A Airbus está perto de fechar um acordo com a Spirit AeroSystems para assumir partes do trabalho da fornecedora aeroespacial que trabalha em alguns de seus principais modelos de aviões, abrindo caminho para a Boeing comprar o restante da empresa. Pelos termos do acordo, a Airbus assumiria o trabalho da Spirit em seus programas de aeronaves A220 e A350 em vários locais pelo mundo, inclusive em Belfast, na Irlanda do Norte, de acordo com fontes a par das discussões.
As conversas “avançam na direção certa”, disseram as fontes. Um anúncio poderia ser feito já na próxima semana, embora ressaltem que podem haver adiamentos, pois as discussões exigem um acordo complexo entre as três empresas e ainda estão em andamento. Acredita-se que a Boeing assumirá a maior parte das operações da Spirit, incluindo suas instalações principais, no Kansas.
A Boeing está em negociações com a Spirit desde março, uma vez que a fabricante de aviões americana tenta melhorar os processos de fabricação da fornecedora após a explosão, em pleno voo, de uma parte do corpo principal de uma de suas aeronaves 737 Max, em janeiro. A Spirit fornece fuselagens para a Boeing e ambas as empresas estão passando por uma auditoria do órgão regulador de segurança da aviação dos Estados Unidos.
Qualquer acordo, no entanto, tem sido complicado pelo fato de a empresa, com sede no Kansas, também ser uma fornecedora importante da europeia Airbus, com fábricas na Irlanda do Norte, Escócia e EUA.
As instalações da Spirit em Belfast constroem as asas e seções da fuselagem intermediária dos jatos de passageiros A220. Outras partes do trabalho de construção do A220 são realizadas em Casablanca, Marrocos. A Spirit constrói partes do A350, de fuselagem larga, em Kinston, na Carolina do Norte, e em Saint-Nazaire, na França.
A Airbus, que já confirmara estar em negociações com a Spirit para comprar algumas das operações que a fornecedora realiza para ela, tem se concentrado em separar o trabalho para os programas A220 e A350, de acordo com fontes a par das conversas.
A Spirit também realiza trabalhos para outros clientes de aviação em suas fábricas. Belfast produz as seções da fuselagem e outros componentes importantes para uma série de jatos executivos fabricados pela canadense Bombardier.
Sindicatos expressaram preocupação
Sindicatos na Irlanda do Norte já expressaram preocupação sobre a divisão das operações de Belfast, que abrangem seis locais e empregam mais de 3 mil pessoas. Elas são fundamentais para a próspera indústria aeroespacial da região e fazem parte da histórica fábrica Short Brothers.
A Spirit contabilizou prejuízo líquido de US$ 617 milhões no primeiro trimestre, depois que a Boeing desacelerou as operações em sua fábrica do 737 Max, em Washington, e deixou de aceitar fuselagens com defeito da fornecedora do Kansas, dentro dos esforços da Boeing para melhorar a qualidade dos próprios processos de fabricação. A fornecedora não anuncia lucros anuais desde 2019.
A Boeing não quis comentar as informações. O porta-voz da Spirit, Joe Buccino, disse que a empresa continua “com foco em fornecer os melhores produtos de qualidade" para os clientes.
A Airbus informou que mantém discussões com a Spirit “para proteger o suprimento" a seus programas "e definir uma forma mais sustentável, tanto operacional quanto financeiramente, para os diversos pacotes de trabalho da Airbus pelos quais a Spirit AeroSystems é responsável hoje”.
A "Reuters" foi a primeira a noticiar que as negociações estavam próximas de um consenso.