Valor Inovação: Quinta colocada, WEG pisa no acelerador para ser disruptiva

Uso de IA, pesquisa com nanotecnologia e novos materiais ajudam a empresa a simplificar os processos com menor utilização de recursos naturais e foco em energia renovável

Por Suzana Liskauskas, para o Valor


Com presença em quatro continentes e R$ 161 bilhões em valor de mercado (dezembro de 2022), a WEG, com sede em Jaraguá do Sul (SC), tem acelerado os processos de inovação nos últimos dois anos. A meta é ser disruptiva e dinâmica para crescer nos mercados mais competitivos globalmente.

A empresa tem simplificado os processos de inovação internamente, com foco em produção de equipamentos para energia renovável, uso de inteligência artificial para tomada de decisão e pesquisa com nanotecnologia e novos materiais. Apesar de acumular mais de seis décadas de história, a WEG não quer ficar na zona de conforto e persegue a inquietação típica de startups. Essa inquietude tem levado a empresa a inovar no uso racional de materiais. Os mais de quatro mil engenheiros da WEG têm sido provocados e estimulados a buscar processos para aumentar a eficiência dos equipamentos, sobretudo em mobilidade elétrica. O foco é inovar com menor uso de recursos naturais.

Um dos projetos mais recentes, ainda em estágio de desenvolvimento, é a produção de um motor com peso total de 50 kg. Rodrigo Fumo, diretor global de engenharia e inovação, diz que o novo motor pode ter o mesmo desempenho de outros modelos já produzidos pela empresa com 1,5 mil kg.

“O motor de 50 kg tem uma tecnologia disruptiva. Já prototipamos, testamos e vimos que funcionou. Esse motor pode ser usado na indústria e em veículos elétricos. Por ser bem mais leve, enxergamos uma facilidade enorme no uso desse motor principalmente em locais de difícil acesso, como minas e plataformas de petróleo”, diz.

Rodrigo Fumo, diretor de engenharia e inovação: tecnologia inédita para fabricar motor de 50 kg — Foto: Raphael Günther/Divulgação

Fumo ressalta a preocupação da WEG em compreender o caminho de novas tecnologias para reduzir custos dos materiais envolvidos na fabricação do novo motor, que ainda são elevados. “Entendemos que esses materiais, entre cinco a dez anos, no máximo, estejam plenamente viáveis economicamente”, afirma.

Na visão do diretor global de engenharia e inovação, o empenho deve estar em processo de inovação de equipamentos, máquinas elétricas rotativas e motores elétricos geradores que tenham mais eficiência, usando menos recursos naturais. O papel do engenheiro é entregar mais com menos, diz o executivo.

Nessa toada, a WEG tem avançado na produção de baterias. Fumo explica que o negócio envolvendo baterias é uma frente recente. Está na linha de produção da fábrica que entrou em operação entre o fim de 2022 e o início deste ano, também em Jaraguá do Sul.

Além do uso em veículos elétricos, as baterias podem ser utilizadas em sistemas de armazenamento. São sistemas com captação por energia solar ou eólica e um banco de baterias para utilização em momentos de pico. Embora haja múltiplas possibilidades de uso, o foco da WEG é no transporte de massa, ônibus e caminhões.

“Por enquanto temos sistema de conversão, em que fornecemos motor de menor porte para veículos ou para quem queira fazer conversão de veículo elétrico, mas o foco da WEG é maior em transporte de massa. É onde podemos causar maior impacto em termos de transformação econômica e social”, afirma Fumo.

A solução da WEG para integração de energia solar com recarregamento já está sendo utilizada, segundo o diretor, em uma estação na fábrica da BMW em Santa Catarina. “Há um telhado que capta energia solar e joga para um banco de baterias. Então, o sistema permite o carregamento de carros ou o armazenamento da energia captada”, detalha.

Como a produção dessas baterias está voltada para o consumo interno, ainda não há planos para abastecer o mercado da América Latina. Fumo, no entanto, não descarta oportunidades de negócios em outros países. “Já temos muita demanda interna e estamos trabalhando quase na capacidade plena na fábrica, que estará pronta por completo até o fim do ano.”

