Setor diz que desativação de estruturas deve custar R$ 4,5 bilhões

Trabalho é complexo porque cada estrutura demanda um tipo de obra, afirma o Ibram

Por Vladimir Goitia — Para o Valor, de São Paulo


Lucas Kallas, da Cedro: “Não há necessidade da utilização de água no processo de beneficiamento quando a qualidade [do processo a seco] é melhor” — Foto: Divulgação

O Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) calcula que o processo de descaracterização (desativação) de barragens de rejeitos que nos últimos anos têm ficado nos holofotes por causa das tragédias de Mariana (2015) e Brumadinho (2019) devem ter um custo superior a US$ 4,5 bilhões. “Tratam-se de operações de grande complexidade técnica e de custos muito elevados”, explica Julio Nery, diretor de sustentabilidade do Ibram. Isso porque, de acordo com ele, cada barragem exige a necessidade de um determinado tipo projeto e de obra.

Dados mais recentes da Agência Nacional de Mineração (ANM) mostram que, de janeiro de 2019 até maio deste ano, as mineradoras que atuam no país conseguiram o descomissionamento (momento em que as atividades da estrutura se encerram e começo da transição para que se torne uma área estável) de 15 das 74 barragens construídas a montante (disposição de materiais em camadas alternadas com uso de rejeitos). Embora oito delas tenham saído do método a montante, outras seis acabaram sendo reenquadradas a esse tipo de modelo construtivo.

Assim, pelas contas do banco de dados do Sistema Integrado de Gestão de Barragens de Mineração (SIGBM), restam 57 barragens que ainda precisam ser descomissionadas. O Ibram informa que 18 se encontram em fase de elaboração do projeto executivo de descaracterização, outros 10 já estão com projeto pronto, mas as obras ainda não foram iniciadas, e 25 estão em fase de execução das intervenções previstas em projeto, com diferentes prazos de finalização. Outras quatro tiveram seus processos de descaracterização declarados como concluídos.

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A CSN Mineração, cujas barragens se encontram no Quadrilátero Ferrífero - região no centro-sul de Minas Gerais que responde pela maior produção de minério de ferro bruto do país -, informa que concluiu a descaracterização de duas de suas quatro barragens a montante. “Um detalhado cronograma vem sendo seguido pela companhia para a condução de seu programa de descaracterização de suas barragens”, explica Enéas Garcia Diniz, diretor superintendente da companhia. Segundo ele, a estrutura da empresa conhecida como B4 terá sua obra de descaracterização concluída até 2028, e outra (Casa de Pedra) começará as obras depois de concluída a B4.

“Trata-se de um tema prioritário para a CSN, primeira mineradora de grande porte a eliminar completamente a deposição de rejeitos em barragens”, afirma o executivo. De acordo com ele, a empresa investiu cerca de R$ 250 milhões para a descaracterização das duas primeiras estruturas, e outros R$ 300 milhões na construção de plantas de concentração magnética que realizam a extração de teor férrico presentes nos rejeitos depositados nas barragens, transformando esse material em produtos para serem comercializados no Brasil e no mercado externo.

“Além dos investimentos no processo de descaracterização das barragens em si, nos próximos anos estão previstos outros R$ 2 bilhões na construção de unidades de concentração magnética que irão permitir o reprocessamento dos rejeitos das barragens da CSN Mineração”, afirma Diniz. Segundo ele, a estratégia de crescimento da companhia está atrelada a projetos para aumentar a capacidade produtiva, em especial a da planta de beneficiamento em Congonhas (MG). Já os projetos de reprocessamento de rejeitos das barragens do Complexo Pires, B4 e Casa de Pedra, têm potencial de aumentar o volume de produção de 34 milhões de toneladas, em 2022, para 68 milhões de toneladas em 2027.

A Cedro Mineração, que iniciou suas atividades em 2018 com o beneficiamento de rejeitos de uma barragem desativada havia mais de 15 anos em Nova Lima (MG), permitindo a sua completa remoção, investiu mais de R$ 200 milhões nesse processo, que incluiu pesquisa e tecnologia, além de práticas sustentáveis. “Fomos uma das primeiras mineradoras do país a descaracterizar uma barragem”, afirma Lucas Kallas, presidente da companhia.

Segundo ele, parte desse investimento possibilitou a adoção de procedimentos para tratamento, filtragem e prensagem de rejeitos. “Isso permitiu que a mina do Gama, em Nova Lima, que produzia cerca de 1,3 milhão de toneladas por ano de minério de ferro, passasse a produzir 3,9 milhões de toneladas”, diz.

O executivo afirma que a Cedro Mineração tem o princípio de não utilizar barragens de rejeito em seu processo de produção, buscando o máximo de sustentabilidade possível. A expectativa da empresa, cuja capacidade de produção hoje é de cerca de 6 milhões de toneladas/ano, é atingir 20 milhões de toneladas/ano de minério de ferro a partir de 2026 com a operação em outras quatro novas áreas, todas em Minas Gerais.

Kallas informa que esses projetos, desde a sua concepção, não preveem uso de barragens. “O beneficiamento a seco é utilizado de acordo com a qualidade da jazida. Ou seja, não há necessidade da utilização de água no processo de beneficiamento quando a qualidade é melhor”, explica o presidente da empresa. Após o licenciamento e implantação das novas operações, a produção anual deve colocar a Cedro entre as cinco maiores mineradoras do país, sendo a primeira com capital 100% nacional.

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