Valor Inovação: O top 5 em educação

Afya Educacional, Yduqs, Ânima Educação, Cruzeiro do Sul Educacional e Cogna Educação são os destaques do setor no anuário Valor Inovação Brasil 2023

Por Fatima Fonseca, para o Valor


O setor de educação foi um dos mais atingidos pelas restrições impostas pelo isolamento social durante a pandemia de covid-19. Instituições focadas no ensino presencial tiveram que rapidamente se adaptar ao ensino a distância (EAD), migrando para ambientes digitais. Até aquelas que já trabalhavam com EAD foram de algum modo afetadas. Ao mesmo tempo que novos alunos buscavam essas instituições, parte dos antigos estudantes deixou os cursos em função de queda na renda.

Para superar os desafios impostos pela pandemia e crescer em um cenário incerto, grandes instituições educacionais intensificaram os investimentos em inovação, impulsionadas pela transformação digital. Na média, essas companhias aplicam 5% de suas receitas para melhorar a qualidade do ensino. Também recorrem a startups, seja por aquisições estratégicas, com um sistema aberto de inovação, ou por meio de incubadoras e aceleradoras para spin-offs.

A Afya, que mantém um ecossistema de educação em saúde e healthtechs (startups de saúde), adquiriu 11 empresas no período entre 2020 e 2022, três delas no ano passado (Glic, Além da Medicina e Cardiopapers). Em junho deste ano, anunciou sua entrada no setor de venture capital, com investimento na startup Lean Saúde, uma healthtech que possui uma plataforma baseada em ciência de dados para criar valor para a gestão de saúde corporativa.

O CFO da empresa, Luís André Carpintero Blanco, conta que esse hub com 11 aquisições provê um portfólio completo de serviços digitais para o médico. Muitas das startups, entretanto, estão na fase inicial, o que levou o grupo a adotar o CVC (corporate venture capital) para melhorar a conexão dos médicos com a indústria. Com essa nova frente, a Afya busca a consolidação no segmento digital e o aumento de sua participação no mercado de serviços digitais. O diretor de inovação da Afya, Bruno Scolari, acrescenta que o CVC é uma iniciativa complementar ao M&A (fusões e aquisições). “A diferença é que aquisição foca no curto prazo, no core business da empresa e em soluções para os médicos, enquanto o CVC busca soluções para médio e longo prazos.”

De acordo com o CFO, a Afya já fornece serviços para 295 mil usuários por mês, entre médicos e estudantes. Entre as aplicações, Blanco cita a Whitebook, app com conteúdo de diferentes especialidades que ajuda os médicos no diagnóstico e na conduta adequada, suportada por protocolos científicos, e a solução iClinic, plataforma que começa com agendamento da consulta, passa pelo prontuário eletrônico até a prescrição eletrônica por um link de WhatsApp, conectado a um marktplace de medicamentos, com mais de 15 mil farmácias no Brasil.

Em 2021, o comitê de inovação da Afya decidiu investir também no empreendedorismo, movimento que ganhou força no ano passado, com um convênio com a instituição indiana sem fins lucrativos Wadhwani Foundation, para disponibilizar conteúdo de empreendedorismo tanto para o médico como para os professores. Além disso, tem disciplina interna de inovação aberta que busca entender os desafios da empresa, sejam de ganho de eficiência para redução de custo ou do core business para levar melhor experiência para a sala de aula nas 32 instituições de ensino superior do grupo.

Laboratório de anatomia em realidade virtual da Afya, que também tem disciplina interna de inovação aberta para entender seus desafios — Foto: Divulgação

Na Yduqs, o ciclo 2019-2022 foi especialmente marcante para o processo de transformação digital, segundo Marina Fontoura, vice-presidente de growth e inovação. “Em 2022, essa rubrica de tecnologia e transformação digital atingiu a marca de R$ 250 milhões, que representou 5,5% da receita líquida do período”, informa. A plataforma de ensino da Yduqs usa dados e inteligência artificial (IA) para promover a inovação acadêmica e dar suporte a professores e alunos.

A incubadora e aceleradora para startups internas da Yduqs adota o sistema aberto de inovação, o Yduqs Labs, e foca em aquisições estratégicas. A EnsineMe, por exemplo, é uma edtech que surgiu do trabalho com ensino digital. Cria metodologias, conteúdo, plataformas e tecnologias específicas de educação para todas as instituições do grupo, que hoje têm cerca de 1,3 milhão de alunos. “O Yduqs Labs reúne hoje dezenas de parceiros em todo o país, que se valem da nossa escala para acelerar o desenvolvimento de produtos e de seus próprios negócios. Gostamos de mentes criativas crescendo conosco”, comenta a executiva.

Entre as marcas de referência do grupo estão o Ibmec – todos os campi têm um hub próprio de inovação, que reúne startups com as quais os alunos interagem, trabalham e fortalecem sua preparação para o mercado – e o Idomed, que reúne 17 escolas de medicina da Yduqs. “A instituição é um celeiro de tecnologias e práticas de ensino avançadas, sendo pioneira em inovação na formação médica. As novas tecnologias exigem que os médicos tenham um olhar de 360° sobre a profissão. Desde o primeiro semestre nossos estudantes têm contato com um ecossistema phygital [físico e digital], que fortalece seu repertório, como laboratórios virtuais de simulação clínica, mesas de dissecação digital e óculos 3D para estudo de anatomia e técnica cirúrgica, além de uso de robôs para simulação e treinamento de procedimentos, bem como um ecossistema digital que acompanha a jornada do aluno do início ao fim do curso”, conta Fontoura.

