Usinas hidrelétricas obsoletas são páginas viradas nos planos estratégicos das operadoras brasileiras. Programas de modernização das unidades geradoras de energia são cada vez mais intensos, envolvem fábulas de recursos financeiros e de pessoal especializado, e visam, basicamente, tornar as hidrelétricas mais eficientes, mais produtivas e até mesmo aumentar a produção energética no país.
A hidrelétrica de Itaipu, construída em Foz do Iguaçu (PR) em associação com o Paraguai há quase 50 anos, por exemplo, executa desde 2022 um vasto plano de atualização tecnológica, que vai consumir R$ 666 milhões ao longo dos próximos 14 anos. Inclui a substituição de todos os cabos de força e controle, a construção de centros de sistemas de controle das unidades geradoras e modernização da subestação da margem direita, que conecta Itaipu ao sistema elétrico paraguaio e transmite parte da energia para o Brasil.
“Não é apenas uma alternativa, mas uma necessidade tecnológica que trará também benefícios à operação da usina, permitindo manter a excelência no desempenho da central hidrelétrica”, diz Renata de Biasi Ribeiro Tufaile, gerente-executiva do projeto.
Nas usinas Jupiá e Ilha Solteira -ambas na divisa São Paulo-Mato Grosso do Sul -, sob concessão do grupo chinês CTG, o projeto de modernização teve início em 2017. Contempla instalação, substituição e reforma de 34 unidades geradoras, construção de um novo centro de operação da geração de energia, e deve consumir investimentos em torno de R$ 3 bilhões, informa Cesar Teodoro, diretor de engenharia da subsidiária brasileira. Os benefícios já são palpáveis. “Com 1.551,2 MW de capacidade instalada, a usina Jupiá registrou ganho de eficiência nos geradores de 18,3 MW médios”, diz.
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Todas as usinas da AES Brasil, subsidiária da americana AES Corporation, também já passaram por, pelo menos, um ciclo de atualizações tecnológicas, de acordo com Sérgio Silva, diretor de operações de geração. O projeto prevê a substituição de equipamentos, uso de novas tecnologias nas usinas de Barra Bonita, Bariri e Promissão (SP). Os investimentos somam R$ 36,5 milhões em 2023.
A modernização das usinas hidrelétricas brasileiras é uma atração do ponto de vista técnico e econômico, e o momento é oportuno para esses empreendimentos, de acordo com estudos da Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Um levantamento feito pela EPE com um conjunto de 51 usinas com capacidade instalada total de 50 GW, construídas há mais de 25 anos, mostram que as ações de modernização e de repotenciação (melhoria da capacidade produtiva do equipamento) tornam possíveis ganhos de energia no sistema de 520 MW médios.
A Spic Brasil, subsidiária da companhia chinesa State Power Investment Corporation Limited, caminha nessa direção, segundo informa Adriana Waltrick, CEO da empresa, que opera a Usina Hidrelétrica São Simão, na divisa de Minas Gerais e Goiás. A modernização de São Simão começou em 2020 e prevê a digitalização e atualização de todas as unidades geradoras e sistemas auxiliares da usina, inaugurada em 1978.
O investimento deve ultrapassar R$ 1 bilhão até 2029. A expectativa da empresa é que as ações resultem no aumento de confiabilidade e da segurança no fornecimento de energia ao Sistema Interligado Nacional (SIN), um total de 1.700 megawatts em seis turbinas. “Há ainda a possibilidade de aumentarmos a produção de energia em São Simão, com obras de repotenciação”, diz ela.
Maior companhia do setor elétrico do país, a Eletrobras, recentemente privatizada, executa um robusto programa de modernização e atualização tecnológica em diversas usinas. Nos últimos dois anos foram aplicados recursos da ordem de R$ 1,1 bilhão, em aquisições de equipamentos para modernização e digitalização de hidrelétricas, entre as quais as de Paulo Afonso IV, Sobradinho (ambas na Bahia), Tucuruí (PA) e Porto Colômbia (divisa MG-SP). Mas a empresa pretende aumentar significativamente o seu volume de investimentos, sendo R$ 6 bilhões em reforços e melhorias de transmissão e mais R$ 3 bilhões pra conclusão da obra de transmissão em andamento, a Transnorte Energia.
A modernização de hidrelétricas representa, além de tudo, boas oportunidades de negócios para os fabricantes de sistemas e de equipamentos para o setor elétrico brasileiro. “É um mercado promissor para as soluções que desenvolvemos em nossa fábrica em Taubaté (SP)”, comenta Cláudio Treiger, CEO da divisão hydro da GE Renewable Energy na América Latina, presente atualmente em mais de 40% dos grandes projetos hidrelétricos do Brasil. No momento, a empresa participa de projetos de modernização nas usinas São Simão, da Spic, Jupiá e Ilha Solteira, da CTG Brasil.