O aumento da oferta de fundos chamados “verdes” e do seu patrimônio líquido mostram que a sustentabilidade pauta cada vez mais o mercado de investimentos. Dados de março passado da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) indicam 91 fundos IS (investimento sustentável) e 39 que integram aspectos ESG (sigla em inglês para critérios ambientais, sociais e de governança). Em dezembro de 2022, esses números eram 41 e 13, respectivamente.
O patrimônio líquido dos dois tipos de fundos somados era, em março deste ano, de cerca de R$ 13,4 bilhões contra R$ 7,4 bilhões no fim de 2022. Os fundos IS viram seu patrimônio líquido subir, nesse período, de R$ 5,6 bilhões para R$ 9,1 bilhões. Já os fundos ESG passaram de R$ 1,8 bilhão para R$ 4,3 bilhões.
“Estamos falando de um mercado de nicho, com tendência de crescimento”, diz Cacá Takahashi, diretor da Anbima e coordenador da Rede de Sustentabilidade da entidade. Ele acredita que a expansão ocorrerá paulatinamente, em função do cenário macroeconômico e geopolítico e da característica de prazo maior dos fundos sustentáveis. “O ambiente atual faz com que o investidor permaneça em posições líquidas de mais curto prazo”, observa.
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De acordo com a Anbima, a diferença entre os fundos IS e ESG é que os primeiros têm foco 100% sustentável, sendo esse seu objetivo. Já os ESG consideram os aspectos ambiental, social e de governança em sua gestão, sem ter o investimento sustentável como objetivo principal. Para ganhar o sufixo IS, um fundo já deve ser ESG e a mudança exige adaptação. A Anbima acompanha os fundos para garantir que eles estejam enquadrados em suas definições.
Em janeiro, a JGP, gestora de ativos independente, e a BB Asset anunciaram parceria para a criação de uma nova gestora de fundos orientada para ESG. “Uma full platform, dispondo de uma grade completa de produtos para investidores locais e internacionais”, conta o sócio da JGP, Guilherme Bragança. Essa nova gestora está em fase pré-operacional.
O montante sob gestão da JGP em fundos verdes - são 20, dos quais 9 IS e 11 ESG - chegou, no fim de abril, a R$ 1 bilhão, dos quais R$ 782 milhões nos produtos IS. Há um ano, esse valor IS mais ESG somava R$ 400 milhões. O aumento, destaca Bragança, se deu principalmente devido à associação com a BB Asset, “que nos deu acesso aos seus diversos canais de distribuição”.
Bragança vê a agenda de sustentabilidade ganhando relevância. “Algumas evidências, como as alterações do clima e as pressões sociais, são cada vez mais claras”, diz. Os fundos ligados à agenda da sustentabilidade da JGP se concentram em crédito privado e ações, voltados para o público qualificado e investidores em geral.
A BNP Paribas Asset Management Brasil possui dez fundos “IS”, divididos em estratégias de renda fixa e de renda variável. Para Aquiles Mosca, diretor das áreas comercial, de marketing e digital da gestora, os investimentos sustentáveis no Brasil vêm exigindo um esforço de educação por parte dos gestores para acelerar seu crescimento.
Isso porque, observa, ainda há um certo preconceito dos investidores, que acreditam “erradamente que a incorporação de fatores ESG na gestão implica renunciar a retornos extraordinários para a carteira”. Mosca comenta que muitas multinacionais, mais maduras em relação ao assunto, vêm orientando suas subsidiárias no Brasil a terem ao menos uma parcela de seus investimentos em fundos ESG. “A educação e a demanda oriunda de multinacionais têm impulsionado o patrimônio de nossos fundos ESG”, diz ele.
Outra que aposta no segmento é Santander Asset Management. De acordo com Luzia Hirata, gerente ESG da instituição, a seleção de ativos pra os fundos da família Ethical se baseia em metodologia global, que avalia as empresas de maneira absoluta e relativa aos seus pares, para classificá-las em relação ao desempenho ESG. “Além disso, nossa diretriz global nos restringe investir em setores específicos como bebidas alcoólicas, tabaco e óleo e gás”, conta.
Para ela, o desenvolvimento de instrumentos financeiros que busquem soluções para temas críticos como mudanças climáticas, entre outros, tendem a atrair mais investidores. Os produtos Ethical incluem fundos de ações que investem até 100% em empresas que consideram aspectos de sustentabilidade e fundos de previdência, que aportam até 70% (limite imposto pela Susep) em ações de empresas sustentáveis e o restante em renda fixa, títulos públicos ou privados, não necessariamente vinculados à agenda ESG.
Annelise Vendramini, coordenadora do programa Finanças Sustentáveis do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas (FGVces), diz que dentro da dimensão ambiental, o fator climático é um foco. “Isso se dá pela urgência da crise climática e pelo amadurecimento, por parte dos investidores, quanto à materialidade desse risco”.
Perto do tamanho da economia brasileira, aponta Annelise, a quantidade de empresas com capital aberto em bolsa ainda é relativamente pequena e, as de capital fechado, tendem a buscar recursos financeiros via crédito bancário, aumento de capital e private equity. “Então, podem ser menos influenciadas pelo movimento da indústria de fundos em geral, principalmente os passivos. Porém, é bom lembrar que o mercado bancário brasileiro já tem práticas ESG há muito tempo”, diz. Já as empresas de capital aberto, aponta, podem ser mais sensíveis ao sentimento do mercado e demandas de investidores atuais e futuros, a depender também de sua estrutura de capital.
Para que o investidor não seja iludido por “greenwashing” - termo em inglês para a criação de uma falsa imagem “verde” -, Emerson Morelli, líder de wealth and asset management da EY, diz ser importante uma análise prévia e criteriosa das informações dos fundos. “A inteligência artificial tem facilitado o ‘cross-check’ de dados públicos para confirmação da veracidade e integridade dos impactos ambientais, climáticos ou sociais alegados nos prospectos”, diz.