O trio de tecnologias que moldará o futuro, segundo Amy Webb

Em palestra concorrida, futurista falou sobre os prós e contras do novo ‘superciclo’ de invenções e a concentração de poder das big techs

Por — O Globo, de Austin (EUA)


Webb diz que nova onda vai ‘remodelar a existência humana de formas animadoras, boas e absolutamente aterrorizantes’ — Foto: Stephen Olker/Divulgação

Inteligência artificial generativa, biotecnologia e dispositivos conectados formam uma trilogia tecnológica que a futurista americana Amy Webb apresentou como o novo “superciclo tecnológico”, em sua concorrida palestra durante a conferência de inovação SXSW 2024, em Austin, no Texas (EUA).

“Cada um destes segmentos da tecnologia tem a habilidade de remodelar radicalmente a economia e a sociedade”, ressaltou Webb a um auditório com capacidade para 1.755 pessoas, no salão principal do Centro de Convenções de Austin, no dia 10. Garantir um lugar para ver as projeções de Webb pessoalmente, em sua 20ª participação no SXSW, requer pelo menos uma hora e meia de fila, mas a espera vale a pena.

A futurista lembrou de ciclos tecnológicos anteriores como a energia elétrica, as máquinas a vapor e a internet. Desta vez, entretanto, a mudança é mais profunda. “A onda de tecnologia que está chegando é tão potente que vai remodelar a existência humana de formas animadoras, boas e absolutamente aterrorizantes”.

O medo de não conseguir acompanhar as atualizações (FOMO, na sigla em inglês), um sentimento comum entre os participantes do evento, em meio à variedade de conteúdos simultâneos, é compartilhado por CEOs de grandes empresas. O sentimento atual foi resumido por Webb como medo, incerteza e dúvidas sobre o futuro, que batizou de “FUD”, em inglês. “Sei que estão todos profundamente preocupados com essa tecnologia porque tudo ainda é abstrato. Vocês não sabem o que fazer com a IA, não sabem o que pensar sobre ela, e por isso há centenas de painéis sobre o tema no evento”, comentou. “Vocês se preocupam com a transformação digital, e alguns ainda não começaram porque ela é cara e leva tempo, se preocupam se conseguirão alcançar suas metas de receita, se ainda terão um emprego, e, a propósito, ainda nem chegamos a questões de cadeia de suprimentos, mudanças climáticas, problemas geopolíticos e à ameaça de uma terceira guerra mundial”.

O lado positivo, ponderou Webb, é que a geração atual ainda tem mais controle sobre o futuro do que imagina. “O superciclo tecnológico está aqui, mas não precisamos nos submeter”.

Web trouxe exemplos do avanço da IA além dos modelos de linguagem de textos, mostrou exemplos de alucinação e viezes das ferramentas. “Veremos cada vez mais modelos de código aberto sendo reposicionados com intenções ruins”, alertou. “Em dezembro, uma IA usou informações internas para ordenar uma compra de ações. E quando perguntada se havia feito a ordem, ela mentiu”, ilustrou Webb. “O problema é que a IA não vai para a cadeia. Trata-se apenas de uma falha, um bug”.

Entre os dispositivos conectados, Webb citou assistentes virtuais portáteis que permitem carregar a IA generativa no bolso e substituem as telas dos celulares, como o R1, da Rabbit, e o Humane, um broche que reage a comandos de voz e gestos e projeta informações com laser na palma da mão.

O ‘superciclo’ tecnológico está aqui, mas não precisamos nos submeter”

Os óculos Vision Pro, de realidade virtual e aumentada, da Apple também ganharam um capítulo na palestra de Webb. O que ela chamou de “computação facial” também abre precedentes preocupantes sobre os limites do que a máquina consegue enxergar sobre nós. “Eles estão sendo desenvolvidos para ler nossas intenções”.

O pilar da biotecnologia, talvez o mais futurista de todos, fez a IA generativa parecer menos assustadora. Webb mostrou exemplos de um organismo celular, estimulado com eletrodos, que aprendeu a jogar um game clássico chamado “Pong” e de outro capaz de identificar a voz de uma pessoa entre 240 vozes diferentes.

“A inteligência organóide, ou OI, usa material biológico, ou células do cérebro, para processar informações, elevando sua capacidade além dos sistemas baseados em silício [os microprocessadores]”, explicou. “Vai levar um tempo para os organismos OI competirem com a IA, mas com o tempo serão mais poderosos e consumirão menos energia do que os semicondutores que temos hoje”.

A maior ameaça para a trilogia do superciclo tecnológico, segundo Webb, é a concentração de poder por gigantes de tecnologia. “Sem intervenção, podemos ter cenários catastróficos”, afirmou. “Nós ouvimos há décadas que a tecnologia não é ruim, mas sim a forma como a utilizamos. Mas e quanto às pessoas que estão criando a tecnologia, que estão financiando a tecnologia e suas empresas e o controle que aumenta sobre nossas vidas?”, disse Webb, exibindo imagens de líderes de ‘big techs’ em trajes de santos. “Nós não precisamos de alguém que nos salve. Precisamos somente de um planejamento melhor para o futuro.”

A jornalista viajou a convite do Itaú Unibanco

Mais recente Próxima IA generativa favorece ‘generalista criativo’

Agora o Valor Econômico está no WhatsApp!

Siga nosso canal e receba as notícias mais importantes do dia!