Dono de uma pousada entre as praias de Massaguaçu e Cocanha, em Caraguatatuba, litoral norte de São Paulo, Rodrigo Tavano passou o mês de março pendurado no telefone. Ao contrário dos anos anteriores, porém, não eram turistas querendo reservar uma das 34 suítes da Pousada Vivendas Sol e Mar, que ele mantém desde 1998. “Foram 250 cancelamentos só na primeira semana depois do desastre em São Sebastião”, diz ele, em referência às chuvas com volume histórico que deixaram 64 mortos e mais de 250 famílias desabrigadas, em fevereiro. Tavano calcula em cerca de R$ 200 mil o prejuízo nos primeiros dias após a tragédia e garante que o impacto sobre a rede hoteleira da região foi semelhante ao da pandemia.
Apesar do quadro, semelhante ao ocorrido em Petrópolis, região serrana do Rio, em 2022, que vitimou 241 pessoas, deixou milhares de desabrigados e um prejuízo financeiro estimado pela Fecomercio em R$ 78 milhões, Tavano, que também é vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (Abih), em São Paulo, diz que os empresários locais aguardam providências do poder público para evitar novas tragédias. Ele diz que os esforços dos donos de hotéis da região por operações mais sustentáveis se concentram na busca de fontes de energia renovável e de economia de água.
Não há estudos nem mapeamento das ações de sustentabilidade nos hotéis brasileiros, de acordo com Vanessa Martins, gerente geral do hotel Renaissance, em São Paulo, e também vice-presidente da Abih-SP. Principalmente, diz ela, por se tratar de um segmento dominado por pequenos empreendimentos. Nas grandes redes, porém, a situação é outra.
A rede Marriott, que controla a Renaissance, tem metas ambiciosas de descarbonização das operações, como zerar a pegada de carbono até 2050 e, até 2025, reduzir em 15% o consumo de água e em 50% o desperdício de alimentos. “A realidade é diferente entre hotéis de pequeno porte, mas sabemos que há algumas ações isoladas em andamento”, afirma Martins.
Reduzir a pegada de carbono é um passo para minimizar os efeitos das mudanças climáticas, mas está longe de ser o único desafio para o turismo sustentável. “Passada a pandemia, a busca pelo turismo de natureza aumentou e trouxe problemas como a superlotação, especialmente dos destinos mais badalados, como Bonito (MS)”, afirma Luiz Del Vigna, diretor-executivo da Associação Brasileira das Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura (Abeta).
“Estive em Bonito recentemente e fiquei impressionado com a modernização das hospedagens. Mas também me impressionou o aumento considerável de turistas, do custo de vida dos locais e até do número de animais mortos, porque andaram asfaltando algumas estradas e não há controle de velocidade. É preciso entender que, quanto mais se estimula o turismo, mais problemas surgem.”
Del Vigna diz que não há estatísticas sobre o desempenho do ecoturismo no Brasil, mas que é possível estimar crescimento de dois dígitos ao ano.
Com 1.976 filiados, a Associação Brasileira das Agências de Viagem (Abav) vai aproveitar sua feira anual, que acontece em setembro, no Rio de Janeiro, para iniciar um levantamento de práticas sustentáveis entre seus associados, de acordo com a diretora-executiva da entidade, Jerusa Hara. “Estamos trabalhando na criação de parâmetros para criar um selo de sustentabilidade para o nosso setor”, afirma a executiva. Ela diz que há consciência dos operadores de viagem sobre a tendência que, cada vez mais, os turistas escolhem o destino com base em critérios sustentáveis.