Valor Inovação: Décima no ranking, CNH Industrial quer colheita farta com celular na mão

O desafio no Brasil é avançar a agricultura de precisão, dependente da expansão da conexão 4G, que hoje só alcança 30% das áreas rurais

Por Luiz Maciel, para o Valor


Líder no mercado de colheitadeiras, a CNH Industrial tem um ótimo motivo para investir em pesquisa e desenvolvimento no Brasil: a confiança no crescimento sustentado do agronegócio no país, a ponto de superar, num futuro não tão distante, a produção dos Estados Unidos. “Acreditamos que esse é o destino do Brasil, por isso investimos muito em inovação aberta para incorporar cada vez mais recursos tecnológicos às nossas máquinas agrícolas. Até o fim deste ano, todas elas sairão de fábrica com a possibilidade de ser monitoradas remotamente por um smartphone”, afirma Rafael Miotto, presidente da companhia para a América Latina.

A CNH Industrial opera em três ramos de atividade no Brasil. Sua divisão agrícola, com tratores e colheitadeiras das marcas New Holland e Case, é responsável por 75% do faturamento da empresa no país, enquanto os equipamentos de construção dessas mesmas marcas respondem por 16% da receita e o Banco CNH Industrial, por 9%.

Dos 40 mil funcionários que a multinacional italiana mantém nos vários países em que está presente, 8,5 mil são brasileiros, distribuídos pelas fábricas de Curitiba (PR), Sorocaba (SP), Piracicaba (SP) e Contagem (MG) – as três primeiras dedicadas à produção de máquinas agrícolas e a última, a equipamentos de construção. Isso faz da América Latina – onde a empresa conta ainda com uma quinta unidade de produção em Córdoba, na Argentina, com 500 funcionários – seu segundo maior mercado regional, atrás apenas do norte-americano.

Em 2022, a CNH Industrial investiu US$ 1 bilhão em projetos de inovação em suas 43 unidades de produção, o equivalente a 4,2% do seu faturamento mundial de US$ 23,6 bilhões – índice que deve dar um novo salto neste ano, quando prevê investir US$ 1,6 bilhão em P&D e arrecadar entre 6% e 10% mais do que no ano passado. A empresa não detalha quanto foi direcionado à inovação nas fábricas brasileiras, mas informa ter alcançado o mesmo nível da corporação global.

Rafael Miotto, presidente da CNH: "Investimos em inovação aberta para incorporar mais tecnologia" — Foto: Guilherme Pupo/Divulgação

De acordo com Miotto, a inovação sempre foi um valor levado em alta conta pela CNH Industrial. “No Brasil, o desafio é expandir a conexão 4G, que hoje só chega a 30% das áreas rurais. Por isso somos um dos fundadores da ConectarAGRO, associação sem fins lucrativos que nos últimos três anos ajudou a levar a banda larga 4G para 14,4 milhões de hectares. A agricultura de precisão depende dessa conexão”, observa. Segundo a ConectarAGRO, a incorporação dessa nova área ao mundo digital beneficiou 1,1 milhão de pessoas, 90 mil propriedades rurais, 525 cidades, 13 Estados, 65 unidades básicas de saúde e 221 escolas públicas.

Com os recursos de TI já disponíveis, as máquinas agrícolas podem ser programadas para fazer a semeadura no espaçamento mais adequado, com a quantidade correta de sementes e adubo, pulverizar defensivos sem desperdício e no final fazer a colheita sem perdas. O progressivo processo de automação também levará, em alguns anos, ao uso de tratores completamente autônomos – um protótipo desse tipo, movido a eletricidade, está sendo testado pela companhia nos Estados Unidos.

No Brasil, a colheitadeira de grãos Case IH Axial-Flow chega perto da automação total, com sistema inteligente que assume o comando de nove controles que antes eram de responsabilidade do operador – a quem cabe apenas escolher um dos quatro modos de colheita. No modo “qualidade de grãos”, por exemplo, a máquina colhe na velocidade necessária para obter o melhor resultado. Já no modo “rendimento máximo”, indicado para aproveitar uma janela curta de tempo, como na iminência de uma chuva, ela atua na velocidade mais alta possível.

