Valor Inovação: O top 5 em alimentos, bebidas e ingredientes

Nestlé Brasil, Ambev, Duas Rodas, BRF e Ingredion são os destaques do setor no anuário Valor Inovação Brasil 2023

Por Mônica Magnavita, para o Valor


O conceito de indústria 4.0, que abrange automação, inteligência artificial, digitalização, internet das coisas e ampliação da rede 5G, mudou o modelo de operação e portfólio de produtos lançados no setor de alimentos e bebidas. Na prática, investimentos em inovação e tecnologia realizados pelas companhias que mais se destacaram no segmento permitiram crescimento de produtividade, precisão nas informações entre linhas de produção, produtos mais saudáveis para o consumidor, com menor teor de sal e açúcar, e aumento da segurança alimentar e da qualidade. Na Nestlé, por exemplo, que novamente liderou o ranking do setor do anuário Valor Inovação Brasil, investimentos de R$ 120 milhões em hiperautomação inteligente na fábrica de Caçapava (SP) permitiram a fabricação de chocolates em linhas modulares, com produtos diversos e customizados, a partir do uso de tecnologia inédita no Brasil.

Com isso, a unidade paulista, cujas linhas de montagem até então produziam apenas um par de tipos de chocolate, passou a operar, desde novembro de 2022, com novas versões capazes de fabricar cem diferentes itens, com recheios variados e formatos distintos. “Tudo isso é possível por causa de toda a tecnologia aplicada, a mais inovadora da Nestlé. Há vários robôs, mecanismos de controles, tudo alimentado por rede wi-fi. Houve melhoria importantíssima da qualidade do produto. Seguimos investindo na inteligência das linhas, com instrumentos de internet das coisas [IoT], sensores, geração de dados e análise de algoritmos. Não desligamos ninguém. Treinamos as pessoas para que se adaptassem à nova tecnologia”, afirma Donir Costa, diretor de engenharia na Nestlé Brasil.

Anualmente, 2,5% da receita líquida da empresa é aplicada em pesquisa e desenvolvimento (P&D). Cerca de 30% dos investimentos totais foram para inovação. A companhia destinou R$ 200 milhões a processos de inteligência artificial, machine learning e automação entre 2019 e 2023. Os ganhos de produtividade com a nova tecnologia em operações no fim de linha, onde robôs coletam os produtos e trocam informações, chegaram a 30%. A jornada digital da empresa conta com 35 projetos de inovação em fase de elaboração, inclusive trazendo para dentro da fábrica tecnologias desenvolvidas em outros setores. Um desses projetos, em desenvolvimento no parque tecnológico de São José dos Campos (SP), será criado a partir da experiência de câmera usada na medicina para identificar câncer de pele.

“Descobrimos que esse equipamento poderia ser utilizado para identificar materiais estranhos, como os que estão nas castanhas que vão no chocolate. A câmera consegue identificar partículas estranhas à castanha, mesmo sendo da mesma cor que ela. Essa é a importância de estarmos em um centro tecnológico”, diz Costa.

Fábrica da Nestlé: robôs e mecanismos conectados por redes wi-fi otimizaram a produção — Foto: Divulgação

Outras quatro empresas do setor que se destacaram em inovação – Ambev, BRF, Duas Rodas e Ingredion – também apostaram em equipamentos inteligentes. A Ambev, por exemplo, não se classifica mais apenas como uma “empresa de bebidas”, mas como plataforma para gerar crescimento compartilhado para todo seu ecossistema – fornecedores e donos de bares, funcionários e consumidores. A tecnologia também mudou a forma como a empresa toca o negócio e se conecta com seus clientes. Hoje, conta com diferentes produtos que surgiram a partir do olhar para a inovação. A empresa mudou o portfólio, criou a área de negócios e desenvolveu um aplicativo B2B, o BEES, que atua como plataforma digital, conectando indústria e pontos de venda e oferecendo soluções, serviços e produtos. Atualmente, 17% da receita da Ambev vem de produtos que não existiam há três anos.

“Inovação virou um pilar estratégico da nossa matriz de crescimento. Para isso tivemos que rever o modo como fazíamos tudo. Um dos nossos primeiros passos em inovação foi realizar o mapeamento de dores do nosso ecossistema. Ouvimos mais, criamos, testamos, experimentamos e implementamos com excelência; esse é o nosso diferencial para trazer mais valor ao nosso negócio. Com essa escuta ativa das demandas dos clientes, consumidores e sociedade, conseguimos identificar quais ações íamos dar foco e trabalhar para gerar novas soluções, receitas, sabores e conceitos, benefícios funcionais e orgânicos”, diz Jean Jereissati, CEO da Ambev.

