Adoção de princípios ESG pode impulsionar sucesso de startups

Estudo do World Economic Forum aponta que 7 em cada 10 novos negócios definem políticas ambientais, sociais e de governança antes mesmo de terem produto viável. No Brasil, empreendedores contam como a adoção de princípios ajuda no bom desempenho da empresa

Por Santander


Startups estão integrando princípios do ESG em sua estratégia de negócios desde o início das operações, segundo estudo do World Economic Forum Getty Images

As startups de hoje são as gigantes de amanhã. Para confirmar essa máxima cunhada por economistas e fundos de investimento, os novos negócios precisam definir estratégias que atendam às demandas atuais da economia global. Isso significa que não podem ficar fora das discussões que exigem uma visão clara e efetiva nas questões que envolvam os aspectos ambiental, social e de governança de suas operações, e que formam os princípios norteadores do conceito ESG.

Estudo realizado neste ano pelo World Economic Forum com startups de cinco continentes aponta que os empreendedores já têm consciência dessa necessidade. A maioria dos entrevistados (68%) integrou o ESG em sua estratégia de negócios desde o início, antes mesmo de ter um produto viável ou espaço de escritório. Chama a atenção no estudo o fato de que um número significativo de empresas tinha essas considerações em mente desde a sua concepção.

As startups brasileiras seguem essa tendência. A Trocafone, empresa especializada na venda e compra de celulares seminovos, por exemplo, foi criada com o objetivo de ajudar a promover a inclusão digital, permitindo um acesso maior a aparelhos mais modernos a um custo menor. Esse propósito segue sendo a missão da companhia, que hoje tem parceria com grandes fornecedores como Samsung, Vivo, Claro, Magazine Luiza, e está presente em quatro estados (São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Bahia).

Guillermo Freire (à esquerda) e Guillermo Arslanian, fundadores da empresa: “Desde o início da operação, fazemos a logística reversa de nossos resíduos eletrônicos, o que garante a destinação correta do nosso excedente e promove a inclusão digital por meio de projetos sociais e outros parceiros”, conta Freire. (Foto: Divulgação) — Foto: Divulgação

“Uma preocupação era o impacto ambiental que o negócio poderia ter, trazendo conceitos do recomércio para diminuir a circulação de produtos eletrônicos e oferecendo a possibilidade de reduzir a produção de lixo eletrônico. Desde o início da operação, fazemos a logística reversa de nossos resíduos eletrônicos, o que garante a destinação correta do nosso excedente e promove a inclusão digital por meio de projetos sociais e outros parceiros”, conta Guillermo Freire, um dos fundadores da empresa.

O empresário explica que a meta é criar um negócio de triplo impacto, ou seja, uma atividade econômica que gera impacto positivo em nível social e ambiental sem deixar de lado a rentabilidade financeira. Afinal, as necessidades e oportunidades são muitas. No Brasil, 42% das casas não possuem computador e 33% não têm acesso à internet. Dos 3,6 milhões de estudantes da rede estadual de São Paulo, apenas 60% têm notebooks e 30% têm tablets, de acordo com questionário socioeconômico do Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (SARESP) de 2019.

“Ter a possibilidade de contribuir para melhorar este cenário nos anima muito. Atualmente, já comercializamos mais de 1,5 milhão de unidades e a cada depoimento de clientes que recebemos contando como sua vida foi impactada a partir do acesso ao mundo digital ganhamos mais força para seguir com nosso propósito. Em pouco tempo criamos todo o ecossistema que permite atuar em todas as etapas do recomércio”, esclarece Guillermo Arslanian, co-fundador da Trocafone, juntamente com Freire.

Apoio a catadores

Quem também enxergou oportunidade em uma necessidade ambiental e social foi a Boomera. Fundada há 11 anos, a empresa nasceu com a finalidade de atuar na economia circular e achar soluções de engenharia de materiais para transformar o que era resíduo na indústria e no comércio em novos produtos.