Marina Fontoura, da Yduqs: R$ 250 milhões para tecnologia e transformação digital em 2022 — Foto: Divulgação

Na Ânima Educação, a transformação digital começou bem antes da pandemia de covid-19. Quando foi adotado o protocolo de emergência impondo o isolamento social, a instituição levou apenas cinco dias para colocar 145 mil alunos em salas virtuais, porque já tinha sistemas e treinamento para enfrentar o desafio. As inovações não pararam e, hoje, usa recursos de inteligência artificial, ChatGPT, realidade virtual (RV), entre outros.

“Acreditamos na educação de qualidade como meio para transformar o país, e a inovação e a tecnologia fazem isso acontecer”, comenta o CEO da Ânima, Marcelo Battistela Bueno. Muitas das inovações da corporação vieram por meio de fusões e aquisições – foram mais de 30 nos 20 anos da instituição. Uma das aquisições mais impactantes para a Ânima foi a compra de ativos da Laureate no Brasil, por ser complementar. “Uniu duas plataformas de educação, havia sinergias e nos permitiu cobrir mais de 75% do território nacional”, afirma Bueno. Hoje, a Ânima conta com mais de 400 mil estudantes, distribuídos em 18 instituições de ensino superior e em mais de 700 polos educacionais espalhados pelo Brasil.

Mas, do ponto de vista da disrupção, o principal movimento foi a criação da Inspirali, que atua na gestão de escolas médicas do ecossistema Ânima. Em parceria com a edtech MedRoom, a Inspirali levou a realidade virtual para o aprendizado, com a criação do modelo do corpo humano em 3D. Durante o processo de validação da solução, a startup foi incubada no Eretz.bio, centro de inovação e empreendedorismo do Hospital Albert Einstein. “Hoje, nosso foco é o desenvolvimento de soluções conectadas e integradas ao currículo acadêmico da Inspirali, a partir da visão da anatomia, passando por casos clínicos, usando IA e RV, no qual os alunos interagem com pacientes, fazendo perguntas e vivenciando o dia a dia”, destaca Guilherme Soarez, CEO da Inspiralli.

O uso de IA foi intensificado com a parceria anunciada neste ano com a edtech sul-coreana Riiid. As ferramentas geram algoritmos que permitem uma avaliação personalizada do aprendizado e ajustam o ensino de acordo com as necessidades do aluno. “A cada semestre, dez mil estudantes da Inspirali fazem um teste de progresso individual. Os resultados são submetidos a IA, que começa a testar como se fosse o tutor do aluno e recomenda suas reais necessidades”, diz Soarez.

Para desenvolver competências que promovam a inovação e o empreendedorismo, a Cruzeiro do Sul Educacional apoia startups e pequenos empreendedores, em ações com seus parceiros. O CEO Fabio Fossen cita como exemplos o EcoHub de inovação da Universidade Positivo e a parceria Braz Cubas-Sebrae para o desenvolvimento do perfil empreendedor da comunidade acadêmica.

A instituição também aproveitou a demanda por EAD no pós-pandemia e desenvolveu um novo modelo acadêmico nos cursos de nutrição, farmácia, arquitetura e urbanismo e engenharias. “O diferencial é a substituição das aulas presenciais por encontros síncronos. Do ponto de vista pedagógico, esse modelo propõe atividades experimentais, laboratoriais e profissionais de forma híbrida”, explica Fossen. O novo modelo veio com a nova geração de ambientes virtuais, plataformas de webconferências disruptivas e recursos tecnológicos à disposição dos professores, como laboratórios virtuais, simuladores de RV, objetos 3D e vídeos 360°. As experiências imersivas foram potencializadas com experimentos usando IA e machine learning.

Na Cogna Educação, a inovação acontece em quatro frentes, conforme Renate Giometti, head do Cogna Labs. “A Cogna acredita que, além do potencial de crescimento e eficiência que a agenda de inovação possa trazer, é prioridade a extração de valor através dos erros e acertos dentro desta jornada, traduzindo em aprendizados registrados. Nosso objetivo é manter um repositório vivo por avenida de crescimento, através de uma solução on-line, de todos os aprendizados vindos das frentes de corporate venture building, inovação aberta, parcerias e M&A”, diz.

O Cogna Labs é a grande novidade na instituição. Foi criado neste ano para ser a área corporativa de inovação da empresa. Cabe ao laboratório definir as novas avenidas de crescimento potencial. O trabalho começa com o time identificando e priorizando novas ideias/teses, com base nos critérios predefinidos pelo Cogna Labs, que levam em conta atratividade do mercado e sinergia de capacidades, entre outras. As ideias/teses pré-selecionadas são levadas ao comitê mensal Cogna Labs (com a presença do CEO e dos vice-presidentes) para decisão final de quais seguirão para as demais etapas do funil de inovação.

Destaques setoriais - Educação

  1. Afya Educacional
  2. Yduqs
  3. Ânima Educação
  4. Cruzeiro do Sul Educacional
  5. Cogna Educação

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