Jean Jereissati, CEO da Ambev: "Inovação virou pilar estratégico para nosso crescimento. Revimos como fazíamos tudo" — Foto: Carol Carquejeiro/Valor

A Ingredion, que produz soluções de ingredientes de origem natural, transformando grãos e outras plantas em produtos para a indústria de alimentos — buscando redução de açúcar e gordura, inclusão de proteína vegetal e melhoria de sabor, textura e de perfil nutricional —, inclui a sustentabilidade no processo de inovação. Em síntese, investe em produtos naturais e renováveis. No Brasil, o foco da Ingredion está em tecnologia de soluções para redução de açúcar dos alimentos e de enriquecimento de proteína com inclusão de proteínas vegetais em produtos. As soluções da companhia abrangem mercados alternativos lácteos, como leite e iogurte de ervilha, hambúrguer de grãos e produtos como snacks com grão de bico, que têm menos carboidrato e gordura.

Nos últimos três anos, a empresa investiu US$ 500 milhões globalmente nessas duas frentes. Parte do investimento global em redução de açúcar foi numa joint venture em São Paulo firmada neste ano para produção de molécula de stevia (adoçante) com sabor parecido ao de açúcar. “Conseguimos entregar uma experiência sensorial boa [melhor sabor], com acessibilidade, de forma economicamente viável e com impacto ambiental sensacional. Comparado com o açúcar, temos 90% menos utilização do solo e 88% menos utilização de água”, diz Wellington Rubinho, VP de marketing e inovação da empresa para América do Sul. A companhia tem 32 hubs de inovação no mundo – o segundo maior fica em São Paulo –, responsáveis pelo aumento de 23% nas vendas de 2021 para 2022.

Nos hubs mundiais, a empresa desenvolve seus próprios ingredientes e ainda cria aplicações para alimentos e bebidas dos clientes. Para tanto, no hub brasileiro, por exemplo, a companhia construiu minifábricas como as de chocolate, cerveja, iogurte, queijo, panificação, carnes (salsicha, hambúrguer e mortadela), balas e marshmallow. “O grande diferencial de inovação da Ingredion é que chamamos parceiros e fornecedores que vão colaborar na integração da formulação completa dos alimentos e das bebidas, e junto com os nossos clientes conseguimos acelerar essa inovação. O cliente não precisa parar a fábrica para fazer testes e colocar a tecnologia à prova”, diz o executivo.

Em casos de produtos inéditos no mercado, a empresa desenvolveu um escritório dentro do metaverso para uma primeira rodada com clientes e parceiros com protótipos virtuais antes da prova final ser realizada nos hubs. Nesse ambiente digital, é feita a prova prévia dos protótipos. Se for o caso, já descartam itens inadequados. Só depois dos testes é que vão para as fábricas. “Fizemos isso nos últimos dois anos, é bem transformacional”, diz Rubinho. O modelo tem se mostrado o mais apropriado na exploração de novos mercados. O primeiro evento no metaverso foi o Innovation Day com a PepsiCo – outra empresa que se destacou no ranking Inovação Brasil –, com quatro propostas, mas o processo ainda está em fase de desenvolvimento.

A Duas Rodas voltou a aparecer no ranking como uma das cinco companhias que mais inovaram. As principais frentes envolvem projetos de transformação digital e de desenvolvimento de tecnologias para atender às demandas atuais e futuras de consumo. “Nossos lançamentos inovadores mais recentes estão conectados a demandas como saudabilidade, funcionalidade e indulgência, especialmente com soluções que ajudam as indústrias a vencer desafios tecnológicos de reduzir, nas formulações de seus produtos, ingredientes como sódio, açúcar e gorduras sem prejudicar a experiência do consumo”, diz Steven Rumsey, diretor de inovação e tecnologia da Duas Rodas. Segundo ele, a empresa ampliou o portfólio de ingredientes naturais, como extratos botânicos, desidratados e aromas, com foco na funcionalidade dos compostos bioativos das plantas.

Um dos destaques foi o recente lançamento, inédito em nível global, da tecnologia exclusiva de concentração de 40% de vitamina C natural em extrato de acerola, uma das frutas com o maior potencial do ativo da vitamina, para aplicação em alimentos, bebidas e suplementos. “Temos uma equipe de especialistas dedicada à expansão do portfólio de extratos e desidratados desenvolvidos a partir de frutas, sementes e plantas da América Latina, com foco em funcionalidade para alimentos, bebidas e nutracêuticos. Nossos ingredientes botânicos têm avançado nos mercados norte-americano, europeu e asiático e começam a ganhar espaço também no Brasil”, afirma Rumsey. A Duas Rodas investirá R$ 22 milhões em transformação digital neste ano.

Dentro da ampliação dos portfólios com ingredientes naturais, a empresa avançou em soluções clean label – que substituem aditivos químicos por itens naturais – voltadas ao mercado de cárneos e para produtos plant-based (baseados em vegetais). As inovações incluem categorias como a de sorvete, com linhas de produtos que combinam sabor e alimento saudável. Também geraram redução de desperdícios, que na fábrica de condimentos e aditivos caíram de 30% para menos de 2%.

Destaques setoriais de alimentos, bebidas e ingredientes

  1. Nestlé Brasil
  2. Ambev
  3. Duas Rodas
  4. BRF
  5. Ingredion

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