Entre os projetos que ganharam impulso em inovação nos últimos anos, o executivo cita também o desenvolvimento de novos aerogeradores eólicos. O mais recente está relacionado à produção da terceira geração desses equipamentos, com capacidade para 7 megawatts de potência instalada, nas fábricas de Jaraguá do Sul e na planta localizada em Hosur (Índia), inaugurada em 2022.

A geração de aerogeradores da WEG mais desenvolvida, até então, com 4,2 megawatts, surgiu em 2021. Fumo destaca a rapidez na evolução da tecnologia aplicada na produção dos aerogeradores, lembrando que a primeira plataforma da divisão eólica foi lançada entre 2012 e 2013.

“Estamos colocando bastante dedicação e empenho em energias renováveis, notadamente fotovoltaica e eólica. Avançamos muito na nova geração de aerogeradores de 7 megawatts, com parte da equipe no Brasil e parte nos Estados Unidos e na Alemanha”, detalha.

Para alcançar resultados disruptivos, a WEG vem investindo em iniciativas de inovação, como o WEG Innovation System (WINS), que tragam oportunidades de expansão nos mercados interno e global. Lançado em 2021, o WINS foi criado para simplificar o processo de inovação dentro da empresa. “Queremos trabalhar como uma startup. Esse é o objetivo do programa”, diz.

Pelo porte da companhia, que, segundo Fumo, tem cerca de 40 mil funcionários globalmente, o alinhamento com todos os colaboradores não é um processo ágil, tem velocidade mais baixa. “Então criamos o WINS, programa que dá mais autonomia para supervisores, gerentes e para os diretores das áreas testarem alguns projetos, mesmo que não tenhamos todas as respostas de tamanho de mercado”, explica o executivo.

Os engenheiros da WEG buscam processos mais eficientes, sobretudo em mobilidade eletrica — Foto: We Art/Divulgação

Ganhar agilidade não é sinônimo de investir indiscriminadamente. Fumo faz questão de deixar isso bem claro. A intenção, segundo ele, é colocar “pequenas moedas”. Ele explica que são iniciativas com custo de R$ 5 mil a R$ 20 mil, criando um ciclo de Minimum Viable Product (ou produto mínimo viável, MVB), termo bem familiar ao ambiente das startups.

Aberto para todos que tenham uma ideia, o programa faz muitos testes antes de adicionar investimentos. Quando as sugestões internas são exauridas e, ainda assim, os problemas não são resolvidos, a WEG parte para inovação aberta. A equipe de gestão de inovação tecnológica da empresa realiza buscas constantes sobre trilhas de inovação em todo o mundo.

“Além de manter contato com institutos de inovação no Brasil, por meio do Senai e de universidades, a equipe de gestão de inovação tecnológica participa de plataformas no exterior. Temos muitos contatos com empresas no Canadá, na Suécia e Noruega”, conta Fumo.

Um resultado recente da inovação aberta na WEG é a pesquisa com grafeno, nióbio e nanotecnologia. O executivo diz que, na unidade da WEG de tintas, está sendo desenvolvido um sistema para proteção de discos de freios de veículos que trafegam em regiões com neve.

Como o sal utilizado para derreter o gelo provoca corrosão nos sistemas de freio, a solução encontrada foi utilizar nanotecnologia com nióbio para aplicar um líquido em cima dos discos de freio. “Esse sistema retarda o processo de oxidação e veio por inovação aberta”, detalha.

Depois de morar entre 2015 e 2020 na China, a serviço da WEG, Fumo trouxe na bagagem a cultura do compartilhamento de informações entre os 32 centros de pesquisa da empresa no mundo, sendo 11 no Brasil. Uma vez por mês, há uma conferência global das engenharias com temas específicos.

Ficha

  • Investimentos no Brasil: R$ 647 milhões (2,2% da receita líquida de 2022)
  • Centros de pesquisa no Brasil: 11
  • Centros de pesquisa no exterior: 21
  • Patentes no Brasil: 275
  • Patentes no exterior: 166
  • Funcionários em P&D: 2,2 mil**
  • Parcerias: Universidades, ICTs, empresas e startups***
  • **: 4.300 engenheiros pelo mundo
  • ***: 54 projetos com universidades, ICTs e empresas; 546 soluções tecnológicas avaliadas de startups; 22 provas de conceito realizadas com startups.

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