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Por Gilberto Guimarães

Gilberto Guimarães é professor e diretor da GG Consulting. Faz treinamentos sobre gestão de mudanças, desenvolvimento de talentos e liderança positiva.


>> Envie sua pergunta, acompanhada de seu cargo e sua idade, para: [email protected]

"Acabei de sair de um emprego por conta do ambiente de trabalho muito desagradável. Meu chefe era bastante tóxico e abusava da equipe em geral. Consegui encontrar outra oportunidade e sair de lá, ainda bem. No entanto, fiquei sabendo de alguns conhecidos que foram chamados para trabalhar lá e estão considerando a possibilidade, sem saber das reais condições. Devo avisá-los?" Programador, 31 anos

Definitivamente, sim. Você deve avisá-los. Não só a seus amigos e possíveis interessados em trabalhar lá, mas para todo mundo, sempre. É importante expor e deixar claro porque estava querendo sair daquela empresa, e como conseguiu.

Para seus amigos e interessados você pode falar diretamente. Já para o mercado em geral, talvez não precise se expor tão abertamente. Pode divulgar usando os sites especializados sobre informações de empresas do tipo Glassdoor ou outros similares. Existem vários.

Colunista afirma que é situações de assédio moral e abuso psicológico no ambiente de trabalho devem sempre ser expostas para que outras pessoas não passem pelo mesmo — Foto: Pexels
Colunista afirma que é situações de assédio moral e abuso psicológico no ambiente de trabalho devem sempre ser expostas para que outras pessoas não passem pelo mesmo — Foto: Pexels

Porém, sempre que alguém perguntar em conversas ou entrevistas, fale tudo e seja direto, não divague. Apoie-se na verdade. Procure fazer colocações curtas, diretas e honestas. Fale de forma positiva e evite mostrar ressentimento, emoção ou críticas excessivas. Diga que em seu antigo emprego, o “chefe” era um tanto difícil. Seja direto e específico.

Esse problema tem que ser divulgado, discutido e trabalhado. É importante evitar que isso continue acontecendo. Infelizmente, a maioria das pessoas acaba se acostumando com as situações, por piores que sejam. O receio de ficar sem emprego ou fazer mudanças, além de uma dose de inércia, acabam prevalecendo e as pessoas são levadas a aceitar trabalhar ou permanecer onde estão, mesmo que seja em empregos com ambientes tóxicos, que não mais despertam paixão ou que não levarão a lugar algum.

A falta de valorização e a injustiça sempre doem e incomodam, mas com o passar do tempo, as dores são incorporadas e assumidas como parte do processo. No entanto, esse esforço de acomodação acaba gerando problemas físicos e psicológicos. Em ambientes tóxicos, críticos e desagradáveis as pessoas acabem vivendo uma situação clássica de desvalorização que quase sempre provoca perda de autoestima, estresse e burnout.

Não se sentir valorizado e respeitado pode ser uma das situações mais difíceis de serem vividas profissionalmente. É muito complicado ter que conviver com pessoas que nos criticam, desvalorizam e não confiam em nós, nem no nosso trabalho, e com quem não confiamos, nem admiramos. Não importa se a causa para a desconfiança e desvalorização sejam reais ou não. A desconfiança corrói e a desvalorização destrói.

Fica pior ainda quando a relação é assimétrica, ou seja, quando existe uma diferença de posicionamento hierárquico. É sempre muito mais difícil ser desprezado e desvalorizado por alguém de quem se depende, um chefe, por exemplo. Uma relação de respeito e confiança é sempre recíproca. Não existe essa relação em um só sentido.

Quando um chefe não confia em nós e nem nos valoriza, é certo que também não confiaremos nele. Profissionalmente, isto significa que se não há confiança, é pouco provável que se possa ter sucesso, ser promovido e feliz. Sem valorização e confiança não há engajamento, nem produtividade. Dessa forma, só pode existir uma relação baseada no controle e na imposição.

Infelizmente, é muito comum ter chefes pouco confiáveis. Muitos se aproveitam do “espírito de não confrontação” e do medo que os subordinados têm de perder o emprego, e os mantêm em um nível baixo de utilização e satisfação. E, pela legislação, esse tipo de situação e comportamento pode ser configurado como assédio moral. Entretanto, o que este tipo de “chefe” acaba provocando é muito pior e mais profundo.

Esta atitude de desprezo e desconsideração pelo outro nega a alguém a mais profunda necessidade humana, que é da aceitação, da valorização, do pertencimento. Demonstra sadismo e perversidade e está muito além de um problema judicial. Isto não quer dizer que não se deva buscar uma reparação judicial. Claro que sim. A lei precisa ser aplicada, mas o problema vai muito além disso. É, seguramente, uma questão de desvio comportamental grave. Uma atitude perversamente doentia.

Não é justo nem justificável tratar alguém dessa forma. É desumano e cruel. Um chefe assim deve ser, ainda, um homem profundamente doente. Moralmente comprometido. Um narcisista perverso, daqueles que parecem ser amáveis e encantadores, e usam da sedução para se aproximar, mas que criticam feroz e cruelmente quando se sentem inseguros, atacando e destruindo a autoestima, a autoconfiança e a autovalorização dos que os rodeiam.

Narcisistas perversos, geralmente, provocam brigas por questões triviais, insultam verbalmente e tendem a ser intrusivos e controladores. O pior é que eles não têm consciência do seu problema. Acreditam que estão certos e que não precisam mudar nada em si mesmos. A maioria dos narcisistas perversos sente-se livre para ignorar os pedidos de seus subordinados e "esquecer" de honrar quaisquer promessas feitas. Se o subordinado tentar ter uma conversa racional sobre o que parece injusto, ele provavelmente ficará furioso.

Pessoas com transtorno de personalidade narcisista também não estão dispostas a aceitar a responsabilidade por qualquer coisa que façam ou deixe seu subordinado infeliz e improdutivo. Eles podem mentir, distorcer a verdade, reescrever a história ou transferir a culpa e se apresentar como a verdadeira vítima. O que quer que queiram no momento é, geralmente, mais importante para eles do que a verdade real ou a felicidade e a produtividade de seu subordinado.

O maior problema para a empresa é que todas as emoções são contagiosas. O comportamento de um chefe é ainda mais contagioso e tem um efeito exponencialmente multiplicador no grupo e na organização. Ou seja, quando um chefe impõe esse tipo de atitude à sua equipe, todos passam a desenvolver um procedimento similar nas relações pessoais e com o mundo externo. Isso automaticamente se dissemina e o clima organizacional fica péssimo. Neste ambiente negativo, a capacidade cognitiva e a criatividade desaparecem.

Chefes inadequados destroem a produtividade. As empresas, em especial, as pessoas que estão na liderança, têm que assumir e resolver o problema. É preciso evitar esse tipo de pessoa. A fonte de contágio de energia negativa tem que ser eliminada. Portanto, situações como essas têm que ser divulgadas. E toda divulgação ainda é pouco.

Gilberto Guimarães é diretor da GG Consulting e professor

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Esta coluna se propõe a responder questões relativas à carreira e a situações vividas no mundo corporativo. Ela reflete a opinião dos consultores e não a do Valor Econômico. O jornal não se responsabiliza nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações.

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