'Hamster Kombat': conheça o jogo blockchain que diz ter mais usuários que a população brasileira

O “Hamster Kombat” é um jogo eletrônico que funciona dentro do Telegram e permite que seus usuários criem hamsters para serem CEOs de exchanges de criptomoedas fictícias. O objetivo do jogo é conseguir o máximo de moedas possíveis do dinheiro que existe dentro do mundo do game. Para isso, é preciso gastar essa moeda in-game para completar missões como contratar um time de TI para a sua corretora, abrir um escritório em Dubai, melhorar os procedimentos anti-lavagem de dinheiro, entre outras coisas que fazem parte do dia a dia das exchanges cripto do mundo real.

No entanto, a jogabilidade de simulação de corretora de moedas digitais é só uma parte do apelo do game, uma vez que grande parte dos usuários foi atraído para ele devido à sua autoproclamada estratégia “play to earn” (jogue para ganhar dinheiro). Uma das abas no menu do jogo promete que quem jogá-lo irá receber um airdrop (recompensa em criptomoedas conversíveis em dinheiro real) em sua carteira digital de toncoins (TON).

A toncoin é a criptomoeda nativa da blockchain The Open Network, que foi desenvolvida em 2017 justamente pelos criadores do Telegram. Embora muito menor, a blockchain TON funciona como um concorrente do Ethereum, pois permite que programadores criem contratos inteligentes para o desenvolvimento de aplicações e a realização de transações dentro da rede. Desde o ano passado, a TON é integrada com o aplicativo de mensagens fundado por Pavel Durov.

Graças a essa integração, o acesso ao “Hamster Kombat” é feito diretamente pelo app do Telegram e o jogo roda como uma aplicação dentro de uma conversa com um perfil da rede social.

Assim como muitos jogos de celular, o “Hamster Kombat” tem missões diárias, e a própria natureza delas acaba reforçando o efeito de rede. Na aba “earn”, o jogo pede para que os usuários convidem mais três pessoas para jogarem, e alguns dos cards de objetivos, como “Vila para o time de desenvolvedores”, só podem ser obtidos se o jogador conseguir trazer pelo menos cinco pessoas para o game. Algumas pessoas criticam que a estratégia é bastante similar à de pirâmides financeiras.

“Eu evito o @hamster_kombat porque é exagerado e parece um esquema #ponzi que apenas usa a comunidade para reconhecimento global”, escreveu um usuário da rede social X (Twitter) ontem.

"Hamster não é cripto e nunca será. Não é para pagamentos, não é para poupar, não é para jogar. O que os usuários aprenderão eventualmente é o que é um esquema de pirâmide", postou outro usuário.

Segundo Tasso Lago, especialista em criptomoedas e fundador da Financial Move, o próprio número de mais de 200 milhões de jogadores simultâneos é bastante questionável, pois é muito discrepante daquele registrado por outros games do tipo. Em 14 de junho, o “Hamster Kombat” tinha 148 milhões de média de usuários mensais (MAU, na sigla em inglês), segundo estudo do fundo Folius Ventures, enquanto o segundo e o terceiro jogos mais populares do tipo, “TapSwap” e “Notcoin”, tinham respectivamente 55 milhões e 40 milhões de MAUs.

“Acredito que grande parte desses usuários sejam bots, mas é um jogo hypado nos bastidores. Não considero como um investimento de longo prazo, mas ser pirâmide ou não é relativo”, argumenta.

André Franco, head de análise do MB, diz que não dá para qualificar o jogo como uma pirâmide ainda, pois os usuários não estão colocando dinheiro real nele. Todavia, Franco alerta que quem espera um airdrop gordo, de mais de US$ 200, por jogar o jogo deve se decepcionar bastante. “Se acreditarmos que eles têm realmente 250 milhões de jogadores, um airdrop de US$ 1 por jogador já daria US$ 250 milhões. Quem está entrando no jogo agora deve perder muito mais tempo do que vai ganhar dinheiro”, avalia.

Além do airdrop, os desenvolvedores do “Hamster Kombat” dizem que o jogo também terá novos casos de uso a partir deste mês. A promessa é que os jogadores possam usar seus tokens para diversos propósitos no ecossistema das finanças de games blockchain (GameFi).

Pavel Durov disse recentemente que o “Hamster Kombat” é o “serviço digital de crescimento mais rápido do mundo” e que será o líder de uma “nova onda” de miniaplicativos. Para André Franco, este ponto pode sim, ser verdade.