Desde que o urânio foi adicionado no século XIX à tabela periódica, apenas elementos sintéticos bem instáveis ou fugazes, obtidos artificialmente em poderosos colisores de prótons, são novidade de fato nesse ramo. Mas o uso da química está longe de ser considerado apenas inovação incremental, uma vez que aplicações absolutamente pioneiras têm garantido a essa indústria de transformação um papel relevante na recombinação de elementos químicos em benefício da humanidade, como as ligas de silício e de ouro na eletrônica, as cerâmicas de alta performance ou fármacos para novas vacinas.
Tanto que a líder de inovação do setor químico no Brasil, a subsidiária da norte-americana 3M, é um exemplo de oferta de derivados de uma ampla gama em produtos químicos e seus sofisticados sistemas de aplicação de largo uso tanto em corporações como em lares. No momento, os laboratórios brasileiros do departamento de pesquisa e desenvolvimento (P&D) da companhia participam de projetos interativos globais de inovação em várias frentes multidisciplinares.
Junto com times dos Estados Unidos e da Inglaterra, desenvolvem, por exemplo, uma nova rota tecnológica para dispersantes (redutores de tensão superficial entre óleo e água auxiliando a diluição do óleo na água). “Os resultados iniciais são positivos, com expectativa de geração de propriedade intelectual e ampliação do nosso portfólio”, adianta Paulo Gandolfi, diretor de operações de pesquisa, desenvolvimento e inovação da 3M para a América Latina.
Outra frente em que os laboratórios brasileiros da 3M se empenham no time global é a de alternativas às embalagens plásticas convencionais. “A prototipagem está sendo realizada aqui no Brasil e em nossas plantas-piloto e, no segundo semestre, testes complementares serão feitos nos Estados Unidos”, acrescenta Gandolfi.
Globalmente, o foco de P&D da 3M envolve um sem-número de tecnologias de automação para aplicação de seus produtos na forma de soluções completas, garantindo elevação da produtividade ao cliente, como a do sistema robótico de reparo em pintura nas linhas do setor automobilístico ou para eficiência energética com um filme multicamadas de resfriamento por radiação passiva, que garante o gerenciamento térmico 24 horas por dia com economia de até 20% de energia nos sistemas de aquecimento, ventilação ou climatização no cliente.
Segundo Gandolfi, o lançamento mais recente no Brasil é o da tecnologia embarcada no sistema de fechamento de caixas com inspeção das etapas da operação, monitoramento de consumo de fitas adesivas, geolocalização e controle do tempo de uso do equipamento, assim como o da necessidade de manutenção preventiva. “Essa solução foi desenvolvida no Brasil no conceito 4.0 e é pioneira entre as soluções 3M globais no quesito de inovação aberta, com a nossa parceria com duas startups”, explica o executivo.
Os investimentos em P&D da 3M alcançaram a fatia de 5,2% da receita global em 2022, mas já foram de 5,8% do faturamento em 2020. A 3M tem um fórum global interno, com cerca de dez mil membros entre seus pesquisadores, que trocam diuturnamente ideias e notas com colegas dentro das 51 plataformas tecnológicas da companhia.
Segunda colocada no ranking setorial, a subsidiária da alemã Basf contou com um orçamento global de 2,3 bilhões de euros em 2022. A empresa patenteou 1.013 formulações, sendo 40% delas com foco em sustentabilidade, principalmente as voltadas para a reciclagem mecânica de plásticos (B-Cycle). “Até 2025 pretendemos processar 250 mil toneladas de matérias-primas circulares globalmente”, revela Rony Sato, gerente de tecnologia e inovação da Basf Brasil.
A meta global da gigante química é um faturamento de 17 bilhões de euros até 2030 nas soluções para a economia circular, concentrada em três áreas de atuação: matérias-primas circulares, novos ciclos de materiais e novos modelos de negócios. “Todos precisamos de repostas para problemas como mudanças climáticas, escassez de recursos e lixo marinho, e as inovações baseadas em química são fundamentais para essas respostas”, comenta Sato.
Ele coordena a plataforma de inovação AgroStart, desenvolvida no Brasil e adotada mundialmente pela companhia. É um ecossistema, lançado em 2016, de criação de soluções digitais para desafios reais do agronegócio. As primeiras parceiras desse ecossistema global da Basf foram a Bosch e a Samsung, que contribuíram para impulsionar as agritechs. Regionalmente, desde a sua criação, a plataforma AgroStart já interagiu com mais de 600 startups, envolvendo grupos multidisciplinares de 170 colaboradores da divisão de soluções para agricultura da Basf para a América Latina. A expansão global desse sistema começou pela América do Norte e deve alcançar os mercados da Basf na Europa e Ásia nos próximos anos.
