O escritor albanês Ismail Kadaré, autor de uma obra monumental sobre a tirania comunista de Enver Hoxha, faleceu nesta segunda-feira aos 88 anos, anunciaram sua editora e um hospital de Tirana à AFP. Kadaré não resistiu a um ataque cardíaco, informou o hospital de Tirana. Ele chegou “sem sinais de vida” e os médicos fizeram uma massagem cardíaca, mas “ele morreu por volta das 8H40” (horário local, 3H40 de Brasília), segundo o centro médico.
Etnógrafo e romancista sarcástico que alternava entre o grotesco e o épico, Kadaré explorou os mitos e a história de seu país para dissecar os mecanismos do totalitarismo, um mal universal. A Albânia viveu durante décadas sob a ditadura de Enver Hoxha, um dos regimes mais fechados do mundo.
Kadaré construiu uma obra monumental ao utilizar a literatura como um instrumento da liberdade sob a tirania comunista de Enver Hoxha, uma das piores ditaduras do século XX. Sua obra foi traduzida para mais de 40 idiomas.
A Albânia viveu durante décadas sob a ditadura de Enver Hoxha, um dos regimes mais fechados do mundo.
“O inferno comunista, como qualquer outro inferno, é sufocante”, disse o escritor à AFP em uma das suas últimas entrevistas, em outubro.
“Mas na literatura, isto se transforma em uma força vital, uma força que ajuda você a sobreviver, a vencer a ditadura com a cabeça erguida”, disse.
A literatura “me deu tudo o que tenho, foi o sentido da minha vida, deu a coragem de resistir, a felicidade, a esperança de superar tudo”, explicou, já debilitado, em sua casa em Tirana.
Nascido em 28 de janeiro de 1936 em Gjirokaster, no sul do país, Ismail Kadaré estudou em Tirana e depois no Instituto Gorky, em Moscou. Ele mencionou os anos de aprendizado em “Crepúsculo dos Deuses das Estepes” (1978).
Um dos romances que o tornou famoso foi “O General do Exército Morto” (1965), episódio tragicômico da Segunda Guerra Mundial, que conta a história de um general italiano que pretende buscar os restos mortais de seus soldados.
Ele trata da ocupação otomana em “Os tambores da chuva” (1970) e “A Ponte dos Três Arcos” (1978), entre outros. A ocupação italiana é abordada em “Crônica na Pedra” (1970). Outras obras foram inspiradas em tradições e lendas albanesas.