Amir Labaki: Estudo mostra que o cinema voltou na França, o maior mercado da Europa

Em 2023, foram vendidos 180,4 milhões de ingressos, cerca de 18% a mais do que no ano anterior

Por — para o Valor, de São Paulo


Guillaume Canet e Gilles Lellouche em "Asterix e Obelix no Reino do Meio" (2023) — Foto: Divulgação

Mantendo a tradição, durante o recente 77º Festival de Cannes, o Centro Nacional de Cinema e da Imagem Animada (CNC) lançou seu relatório anual sobre a atividade audiovisual na França. O balanço 2023 confirma que, superado o trágico biênio da pandemia da covid, o cinema voltou.

Logo na apresentação, o presidente do CNC, Dominique Boutonnat, comemora: “No início de 2023, tanto os profissionais do setor como o poder público prendiam a respiração: com a inflação galopante, a explosão do custo da energia e a incógnita do regresso aos cinemas pós-pandemia, 2023 parecia incerto. Seus sucessos dissiparam as preocupações”.

Os principais números explicam, reafirmando a França como o maior mercado cinematográfico da Europa. Em 2023, foram vendidos 180,4 milhões de ingressos, cerca de 18% a mais do que no ano anterior, ainda que 13% a menos do que na média do período 2017-2019 pré-pandemia.

A arrecadação total foi de 1,33 bilhão de euros, um resultado 21,8% superior ao do ano anterior, quase o mesmo do valor alcançado em 2019.

Em média, cada um dos 68 milhões de franceses foi 2,71 vezes ao ano às salas de cinema (2,29 em 2022, 3,21 em 2019). O público feminino (51,6%) é ligeiramente superior ao masculino (48,4%). Especialmente interessante é também o recorte por faixa etária. Praticamente empatados na liderança estão os frequentadores entre 25 e 49 anos (33,3%) e os com mais de 50 anos (33,2%).

Nada menos que 40% do público comprou ingressos para produções francesas, pequena queda em relação aos 41% do ano anterior, mas uma porcentagem já superior aos 37,2% do período 2017-2019. É quase um empate com os 42% de ingressos para o cinema americano, que também cresceu 0,8% em relação ao anterior, mas retrocedeu frente ao 49% dos anos imediatamente pré-covid.

A celebração ainda se estende à recuperação de títulos gauleses entre as dez maiores bilheterias do ano. Com mais 4,6 milhões de ingressos vendidos, o filme francês mais visto em 2023, “Asterix e Obelix: O Império do Meio”, ficou em quarto lugar da arrecadação geral, com a comédia “Alibi.com 2” conquistando o 6º posto e o filme de aventuras “Os Três Mosqueteiros - D’Artagnan”, o 8º.

O filme mais visto na França no ano passado foi a animação americana “Super Mario Bros - O Filme”, com 7,25 milhões de ingressos vendidos. O campeão planetário, “Barbie”, vem em segundo lugar, com 5,87 milhões de entradas. Com 4,46 milhões de espectadores, o vencedor do Oscar, “Oppenheimer”, ficou em 5º lugar, e o vencedor da Palma de Ouro de Cannes 2022, “Anatomia de Uma Queda”, não fez feio, com 1,3 milhão, na 29ª posição.

A recuperação marcou também o aumento no número total de filmes inéditos lançados, 716, sendo 406 produções francesas, a segunda maior marca da história. A crise da produção em Hollywood, ecoando a pandemia ainda e as greves de intérpretes e roteiristas de 2023, levou a apenas 86 estreias nos cinemas franceses, a segunda menor presença histórica — e, mesmo assim, se manteve a hegemonia quanto à arrecadação.

Um pouco maior foi a participação de lançamentos dos demais países europeus (98). Afirmando o excepcional cosmopolitismo do mercado francês, o segundo lugar entre os títulos lançados coube a 126 produções de outras cinematografias.

Em geral, a cada semana 14 novos filmes entraram em circuito, 8 deles franceses. Também gauleses foram metade dos 76 títulos que fizeram suas estreias em mais de 500 salas na primeira semana de exibição. Em média, cada filme foi lançado em 166 cinemas.

Apesar da retração no número de lançamentos americanos, a Walt Disney Company liderou as arrecadações com 16,1% do mercado, seguida pela Universal com 13,4%. O melhor resultado de uma empresa francesa situou o Studio Canal no quinto posto, com 5,9%.

O lançamento de documentários em salas continua expressivo, com 115 estreias, sendo 89 produções não ficcionais francesas. Registre-se, contudo, o retrocesso frente aos 137 documentários lançados em 2022, uma marca algo superior à média (133) dos anos pré-pandemia.

Concentrei-me em resumir aqui a parte do volumoso balanço referente ao público e à distribuição em cinema. Em 300 páginas, o relatório disseca ainda os financiamentos públicos, outros setores da indústria audiovisual como o vídeo e os jogos, os empregos na área e as ações frente à crise climática. A íntegra se encontra no site do CNC. É uma radiografia e tanto — e um mapa valioso para esgrimir contra os que subestimam a centralidade contemporânea da indústria audiovisual.

Mais recente Próxima Novo romance de vencedora do Prêmio São Paulo de Literatura trata de questões essenciais de nossos tempos

Agora o Valor Econômico está no WhatsApp!

Siga nosso canal e receba as notícias mais importantes do dia!