No Brasil, o destaque na inovação fica por conta do investimento da empresa nas sementes de algodão, também liderada pela divisão de soluções para a agricultura, que responde pela maior fatia do faturamento da companhia no país. A Basf detém a liderança em sementes de algodão geneticamente modificadas no Brasil, onde é parceira do programa SouABR (algodão brasileiro sustentável).
A empresa investe cerca de 950 milhões de euros em novas tecnologias para sementes, defensivos agrícolas e ferramentas digitais. Duas estações de pesquisas globais que a Basf mantém no Brasil para essa área receberam aportes recentemente: a primeira em Santo Antônio de Posse (SP), que ganhou 7,6 milhões de euros para novos equipamentos, e a segunda em Trindade (GO), que recebeu pouco mais de 11 milhões de euros para pesquisas com soja e algodão.
A Oxiteno, desde sua incorporação pela tailandesa Indorama Ventures, em abril de 2022, passou a coordenar a área de inovação global da companhia em sinergia com os Estados Unidos, onde se encontra o maior laboratório de P&D da divisão IOD da Indorama, e com México, Índia, China, Austrália e Bélgica. “Toda a coordenação global dos projetos é feita a partir do Brasil, graças ao seu contínuo investimento em pessoas e infraestrutura local”, explica Andrea Soares, vice-presidente de negócios, marketing e inovação da Oxiteno.
De fato, a Oxiteno, mesmo fora do core business do grupo Ultra, sempre teve prioridade nas definições de investimentos e atualização tecnológica petroquímica. Agora, a rota biotecnológica é um dos focos globais do grupo petroquímico tailandês, que prioriza o desenvolvimento de soluções sustentáveis, tanto que foi reconhecido mundialmente pelo lançamento de um solvente (Alkest LV 1400) verde e biodegradável, a partir de matérias-primas vegetais, que recebeu em 2022 o prêmio Kurt Politzer de Tecnologia.
A inovação mais recente posta no mercado pela divisão IOD da Indorama, onde atua a Oxiteno, é um “modificador” de alto desempenho que promove o espessamento de formulações aquosas à base de surfactantes. Graças à sua versatilidade, tem largo uso em produtos de consumo de uso doméstico e higiene pessoal, sobretudo cosméticos. “Um dos principais pilares da nossa cultura é a inovação aberta, por isso temos muitas parcerias com startups no Brasil, e hoje o conceito está conectado à sustentabilidade na nossa plataforma bio”, diz Andrea Soares.
Na subsidiária brasileira da norte-americana Dow Chemical, inovação e sustentabilidade são indissociáveis. De acordo com Marcelo Cantu, diretor de desenvolvimento da área de embalagens e especialidades plásticas da Dow para a América Latina, o foco da companhia é o desenvolvimento de materiais mais seguros e amigos do meio ambiente listados na agenda ESG global da Dow.
Em 2022, a empresa lançou no mercado brasileiro um filme plástico termoencolhível (conhecido como shrink), desenvolvido em parceria com a cliente brasileira de filmes plásticos, a Lord, para uso da Heineken e da Cargill em suas embalagens de pacotes de cerveja e óleo de cozinha, respectivamente. Esse plástico é derivado de uma resina de polietileno produzida a partir de plástico reciclado, obtida pela parceria da Dow com a Boomera LAR, que desenvolveu formulação semelhante às produzidas a partir de resinas 100% virgens. “Estamos respondendo às necessidades de circularidade dos materiais e de resíduos, reduzindo a pegada de carbono e o consumo de água”, comenta Cantu.
A alemã Messer, de gases industriais e medicinais, está trabalhando no Brasil no aprimoramento e futuro lançamento de um equipamento que promove a recuperação de solventes utilizados em processos diretos na linha de produção de seus clientes. O equipamento é capaz de absorver nuvens de solventes liberadas em processos de terceiros e condensá-las com a utilização de nitrogênio líquido. Ao lançar comercialmente essa solução, a vantagem para a Messer será a venda do nitrogênio resultante desse processo, explica Claudio Santana, líder de produtividade e inovação da Messer Brasil. “Destacamos nossa parceria e patrocínio com a aceleradora de startups Onovolab, onde possuímos espaço físico no Campus de São Carlos”, diz Scott Latta, presidente da Messer no Brasil.
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