme a vacinação avança, a tendência é que a partir do segundo trimestre iniciemos uma volta à normalidade”, diz André Querne, da Rio Gestão de Recursos.

O cenário tende a favorecer a valorização dos papéis do BB em 2021. O banco projeta lucro líquido entre R$ 16 e R$ 19 bilhões no ano. Mas recuperar as perdas acumuladas no período de pandemia ainda é uma tarefa incerta por conta de riscos políticos. Em janeiro, a menção de que o presidente Jair Bolsonaro poderia trocar o comando da instituição levou os papéis a caírem 5% em um dia.

Em 22 de fevereiro, lembra Carlos Daltozo, head de renda variável da Eleven Financial, a queda foi de 11,65% com o anúncio de troca de comando na Petrobras e os investidores “penalizando” os papéis de outras estatais. “O mercado tradicionalmente penaliza as ações do BB, que rodam com desconto de 30% em comparação aos bancos privados por ser uma empresa de economia mista e por conta de episódios de ingerência política. No dia 22 de fevereiro, esse desconto chegou a 42%”, relata.

Dona das marcas Havaianas, Osklen e Mizuno, a Alpargatas também foi duramente afetada nos meses iniciais de pandemia com o fechamento do comércio, mas engatou uma recuperação que levou as ações a uma valorização de 10,2% em 12 meses até meados de fevereiro. Em 2020, a Alpargatas teve lucro líquido de R$ 140,2 milhões, queda de 48,9% sobre o ano anterior. A receita líquida, por outro lado, avançou 2,6% sobre 2019, para um recorde de R$ 3,28 bilhões. O crescimento da receita foi impulsionado pelo aumento de 5% nas vendas de Havaianas (79 milhões de pares) no quarto trimestre, um volume recorde.

Conforme Igor Cavaca, analista de investimentos da Warren, embora a maior parte da receita da empresa seja oriunda do comércio físico, a estratégia da Alpargatas em focar na internacionalização e na consolidação dos canais digitais de vendas explica a valorização dos papéis nos últimos meses.

As vendas on-line do grupo cresceram 130% em 2020, respondendo por 14% do faturamento total, e o mercado externo já responde por 28% das vendas. “A Alpargatas é uma empresa de vestuário com muito acesso ao exterior, o que não é tão comum nesse mercado no Brasil. São produtos com preço maior lá fora, que se beneficiam de ciclos econômicos diferentes do nosso e garantem uma receita em dólar em um momento de câmbio desvalorizado”, diz.

As ações ordinárias da CPFL Energia acumulam perdas de 6,7% em 12 meses até meados de fevereiro, mas a curva aponta recuperação. “As elétricas se recuperam em uma velocidade menor. É um setor muito atrelado ao crescimento da economia. Esses ativos crescem se toda a economia crescer”, diz Cavaca.

O abrandamento das medidas de restrição e o aumento de consumo de energia impactaram positivamente no balanço do terceiro trimestre de 2020, quando o lucro líquido da companhia atingiu R$ 1,35 bilhão, alta de 80,8% na comparação com o mesmo período de 2019 - o balanço do quarto trimestre ainda não foi divulgado. A Cia Melhoramentos quase não tem negócios em pregão.

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