Operadoras de logística investem na otimização de processos

Com a queda de juros e aumento da demanda, companhias reforçam aposta em conectividade, inteligência artificial e também na diversificação dos serviços

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Almeida, da DHL: novos centros de distribuição — Foto: Marco Flavio/Divulgação

A alta de demanda nos segmentos de alimentos, produtos de consumo e saúde impulsiona uma nova onda de investimentos das operadoras brasileiras de logística em 2024, com foco principalmente em tecnologia. “Sobretudo em meio ao constante avanço da inteligência artificial (IA) e da busca por soluções eficientes de conectividade, como o 5G, considerado essencial para manutenção de vantagem competitiva no mercado de logística”, avalia Marcella Cunha, diretora-executiva da Associação Brasileira de Operadores Logísticos (Abol).

Com mais de mil de empresas, cujo faturamento anual está próximo de R$ 200 bilhões, o mercado brasileiro de operadores logísticos contabiliza investimentos em várias áreas de negócios que ultrapassam R$ 18 bilhões ao ano. “O uso cada vez mais inteligente de dados [big data] também é algo que vem evoluindo entre os operadores logísticos, principalmente no que se refere ao atendimento customizado de clientes, que vão desde empresas do e-commerce à indústria farmacêutica e ao agronegócio”, diz Cunha.

De maneira geral, os empresários estão otimistas com as perspectivas de bons negócios ao longo deste ano. “A redução da taxa de juros tem impactado positivamente o setor de logística no país, porque há uma retração no custo financeiro dos financiamentos”, diz Beto Zampini, conselheiro da Associação Brasileira de Logística (Abralog), um fórum de integração entre operadores e clientes do setor de logística.

As empresas que operam neste mercado fazem frente aos novos desafios com diferentes abordagens. A JSL, por exemplo, uma das maiores na área de logística do país, que registrou aumento de 23% de sua receita bruta em 2023, totalizando R$ 2,4 bilhões, adota um conjunto de estratégias que contribuem para aumentar a eficiência, reduzir os custos e expandir seus negócios, diz Ramon Alcaraz, CEO da companhia. “A principal delas é ter uma gestão austera que busca sempre por eficiência e racionalidade”, destaca. “Atuamos de maneira a nos antecipar aos movimentos de alta e fazemos a gestão do nosso caixa de forma a nos manter bem posicionados no mercado, independentemente do cenário”, explica.

A empresa cuida bem de seus ativos, afirma Alcaraz, e investe continuamente na renovação e expansão de sua frota, composta atualmente por 110 mil veículos, entre caminhões, cavalos mecânicos e carretas, além de máquinas e equipamentos. Boa parte dos investimentos está relacionada à sua agenda de digitalização e aperfeiçoamento de processos. No momento, a JSL desenvolve uma ferramenta própria para conectar 1,6 milhão de caminhoneiros autônomos a grandes indústrias, visando aumentar a eficiência dos transportadores.

A americana Penske, que adota a estratégia asset light (redução ao mínimo possível dos ativos físicos da companhia, como frota própria) tem igualmente a tecnologia como um dos seus principais pilares para ampliar a eficiência e conquistar novos clientes, afirma Paulo Sarti, diretor-presidente da filial brasileira. “Neste ano e nos próximos, veremos a aplicação crescente de ferramentas baseadas em inteligência artificial, que reduzirão tempo e custo das operações logísticas, gerando redução também na emissão de gases poluentes”, diz.

Elaine Inácio, da Brink’s Log: foco no segmento de luxo — Foto: Divulgação

A intenção, segundo Sarti, é detectar mais facilmente sinergias operacionais para melhorar o rendimento de cargas e deslocamentos, além de identificar com maior facilidade oportunidades para criar hubs de consolidação em pontos estratégicos. “No fim do ano passado, por exemplo, investimos R$ 3 milhões em um novo armazém multicliente, em Cajamar, na região metropolitana de São Paulo, para atrair pequenas e médias empresas”, conta.

A francesa FM Logistic, que está entre os principais operadores de logística e supply chain do mundo, anuncia investimentos em 2024 em torno de R$ 6 milhões para fortalecer sua atuação no mercado brasileiro. Os recursos serão direcionados para ampliar em 60% e 15% as áreas de armazenagem em Santa Catarina e São Paulo, respectivamente, informa Ronaldo Fernandes da Silva, presidente da subsidiária brasileira. “O incremento expressivo nos negócios é reflexo do dinamismo crescente das vendas multicanais [omnichannel] e da busca constante por soluções sustentáveis”, afirma. Em novembro de 2023, a empresa havia feito um desembolso de R$ 4,5 milhões para ampliar a capacidade do centro de distribuição da Anhanguera, em São Paulo, para armazenar produtos refrigerados. “Nossa projeção é crescer, em média, por ano, 25% no mercado brasileiro”, diz Silva.

