Robôs separam pedidos no centro de distribuição da Renner, fazem operações no Hospital Moinhos de Vento e integram os sistemas internos da Santos Brasil. No Porto de Santos, a inteligência artificial rastreia e prevê a chegada de navios a partir de dados de marés, ventos e posicionamento da embarcação. Em terra, sensores de fadiga “vigiam” motoristas e detectam possíveis sinais de cansaço. Outro sistema monitora, por questão de segurança, operadores dos guindastes, e alerta para desvios.
“Usamos também a IA para mapear movimentos de carga”, diz Antonio Carlos Duarte Sepúlveda, presidente da Santos Brasil. Só no terminal de contêineres de Santos, a empresa injetou R$ 450 milhões entre 2019 e 2021 na primeira fase da ampliação e modernização. Na segunda etapa, em andamento, serão mais R$ 540 milhões em pátio e compra de equipamentos, e na última, até 2031, mais R$ 600 milhões, incluindo oito guindastes operados remotamente.
A IA, já usada no atendimento ao consumidor, poderá ser estendida na Lupo a tarefas para integrar vendas ao ritmo de produção. Alguns projetos já saíram de parcerias com startups, caso do checkout móvel em pontos de venda e a Fast Lupo, plataforma de logística para otimizar a distribuição de produtos para os pontos físicos e para os compradores on-line. A companhia também investe em tendências da cultura pop. “Ser moderna e competitiva, acompanhar tendências”, eis a receita de Liliana Aufiero, presidente e neta do fundador, Henrique Lupo.
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A Natura, em parceria com o Laboratório Nacional de Biociências (LNBio), parte do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), desenvolveu, com tecnologia “human-on-a-chip”, metodologia para simular, in vitro, o funcionamento do organismo humano com órgãos como pele 3D bioimpressa. “Essa metodologia tem o potencial de alavancar o uso de novos ingredientes em cosméticos, principalmente aqueles provenientes da biodiversidade amazônica”, afirma João Paulo Ferreira, presidente da Natura Cosméticos e da Natura &Co América Latina. E sem usar animais em testes, prática abolida na Natura desde 2006.
Com tecnologia e maquinário com piloto automático, a Usina São Manoel sistematizou canavial, otimizou espaço de cultivo, diminuiu curvas feitas pelo equipamento - com economia de 4 mil horas - e elevou em 9,1% a produtividade da safra 2022/23, para 77,8 toneladas de cana por hectare. A previsão é chegar a 83 ton/ha. “O desafio do agronegócio é se modernizar do ponto de vista das práticas de gestão”, afirma Pedro Dinucci, presidente do conselho da usina. Nos últimos anos a empresa tem feito uma transformação interna, focada em inovação, eficiência, RH e finanças.
Além de robôs, a Renner investe em soluções tecnológicas como o 3D para criação de coleções, que reduz tempo e desperdício de matérias-primas. Etiquetas inteligentes transmitem dados e melhoram a gestão de estoques, e nas lojas há pagamentos por smartphone e autoatendimento. “Entendemos a inovação como uma abordagem transversal, presente em todas as áreas e unidades de negócios”, diz o presidente, Fabio Adegas Faccio.
A revolução digital vai tornar a saúde menos centrada em hospitais, diz o economista Mohamed Fayed Parrini Mutlaq, presidente executivo do Hospital Moinhos de Vento, quem tem a meta de tratar 40% dos pacientes fora do hospital. Já da porta para dentro, muita tecnologia. Só em 2022, o hospital fez 809 cirurgias robóticas, com dois procedimentos inéditos na América Latina: o uso de robô para biópsia de lesão cerebral e uma neurocirurgia de implante de parafusos para, assim, estabilizar vértebras da coluna lombar. Com essas ferramentas, o Moinhos cumpre uma prioridade, a de reter pacientes e evitar, assim, a transferência a outros centros no Brasil ou exterior.
A Intelbras, acostumada ao desenvolvimento de produtos - foram 481 em 2022 -, fez parceria com a americana Qualcomm que lhe permitiu entrar no seleto grupo de oito fábricas no mundo licenciadas para uso de uma tecnologia capaz de facilitar a comunicação em regiões remotas. O equipamento leva velocidade de internet de banda larga para locais onde o acesso é precário. A empresa reforçou também as áreas de segurança e energia. “Cada um desses segmentos passou a ser gerido por uma superintendência”, diz Altair Silvestri, presidente da Intelbras.
Energia vem em expansão por questões até socioambientais - um milhão de pessoas da Amazônia Legal não têm energia elétrica. Por meio do programa Mais Luz para a Amazônia, do governo federal, e da concessionária Energisa, a Intelbras desenvolveu um projeto de energia solar com equipamentos autônomos. As instalações são feitas por um parceiro, encarregado da manutenção por quatro anos. Em 2022, 1.368 unidades consumidoras foram atendidas.
Ainda nesse ramo, a CPFL Energia trabalha para implantar a medição inteligente de consumo na rede, hoje feita via coleta manual. O sistema seria composto de medidores com capacidade de enviar os dados diretamente à CPFL. Falta só combinar com o regulador, a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica). “Precisamos entender como a autoridade regulatória enxerga esse investimento adicional, estimado em R$ 8 bilhões”, diz o presidente, Gustavo Estrella. O investimento anual regular da CPFL está na casa de R$ 5 bilhões. As melhorias devem ser consideradas pela Aneel para determinar reajustes tarifários. Um piloto em Jaguariúna (SP) avalia como a rede autônoma funcionaria na prática.