![Julia Bretz, da JGP: crédito estruturado para garantir adicionalidade — Foto: Leo Pinheiro/Valor](https://s2-valor.glbimg.com/aedB-cd1oYLotKo4Eh_D8O7PajI=/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_63b422c2caee4269b8b34177e8876b93/internal_photos/bs/2023/G/G/l3qu5mSwyq1Hpofn0zAw/foto14rel-201-investi-f2.jpg)
Dois fundos de investimentos internacionais ligados à tese climática acabam de chegar ao Brasil, o BNP Paribas Energy Transition, da gestora francesa BNP Paribas Asset Management, e o Templeton Global Climate Change, da americana Franklin Templeton.
Em paralelo, gestores brasileiros se movimentam. A JGP Asset Management mantém há quase três anos um produto de crédito privado com foco em clima e soluções baseadas na natureza que aplica em 14 projetos. A gestora de investimentos alternativos eB Capital já captou para um fundo de clima, enquanto a Fama Investimentos se prepara para lançar seu primeiro na temática. Além disso, fundos de investimento de impacto, como Vox Capital, Good Karma Partners, Positive Ventures e MOV, já prospectam startups e negócios em crescimento com olhar para descarbonização, soluções socioambientais e preservação de florestas.
Todo esse movimento evidencia duas coisas: que a estratégia climática já atrai capital e que essas casas veem, nos investidores brasileiros, apetite para este perfil de produto, em especial os institucionais, como fundos de pensão, seguradoras e outros fundos de investimentos, que visam retornos a médio e longo prazos. Ainda que a alta taxa de juros no Brasil atrapalhe, a aposta das casas é na retomada, em breve, da procura por diversificação dos portfólios, em um momento em que os temas ESG (sigla em inglês para questões ambientais, sociais e de governança corporativa) estão em evidência.
“Faz sentido ter produtos temáticos em ESG porque é uma estratégia importante no médio e longo prazos, e não moda passageira. Nossa estratégia é olhar as oportunidades oferecidas globalmente para construir uma boa diversificação para clientes", comenta Luiz Sorge, CEO da BNP Asset no Brasil. Com o novo produto, a casa já tem dois fundos globais com tese ESG.
Prova de que as gestoras estão mais engajadas na pauta climática é o número de signatárias da The Net Zero Asset Managers Initiative, criada em dezembro de 2020 para ajudar na redução de gases de efeito estufa (GEE) dos portfólios. São 301 membros que administram US$ 59 trilhões e se comprometeram a chegar ao net zero até 2050. Na lista, estão as brasileiras JGP, Fama e eB Capital, assim como internacionais com operação aqui, como BlackRock, BNP e Templeton.
Relatório da consultoria McKinsey e do Institute of International Finance (IIF) traz estimativa de que as gestoras serão responsáveis por oferecer de US$ 950 bilhões a US$ 1,5 trilhão por ano, até 2050, entre alocações em ações, crédito privado, venture capital e private equity para oportunidades ligadas ao clima. Na Morningstar, plataforma que congrega informações sobre fundos, há cerca de cem produtos na categoria “Equity Ecology” - ainda é difícil saber quantos têm especificamente tese climática.
“Mesmo com o Acordo de Paris e a busca por energia limpa, materiais menos poluentes e circularidade, as emissões de gases de efeito estufa (GEE) continuam a subir. Mas vemos que há também muitas pessoas levando a sério a descarbonização. Buscamos, assim, negócios que são vencedores por já estarem em velocidade acelerada na mudança climática”, afirma Craig Cameron, gestor de portfólio de investimentos da Templeton.
O fundo, que opera desde 2018, hoje investe seu patrimônio de € 1,24 bilhão em cerca de 40 empresas que desenvolvem produtos e/ou serviços que ajudem a reduzir os GEE.
Para Daniel Sandoval, diretor comercial da Rio Bravo, distribuidor do produto da Templeton, fundos como este podem trazer vantagem competitiva para a gestora. “O mercado financeiro, onde o dinheiro está, vai começar a exigir mais informações de sustentabilidade das empresas, assim como a regulação”, diz.
Já o produto da BNP Asset tem um olhar mais direcionado, ao buscar negócios que estão no mercado de transição energética. “Nossa estratégia não é escolher as melhores em indicadores [escore] ESG, mas ir além. Só ser consciente sobre as mudanças climáticas não é suficiente, investimos em companhias que ajudam a lidar com os desafios da transição”, explica Edward Lees, gestor de estratégias sustentáveis da casa. Lançado em 2019, o fundo tem 65 ações no portfólio e soma patrimônio líquido de US$ 2 bilhões. Em euro, rendeu 6% em 12 meses até fevereiro ante queda de 3% do MSCI AC World Index.
“O investidor não precisa abrir mão de resultado para contribuir com o impacto positivo”, comenta José Pugas, sócio da JGP e responsável por ESG e estratégias de crédito sustentável da asset. O JGP Crédito ESG, lançado há 31 meses, se destaca por render mais do que os outros fundos de crédito da casa e não ter resultado negativo mensal. Em 2022, deu CDI mais 3,20% de retorno.
A estratégia mudou ao longo do tempo para diminuir aplicações em energia renovável e aumentar as de soluções baseadas na natureza, como bioinsumos, bioeconomia e produtos florestais não-madeireiros.
Julia Bretz, sócia e analista de crédito da JGP Asset, responsável pela seleção da carteira do fundo, explica que, para conseguir manter a nova tese, a gestora deixou de comprar títulos de dívida disponíveis no mercado para estruturar seus próprios. “Passamos a fazer crédito estruturado, desenhando junto com a empresa e parceiros a emissão e garantindo a adicionalidade, ou seja, o benefício gerado pelo projeto socioambiental”, conta a gestora. “Se só pegarmos produtos que estão disponíveis no mercado, não teríamos nada para entregar de diferente. Agora temos uma estratégia diferenciada.”
Agora, a casa quer usar a metodologia desenvolvida para aplicar em outros tipos de produtos.