Os juros futuros voltaram a subir no pregão desta sexta-feira (28), registrando a quarta sessão consecutiva de elevação, à medida que agentes financeiros seguem denotando preocupação com a condução da política econômica do governo.
Operadores apontam que o mercado segue em uma posição de fragilidade técnica e, neste contexto, o aumento dos ruídos provocados pelas declarações de Lula, em meio a um contexto internacional desafiador, acabaram contribuindo, mais uma vez, para a deterioração adicional dos ativos locais.
No fim do dia, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 subiu de 10,62% do ajuste anterior para 10,77%; a do DI para janeiro de 2026 avançou de 11,31% para 11,59%; a do DI para janeiro de 2027 subiu de 11,715% para 11,97% e a do DI para janeiro de 2029 saltou de 12,12% para 12,35%.
O comportamento da curva de juros se mostrou bastante alinhado ao do real, que também registrou uma sessão de desempenho ruim. O dólar fechou em alta de 1,46%, negociado a R$ 5,5884, após encostar nos R$ 5,60 nas máximas do dia.
Os reflexos desse estresse também já são incorporados na curva de juros e os agentes precificam, neste momento, uma elevação de 1 ponto percentual (p.p.) na Selic ainda em 2024 e altas de juros também ao longo de 2025, com a taxa de juros encerrando o período perto dos 12,5%.
No mercado de opções digitais de Copom, a probabilidade de manutenção da Selic em julho caiu de 90% para 85%, enquanto a chance de uma alta de 0,5 ponto percentual cresceu de 4,2% para 8%. As apostas em torno de uma alta de 0,25 ponto giram em torno dos 3% e de um corte de 0,25 ponto rondam os 2%.
A semana foi de volatilidade elevada nos mercados locais, marcada pela reação negativa dos agentes às declarações do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. Hoje, a dinâmica não foi diferente e os ativos brasileiros exibiram novo dia de piora, mesmo diante de uma recuperação nos pares globais. "Tem sido difícil de entender o Brasil. É uma dinâmica própria e péssima. A piora é constante e acontece todo dia", aponta o tesoureiro de um banco local.
No contexto em que o mercado já exibe uma posição técnica bastante leve e com a dinâmica bastante negativa dos últimos dias, a ação dos preços acaba ficando sensível aos ruídos políticos. Hoje, Lula afirmou que a taxa de juros de 10,5% é irreal para uma inflação de 4% e que "isso vai melhorar quando eu puder indicar o novo presidente do BC e a gente vai construir uma nova filosofia".
"Todas essas declarações acabam tendo efeito. O Lula está bastante agressivo e o mercado está frágil. Então tudo de ruim que ele fala, atrapalha, e ele tem caído em todas as cascas de banana. Ele não precisa ficar enfrentando o mercado, deveria governar e entender as mensagens que o mercado está passando", afirma outro profissional da tesouraria de um banco. Mesmo assim, ele acredita que os preços já se encontram muito exagerados e um alívio deve ocorrer em breve.
Segundo o estrategista de uma corretora, a dinâmica ruim do mercado local deve persistir até que o governo dê indicações mais claras de medidas fiscais para conter o avanço das despesas. “É como eu tenho dito nos últimos dias. A dinâmica do 'no news, bad news' [sem notícias, más notícias], deve continuar”, afirma.
![— Foto: Karolina Grabowska/Pexels](https://s2-valor.glbimg.com/K3KRJpj36i3YnQ1tCVPqhoNRqQE=/0x0:3973x3857/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_63b422c2caee4269b8b34177e8876b93/internal_photos/bs/2022/J/m/3ygaGBSiy5GjtOpCH6yg/taxas-juros-percentual-karolina-grabowska-pexels.jpg)