Uma das maiores apostas das empresas de petróleo e gás em suas estratégias de descarbonização é a aplicação das tecnologias conhecidas como CCUS, sigla em inglês para captura, uso e armazenamento de carbono. A técnica permite separar o CO2 do gás natural e reinjetá-lo no reservatório de onde saiu, o que evita que esse gás de efeito estufa seja lançado na atmosfera. Atualmente, as 21 plataformas que produzem no pré-sal da Bacia de Santos operadas pela Petrobras incorporam a tecnologia, cujo uso bateu recordes em 2022. Foram reinjetadas o equivalente a 10,6 milhões de toneladas de dióxido de carbono, uma fatia de 25% de todo o CO2 injetado pela indústria do petróleo no ano passado, o que coloca a Petrobras na liderança mundial na utilização da tecnologia.
Essa é uma das frentes que compõem a estratégia de baixo carbono da petrolífera, que prevê um aumento do teto de investimentos (Capex, na sigla em inglês) para projetos com esse perfil, que passam de 6% para 15%, de acordo com a revisão do plano estratégico da companhia para o período 2024-2028, anunciado no início de junho. Estão previstos US$ 4,4 bilhões (R$ 21,3 bilhões) para descarbonização de operações, produção e oferta de bioprodutos - entre eles, diesel renovável e querosene de aviação sustentável - além de pesquisa e desenvolvimento de baixo carbono. A Petrobras criou um fundo dedicado a projetos de descarbonização, que prevê um orçamento de US$ 600 milhões (R$ 2,9 bilhões) para o quinquênio, que teve sua primeira carteira de projetos aprovada em 2022, contemplando projetos nas áreas de exploração e produção, refino, gás natural e logística.
Em março, a estatal publicou seu caderno de clima, onde aponta redução de 39% nas emissões absolutas operacionais de gases de efeito estufa de 2015 a 2022, resultado apoiado pela queda de 67% nas emissões do metano no período e por ganhos de eficiência. Também se comprometeu a reduzir em 30% até 2030 as emissões absolutas operacionais totais em comparação com 2015. No caso das tecnologias de CCUS, a meta é alcançar 80 milhões de toneladas de CO2 reinjetadas até 2025.
“Empresas verticalizadas como a Petrobras podem utilizar um conjunto de tecnologias de forma efetiva”, diz Cristina Pinho, que faz parte do conselho de empresas do setor e também do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC). Na Petrobras, onde trabalhou por 31 anos, Pinho foi a primeira mulher a gerenciar uma plataforma semi-submersível no Brasil e viu de perto o avanço da tecnologia. “Nos próximos anos, o Brasil deve galgar posições como exportador de petróleo porque o mercado tenderá a valorizar o óleo e o gás natural produzidos com menor emissão de carbono”.
A Eneva, geradora de energia e operadora de gás natural onshore, prevê o aporte, até 2030, de R$ 500 milhões em tecnologias de baixo carbono. A empresa opera 12 campos de gás natural nas bacias de Parnaíba (MA) e do rio Amazonas, além de 4 blocos exploratórios na bacia do rio Paraná, no Mato Grosso do Sul, além de gerar energia em termelétricas a gás no Maranhão, Ceará, Sergipe e Roraima. Mais recentemente, entrou para o segmento de energia renovável, onde começou a operar comercialmente o complexo solar Futura 1 em Juazeiro, na Bahia, cotado para ser um dos maiores parques fotovoltaicos da América Latina, com 837 MWp de potência instalada em 1,4 milhão de placas fotovoltaicas. Segundo Anita Baggio, diretora de ESG, saúde & segurança e comunicação da Eneva, a comercialização de energia no mercado livre é um dos principais motores da entrada em renováveis. “Com a entrada em solar, vamos prover energia limpa aos clientes do setor privado que querem descarbonizar suas cadeias”, afirma.