Companhias adotam áreas de preservação

Reservas protegem remanescentes de matas, fauna nativa e mananciais de água

Por Eliane Sobral — De São Paulo


A reserva Legado das Águas, do Grupo Votorantim; 70 espécies de mamíferos, 296 de aves, 67 de répteis e 723 de plantas já foram catalogadas no local — Foto: Divulgação

Dos 1.700 empregados da AkzoNobel no Brasil, 700 trabalham no paraíso: a Reserva Coral Tangará, uma área de 70 hectares de Mata Atlântica em Mauá, na Grande São Paulo. Enquanto eles produzem tintas e vernizes, 102 espécies de aves, 16 de répteis e anfíbios e 6 de mamíferos passeiam pela área. O projeto de conservação da floresta existe desde 2007, quando a empresa começou a substituir eucaliptos por vegetação nativa - são 162 espécies, três delas ameaçadas de extinção. A empresa já investiu R$ 2,4 milhões nos últimos dez anos no projeto. Toda água consumida pela fábrica, que é a maior unidade da companhia na América Latina, vem de lá. Só em água de reúso, são 43,9 milhões de litros por ano.

“Além de manter o ciclo hídrico e melhorar a qualidade da água, investir na preservação de florestas traz benefícios intangíveis”, diz Daniel Campos, CEO da AKzoNobel para a América Latina. “Estamos em Mauá, fabricamos tinta, lidamos com produtos químicos, mas não temos qualquer problema com o entorno da fábrica, porque quem mora aqui reconhece a reserva como um pulmão em meio a um dos polos industriais mais intensivos do país na geração dos gases do efeito estufa”, afirma.

O grupo Votorantim fez de áreas de vegetação nativa preservada ou recuperada uma unidade de negócios. O Reservas Votorantim mantém duas grandes áreas de preservação: o Legado Verdes Cerrado, com 32 mil ha em Goiás, e o Legado das Águas, no Vale do Ribeira (SP), a maior reserva privada de Mata Atlântica do Brasil - seus 31 mil ha equivalem à cidade de Belo Horizonte. Ali já foram catalogadas 70 espécies de mamíferos, 296 de aves, 67 de répteis e 723 de plantas. Só de orquídeas, são 233 variedades. Dentre as 322 espécies de borboletas, há uma que não era vista desde 1920, diz David Canassa, diretor-executivo da Reservas Votorantim.

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O local abriga ainda duas antas albinas, espécies raras que viraram case internacional. A fauna catalogada representa 13,5% de todas as espécies de animais ameaçadas pertencentes ao bioma Mata Atlântica, segundo Canassa. Ele não cita números, mas informa que a Reservas Votorantim tem três importantes fontes de receita: turismo, reflorestamento e paisagismo natural. “Estamos a 30% de chegar ao breakeven.” Segundo ele, os investimentos na criação da empresa e na manutenção das reservas somam cerca de R$ 15 milhões.

“Há uma série de benefícios nesses investimentos, desde a preservação ambiental até o desenvolvimento de novas linhas de negócios”, completa. Entre as pesquisas desenvolvidas nas duas áreas estão a identificação de anfíbios e répteis, em parceria com o Instituto Butantan, e o Programa Saúde Única (PSU), parceria que envolve ainda a Faculdade de Medicina do ABC e a Universidade Santo Amaro.

Beatriz Milliet, gerente executiva de sustentabilidade da Copersucar, lembra que florestas contribuem para a preservação da espécie humana. “Além do equilíbrio da natureza, de proteger os mananciais, é o tipo de ação que evita que pragas se espalhem”, diz. Em 1998 - antes da criação do novo Código Florestal, em 2012 -, a empresa obteve licença para agregar à sua propriedade uma área de pasto degradada, que foi regenerada com o plantio de mais de 740 mil mudas de árvores e que deu origem a cerca de 500 hectares de preservação ambiental, onde professores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) já catalogaram mais de 80 espécies de árvores e 260 de animais, algumas em risco de extinção como a onça-parda, o tamanduá-bandeira e o jacaré-de- papo-amarelo.

Além do equilíbrio da natureza, é o tipo de ação que evita que pragas se espalhem”
— Beatriz Milliet

A preservação também é crucial para a manutenção de negócios que consomem água. Segundo a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), a demanda por água no Brasil vai crescer 24% até 2030. Para o head de sustentabilidade Brasil e Cone Sul da Coca-Cola América Latina, Rodrigo Brito, um dos principais benefícios do programa de conversação e reflorestamento mantido pela companhia é a proteção hídrica, já que a água é a principal matéria-prima da empresa. A companhia não tem áreas próprias de preservação, mas mantém parcerias com governos e instituições como o Instituto Cerrados, fundado em 2011 pelo geólogo e doutor em ciências florestais Yuri Salmona.

“Muito se fala em Amazônia, mas não se pode esquecer do Cerrado, que abastece 8 das 12 bacias hidrográficas do país e que é o bioma mais desmatado do Brasil, com mais de 48% de desmatamento”, alerta Salmona. Segundo Brito, há de 106 mil a 107 mil hectares preservados sob o programa de conservação da Coca-Cola, com investimentos de R$ 6 milhões por ano. A meta é neutralizar o uso de água nas dez fábricas que a companhia tem no Brasil até 2030. “Não adianta captar em um lugar e compensar em outro. Estamos ampliando o programa de preservação para cada bacia hidrográfica onde temos operação”.

A GM também trabalha por meio de parcerias e hoje subsidia a preservação de quase 25 mil hectares. Segundo Fábio Rua, vice-presidente de comunicação, relações governamentais e ESG da GM América do Sul, apenas no litoral paranaense são preservados 9.000 hectares de uma área onde antes havia uma fazenda de criação de búfalos. O programa já demandou cerca de US$ 10 milhões desde 1999.

Já AstraZeneca anunciou no início de julho um investimento de R$ 350 milhões em restauração florestal da Mata Atlântica. Em parceria com a Biofílica Ambipar e o Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), a meta é plantar 12 milhões de árvores em mais de 6.000 hectares. Em 2022, afirma o diretor geral da farmacêutica no Brasil, Olavo Correa, mais de 40 mil árvores foram plantadas em parceria com a Fundação SOS Mata Atlântica.

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