Alta dos preços médios puxa rentabilidade da exportação

Margem avança na indústria de transformação e segmentos não industriais enquanto cai no setor extrativo

Por Marta Watanabe — De São Paulo


Daiane Santos, da Funcex: comportamento distinto entre setores foi influenciado por desempenho de preços — Foto: Leo Pinheiro/Valor

A elevação de preços médios de exportação nos primeiros meses do ano contribuiu para o aumento da rentabilidade nos embarques da indústria de transformação e também da atividade não industrial, representada sobretudo pela agropecuária. A margem da indústria de transformação avançou 4% no primeiro trimestre deste ano, enquanto a do grupo dos não industriais cresceu 7%, sempre na comparação com iguais meses de 2022. O desempenho das duas atividades contrasta com a do agregado da exportação brasileira, cuja rentabilidade ficou praticamente estável, com queda de 0,1%. O comportamento do total dos embarques foi influenciado pela queda de 13% na rentabilidade dos embarques da indústria extrativa.

Os dados são da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex). Daiane Santos, economista da Funcex, destaca que o comportamento distinto de rentabilidade entre os setores foi influenciado principalmente por preços, porque o custo de produção teve crescimento perto de zero nos três grandes grupos enquanto a valorização nominal do real frente ao dólar ficou próxima de 1%, sempre considerando o primeiro trimestre de 2023 em relação a iguais meses do ano passado.

Parte importante dos custos de produção ainda está com preços altos”
— Welber Barral

“As elevações nos preços da indústria de transformação foram primordiais para o aumento de rentabilidade da agregação, visto que o custo de produção e o câmbio nominal tiveram efeitos marginais”, diz Daiane. Segundo dados da Funcex, os preços médios de exportação da indústria de transformação avançaram 4% de janeiro a março deste ano contra igual período de 2022. Nos setores não industriais, diz Daiane, o aumento de 8% nos preços médios de exportação também exerceu força positiva, em igual comparação.

Em sentido oposto, a queda de margem da indústria extrativa foi afetada pela redução média de 13% nos preços dos embarques do setor no primeiro trimestre. Daiane lembra que essa indústria também apresentou queda de rentabilidade na exportação no primeiro trimestre de 2022, com recuo de 15%, sempre contra iguais meses do ano anterior. As perdas de rentabilidade, porém, não tiveram a mesma causa, destaca.

De 2021 para 2022, lembra, o declínio da rentabilidade foi provocado principalmente pela pressão nos custos de produção. De janeiro a março de 2022, o custo de produção da indústria extrativa aumentou 20%. Isso, aliado à valorização nominal de 4% do real em relação ao dólar no período, mitigou o aumento nos preços médios de exportação.

Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior e sócio da consultoria BMJ, lembra que, apesar do processo de ajuste, parte importante dos custos de produção para exportação, como fretes, ainda está com preços relativamente altos. “Ainda que haja uma acomodação de custo este ano, a base é elevada”, destaca. Dados da Funcex mostram que o custo de produção da exportação da indústria de transformação subiu 21% no primeiro trimestre de 2022. Nos não industriais, a alta foi de 18%.

Daiane salienta que a indústria extrativa enfrenta ainda arrefecimento das cotações. Isso deve afetar negativamente a rentabilidade dos embarques do setor e as expectativas, diz a economista, é que o câmbio não vai compensar em 2023 o declínio esperado de preços nesse grupo.

Barral destaca que a tendência de acomodação de preços nos diversos itens da pauta exportadora brasileira está em consonância com a desaceleração global. Os dados da Funcex mostram que no primeiro trimestre do ano passado o desempenho de preços médios foi mais favorável à rentabilidade do exportador nos três grandes grupos de atividade. Nos não industriais o preço médio de exportação subiu 33% de janeiro a março de 2022 contra iguais meses do ano anterior. Na mesma comparação os preços da indústria extrativa subiram 8%, e os da indústria de transformação, 19%.

Embora o minério de ferro e alguns produtos agrícolas ainda estejam sujeitos a oscilações de preços em razão de expectativas de crescimento da China e do conflito entre Rússia e Ucrânia, o quadro de ajuste de preços e o de acomodação de custos de produção em patamar relativamente alto integram o cenário esperado para o ano, diz Barral. “Isso só muda se houver recuperação rápida do mercado internacional, o que não deve acontecer, ou se houver ganho de eficiência na exportação da indústria de transformação, o que também não acontece de um hora para outra. Talvez haja alguma oscilação de preços em razão de alguma questão climática ou de oferta, mas deve ser conjuntural.”

Outra variável que poderia fazer diferença seria um crescimento mais acelerado da China, diz Barral. Para ele, porém, a economia chinesa deve avançar perto de 4% neste ano, em ritmo baixo para o padrão do país asiático.

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