O cenário econômico está mais favorável, avalia Djalma Vilela, presidente da Multilog, empresa com faturamento em torno de R$ 1,4 bilhão em 2023, que atua principalmente nas regiões Sul e Sudestes do país. A queda das taxas de juros e melhores preços das commodities e dos combustíveis alimentam a confiança, segundo Vilela, mas o uso da tecnologia de forma assertiva é o grande diferencial da companhia junto aos clientes. Neste primeiro semestre, diz, terão início as obras do novo porto seco de Foz do Iguaçu (PR), com investimentos totais de mais de R$ 500 milhões, o que deve gerar cerca de três mil empregos diretos e indiretos. Será uma unidade alfandegada com capacidade para aproximadamente mil caminhões estacionados. “Vamos intensificar o uso de tecnologia para ganhar eficiência, e isso se traduz em automação dos processos, no uso de inteligência artificial e plataforma de dados nas operações.”

Aprimoramento de áreas de armazenagem, captura de sinergia da malha de distribuição e compartilhamento mais intenso de estruturas operacionais são as estratégias adotadas pela alemã DHL Supply Chain para ganhar eficiência nas operações multicanal, informa Maurício Almeida, vice-presidente dos setores automotivo, tecnologia e consumo da representação brasileira. Em 2023, a empresa inaugurou um centro de distribuição dedicado a um grande varejista do setor esportivo na cidade mineira de Extrema, com investimento de R$ 70 milhões. E está construindo um campus logístico em Jundiaí (SP), que deve operar a partir de 2025. “Estamos planejando também a expansão de nossa frota de veículos elétricos e automação de processos logísticos com uso de soluções de inteligência artificial”, relata.

A diversificação de serviços em vários setores da economia é outra aposta das empresas do setor. Pioneira no transporte de valores e disputando um mercado de segurança privada avaliado em R$ 40 bilhões, a Brink’s Brasil reforça sua atuação nos segmentos farmacêutico e de luxo. No início do ano, adquiriu novos veículos, que contam com controle de temperatura, visando garantir transporte adequado para preservação da qualidade e integridade dos produtos, conta Elaine Inácio, superintendente da Brink’s Log. A empresa também está criando em São Paulo um novo espaço especialmente dedicado ao mercado de produtos de luxo. “O objetivo é entrelaçar a experiência de compra do cliente final com a logística, visando alcançar um serviço de entrega de alto padrão, caracterizado pela sofisticação e excelência que o segmento de luxo requer”, diz ela.

A G2L, operador logístico da Gerdau, maior empresa brasileira produtora de aço, ampliou o leque de soluções logísticas integradas e hoje atende a mais de 80 clientes de diversos setores, como siderurgia, construção, varejo, papel e celulose, agrícola e produtos refrigerados. Somente no último ano, segundo Marlos Tavares, CEO da G2L, foram transportados mais de 4,6 milhões de toneladas em suas operações multimodais, com a realização de 211 mil viagens. “Criamos uma solução digital que utiliza inteligência artificial para simplificar a relação entre embarcador e transportador”, conta Tavares.

Neste ano, a G2L concentra seus principais investimentos em três áreas-chave, segundo o executivo: o desenvolvimento de uma nova torre de controle, que aumenta a capacidade de monitoramento e gestão logística; o projeto visibilidade, que busca alcançar novos patamares em eficiência e resposta rápida às demandas do mercado; e a utilização da plataforma de contratação de frete Vector, parceria estratégica entre Gerdau e Bunge, que conecta embarcadores e transportadores, promovendo a colaboração e transparência na contratação de fretes.

A Localfrio, um dos mais tradicionais operadores logísticos, também diversificou suas operações, atendendo agora diferentes setores da economia. Mudou inclusive a marca, passando a se chamar Movecta, e projeta investimentos em torno de R$ 100 milhões nos próximos três anos. “A nova marca expressa a nossa proposta de valor de oferecer uma solução completa logística do porto à porta dos clientes”, explica Rodrigo Casado, CEO e presidente da Movecta.

A empresa vive um momento de forte expansão dos negócios, comenta o executivo. “Em 2020, a companhia faturou R$ 319 milhões. Para este ano, o faturamento projetado deve superar a marca de R$ 700 milhões. “Vamos mais que dobrar o tamanho da companhia, o que cria as condições para buscarmos a marca de R$ 1 bilhão de faturamento nos próximos ciclos”, diz Casado.

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