Nos últimos 20 anos, as pautas ESG se consolidaram globalmente, iniciadas pela provocação de Kofi Annan, então Secretário-Geral da ONU em 2004, preocupado com a sustentabilidade do planeta. Melhorias nas áreas ambiental, social e de governança se tornaram essenciais, com a área financeira desempenhando um papel crucial na gestão das organizações e na alocação de recursos adequados para implementar medidas ESG.
O "G" da sigla representa a governança, que tem se fortalecido nas empresas com o apoio do ecossistema de negócios. Novas regras foram criadas nos mercados regulados, no mercado de capitais, nas negociações com fornecedores e nas instituições financeiras, que para a concessão de crédito, agora avaliam como as empresas se organizam, gerenciam seus negócios e tratam a sustentabilidade.
Empresas mais evoluídas e preocupadas com sua perenidade têm profissionalizado seus corpos diretivos e introduzido membros independentes nos conselhos de administração, fiscal e consultivo, promovendo a inclusão e a diversidade. Conselhos diversos geram mais valor às organizações. Novos códigos de conduta, formas de comunicação sobre fraude e corrupção, controles internos para identificar e mitigar riscos empresariais, e novas políticas também têm reformulado o arcabouço empresarial brasileiro, cada vez mais exposto aos mercados internacionais e com necessária adaptação.
Já o "S" da sigla representa a questão social, envolvendo a melhoria da qualidade de vida por meio da erradicação da pobreza e da fome, redução das desigualdades, promoção de saúde e educação de qualidade, acesso a água e saneamento, e igualdade de gênero nas organizações.
Há uma intersecção entre o "S" e o "G" nas ações promovidas pela governança das empresas na contratação de pessoas diversas em termos de raça, gênero, idade, condição física e orientação sexual, estimulando desenvolvimento e melhor qualidade de vida. Neste contexto, muitos CFOs (Chief Financial Officers) têm liderado a busca por recursos para incentivar ações sociais bem-sucedidas em suas organizações.
Por fim, o "E" refere-se às questões ambientais, que nas últimas décadas têm gerado um alerta global devido à ocorrência de grandes desastres naturais, aquecimento global, desmatamento, poluição do ar e do mar, e a necessidade de preservar a biodiversidade e o equilíbrio natural do planeta.
Exemplo disto está no Brasil como o principal player do agronegócio mundial, com agricultura altamente tecnológica e produtiva, mas que desde a década de 1970 enfrenta o crescimento descontrolado do desmatamento para expansão agrícola, muitas vezes causado por “grilagem”, ou seja, política ilegal de apropriação de terras. Efeitos climáticos, como o El Niño e a La Niña, também se tornam mais extremos e prejudiciais como um efeito do desmatamento descontrolado.
Recentemente, o mundo inteiro chocou-se ao ver o pior desastre natural que o estado do Rio Grande do Sul já passou em toda a sua história. Em apenas alguns dias, uma quantidade extraordinária de chuva causou inundações devastadoras em Porto Alegre e em muitos outros municípios, resultando em perdas humanas, com mais de 150 mortos e muitos desaparecidos, além de perdas de vidas animais e de materiais. A calamidade afetou a maioria dos municípios do Estado, deixando grande parte de Porto Alegre submersa, algo sem precedentes. As consequências desse desastre ainda estão sendo avaliadas, com centenas de milhares de desalojados e um esforço nacional em andamento para apoiar a população afetada.
O que está ocorrendo atualmente no Rio Grande do Sul parece ser a pior enchente dos últimos anos. No entanto, desde 2020, enfrentamos alagamentos significativos em Manaus, Recife, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e em outras partes do país, acompanhados de deslizamentos de terra e perdas humanas. Além disso, recentemente sofremos com secas que devastaram parte da produção rural no sul do Brasil.
Não é mais possível pensar em sustentabilidade sem que haja o engajamento em ações ambientais, sociais e na implementação adequada da governança corporativa. É de responsabilidade dos estados o comprometimento com ações afirmativas e regulamentações, mas cabe às empresas a busca por iniciativas que promovam o compromisso com a sustentabilidade do planeta e da vida humana.
A área financeira, liderada pelo CFO, desempenha um papel crucial na implementação da agenda ESG de uma organização. O CFO integra essas metas na estratégia financeira, alinhando iniciativas de sustentabilidade aos objetivos econômicos de longo prazo. Isso inclui a gestão de recursos para práticas sustentáveis, a avaliação de riscos e oportunidades relacionados ao ESG, e a comunicação transparente do desempenho dessa agenda às partes interessadas. Utilizando ferramentas financeiras e análise de dados, o CFO pode incentivar investimentos em tecnologias verdes, promover práticas socialmente responsáveis e aprimorar a governança, assegurando que a agenda ESG contribua para a criação de valor e a resiliência da organização.
Sobre a autora
Rosana Passos de Pádua é conselheira de Administração do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças de São Paulo (IBEF-SP), consultora e palestrante. Matemática com MBA em finanças e riscos pela USP e Mestrado em ciências contábeis e atuariais pela PUC-SP. Com 43 anos de vida executiva, ela passou os últimos três anos como presidente da Coface do Brasil. Antes, estava no cargo de diretora financeira (CFO) da Lavoro, investida do grupo Pátria. Durante oito anos foi diretora de Finanças, Riscos, Compliance, Auditoria e Recursos Humanos na CSN (Cia Siderurgica Nacional). É conselheira de administração de diversas empresas desde 2012. Foi diretora financeira e de controladoria na BASF por 25 anos e no início da carreira, passou cinco anos no Bradesco.
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