Por conhecerem as necessidades de cooperativas de catadores de material reciclado, ainda desenvolveram o conceito ‘Ciência com Consciência’, em que, além de gerar produtos reciclados em alta escala, também criaram um método para ampliar o trabalho de coleta, triagem e venda de sucatas recicláveis. “Com essa estratégia, conseguimos o aumento de renda dos cooperados e uma qualidade das sucatas muito maior, o que ajuda na reciclagem”, afirma Guilherme Brammer, fundador e CEO da empresa.

Com clientes como Natura, Adidas e P&G, a Boomera tem certeza de que o posicionamento ESG tem ajudado muito nos negócios. E não apenas porque as grandes empresas estão sendo pressionadas a atender às práticas ambientais, sociais e de governança. “Está cada vez mais claro que fundos e investidores querem colocar seu capital em negócios que darão o retorno esperado, mas com práticas ESG acontecendo de verdade. O dinheiro está mudando de mão literalmente, os fundos inclusive estão declarando, em compromissos globais, o seu posicionamento de focar empresas que praticam ESG no seu dia a dia”, diz Brammer.

Além de transformar o que era resíduo na indústria e no comércio em novos produtos, a Boomera também investe em alternativas para aumentar de renda dos catadores cooperados com a venda de sucatas. — Foto: Divulgação

Roda de investimento

A foodtech de leite de aveia Nude sabe que o interesse em ESG é real entre investidores. Em janeiro deste ano, a empresa levantou R$ 25 milhões em uma rodada de captação da Série A. O investimento foi liderado pela VOX Capital, uma das principais gestoras de investimento de impacto do Brasil, para ajudar a marca, lançada em 2020, a ganhar escala e aumentar seu portfólio.

“Até aqui, temos a certeza de que a nossa missão de ajudar os consumidores na transição para uma economia de baixo carbono deve se fortalecer, ainda mais, dentro do movimento global para mitigação das mudanças climáticas”, afirma Giovanna Appel, fundadora e CEO da Nude. Para atender esse compromisso, a Nude tem uma área dedicada à sustentabilidade desde o primeiro dia. “A responsável foi nossa segunda contratação”, lembra Giovanna. Atualmente há uma diretoria dedicada ao tema e também um Comitê de Sustentabilidade, para garantir que o tripé ESG permeie todas as decisões da empresa.

Giovanna Appel, fundadora e CEO da Nude: startup tem uma área dedicada à sustentabilidade desde o primeiro dia. “A responsável foi nossa segunda contratação”, lembra. — Foto: Divulgação

Impactos

Além da busca pela viabilidade dos serviços e produtos, as startups também estão atentas para medir os impactos de sua operação. Inclusive para comunicar esses números para clientes, analistas, investidores, fornecedores, colaboradores e parceiros de negócio cada vez mais interessados em se relacionar prioritariamente com marcas que trabalhem tendo os princípios do ESG como guia.

“Ao longo da nossa história comercializamos mais de 1,5 milhão de aparelhos eletrônicos. Em outras palavras, são 1,5 milhão de aparelhos que voltaram para o mercado, evitando a extração de matérias-primas como ouro, prata, alumínio, entre outras, como o estanho e o coltan, cuja mineração está devastando florestas, contaminando a água e o solo, envolvendo trabalhadores em sérios riscos e até mesmo sendo causa de conflitos”, conta Guillermo Freire, da Trocafone.

Pelos cálculos da startup, desde que surgiu, a empresa evitou a extração de 12 toneladas de cobalto, para citar apenas um exemplo, além de ter promovido o descarte correto de 17 toneladas de resíduos eletrônicos. “Esses números chamam a atenção não só de investidores, mas também da sociedade como um todo, que está mais informada em relação a esses conceitos e exige um posicionamento das marcas com as quais se relaciona”, avalia.

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