Os equipamentos da CNH Industrial são desenvolvidos sob a liderança de uma de suas unidades de produção, em cooperação com centros de pesquisa da própria empresa em outros países, além de institutos independentes e universidades. Unidades brasileiras lideraram o desenvolvimento da colhedora de cana, da motoniveladora e do trator de esteira – itens que são exportados daqui. A empresa tem 1.550 patentes ativas no Brasil e cerca de 14 mil em todo o mundo.

Uma das novidades recentes da CNH Industrial no Brasil é o primeiro trator movido a gás biometano no país. Trata-se de um modelo da marca New Holland (T6.180 Methane Power), que usa o gás gerado na decomposição de resíduos orgânicos como combustível e foi vendido à SF Agropecuária, empresa de suinocultura com sede em Brasilândia (MS), que abate cerca de 180 mil animais por ano. “É uma solução interessante para quem lida com a criação de animais e quer economizar diesel”, reforça Miotto.

É da CNH Industrial o primeiro trator movido a biometano do país, voltado para quem lida com criação de animais — Foto: Divulgação

Outro processo inovador inaugurado pela CNH Industrial é a venda de equipamentos mediante pagamento em commodities agrícolas – transformadas em ativos digitais lastreáveis. A primeira negociação aconteceu em fevereiro último, durante o Show Rural Coopavel, em Cascavel (PR), quando o produtor Wagner Cruvinel, de Silvânia (GO), pagou parte do trator T8, da New Holland, com essa nova “moeda digital”. A transação foi possível graças à parceria entre o Banco CNH Industrial e a Agrotoken, empresa que está convertendo a produção agrícola em ativos digitais, por meio da tecnologia blockchain.

Com o objetivo de ampliar o suporte técnico aos clientes, a CNH Industrial vem aprimorando uma plataforma de soluções para a agricultura digital, que oferece serviços – prestados por empresas e startups parceiras – capazes de melhorar o rendimento em todas as etapas de cultivo, do preparo do solo à colheita.

Um exemplo dos serviços oferecidos é o Xpower, que promove a remoção de plantas indesejadas por meio da capina elétrica, vinte vezes mais rápida do que a eliminação de ervas daninhas por produtos químicos, além de ser um método mais sustentável. Outro é o DroneXplorer, que auxilia no planejamento, monitoramento e gestão da lavoura por meio de imagens de drones, satélites e vetores de maquinários. Já o Soilexplorer usa processamento de dados de alta eficiência para fazer um diagnóstico completo do solo, o que permite a aplicação de insumos de forma precisa. Há ainda o aplicativo Opere+, gratuito, que oferece informações de forma simples ao portador de um smartphone.

Para atualizar os funcionários das 160 concessionárias que tem no Brasil, times de especialistas em TI da companhia percorrem o país para dar essas instruções e simular as novas operações que passaram a ser feitas de forma automatizada pelas máquinas. “Nesse esforço de levar conhecimento aos clientes, contratamos 50 engenheiros e técnicos em data analytics em 2022 e estamos contratando mais. Para isso, investimos em nossos programas de estágio e em parcerias com universidades e com o Senai. Estamos disputando esses talentos com Google e Microsoft”, afirma o presidente da CNH.

Ficha

  • Investimento no mundo: US$ 1 bilhão (em 2022; previsão de US$ 1,6 bilhão em 2023)
  • Investimento no Brasil: Não divulga
  • Centros de pesquisa no Brasil: 4**
  • Patentes no Brasil: 1.550
  • Patentes no exterior: 14 mil
  • Funcionários em P&D: trabalho aberto e colaborativo***
  • **: Contagem (MG), Curitiba (PR), Piracicaba e Sorocaba (SP)
  • ***: a CNH Industrial faz parte do ecossistema Cubo Itaú, compõe a Vertical Agro, que é voltada às agtechs, ao lado da São Martinho, Corteva, Agriscience e Itaú BBA

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