>> Envie sua pergunta, acompanhada de seu cargo e sua idade, para: [email protected]
"Acabei de sair de um emprego por conta do ambiente de trabalho muito desagradável. Meu chefe era bastante tóxico e abusava da equipe em geral. Consegui encontrar outra oportunidade e sair de lá, ainda bem. No entanto, fiquei sabendo de alguns conhecidos que foram chamados para trabalhar lá e estão considerando a possibilidade, sem saber das reais condições. Devo avisá-los?" Programador, 31 anos
Definitivamente, sim. Você deve avisá-los. Não só a seus amigos e possíveis interessados em trabalhar lá, mas para todo mundo, sempre. É importante expor e deixar claro porque estava querendo sair daquela empresa, e como conseguiu.
Para seus amigos e interessados você pode falar diretamente. Já para o mercado em geral, talvez não precise se expor tão abertamente. Pode divulgar usando os sites especializados sobre informações de empresas do tipo Glassdoor ou outros similares. Existem vários.
![Colunista afirma que é situações de assédio moral e abuso psicológico no ambiente de trabalho devem sempre ser expostas para que outras pessoas não passem pelo mesmo — Foto: Pexels](https://s2-valor.glbimg.com/zwPfkf6pUM4mJbbZBCZwAZTX97Q=/0x0:5794x3863/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_63b422c2caee4269b8b34177e8876b93/internal_photos/bs/2023/W/o/uZwn4HRpScPDRu6QttbQ/pexels-yan-krukau-7640484.jpg)
Porém, sempre que alguém perguntar em conversas ou entrevistas, fale tudo e seja direto, não divague. Apoie-se na verdade. Procure fazer colocações curtas, diretas e honestas. Fale de forma positiva e evite mostrar ressentimento, emoção ou críticas excessivas. Diga que em seu antigo emprego, o “chefe” era um tanto difícil. Seja direto e específico.
Esse problema tem que ser divulgado, discutido e trabalhado. É importante evitar que isso continue acontecendo. Infelizmente, a maioria das pessoas acaba se acostumando com as situações, por piores que sejam. O receio de ficar sem emprego ou fazer mudanças, além de uma dose de inércia, acabam prevalecendo e as pessoas são levadas a aceitar trabalhar ou permanecer onde estão, mesmo que seja em empregos com ambientes tóxicos, que não mais despertam paixão ou que não levarão a lugar algum.
A falta de valorização e a injustiça sempre doem e incomodam, mas com o passar do tempo, as dores são incorporadas e assumidas como parte do processo. No entanto, esse esforço de acomodação acaba gerando problemas físicos e psicológicos. Em ambientes tóxicos, críticos e desagradáveis as pessoas acabem vivendo uma situação clássica de desvalorização que quase sempre provoca perda de autoestima, estresse e burnout.
Não se sentir valorizado e respeitado pode ser uma das situações mais difíceis de serem vividas profissionalmente. É muito complicado ter que conviver com pessoas que nos criticam, desvalorizam e não confiam em nós, nem no nosso trabalho, e com quem não confiamos, nem admiramos. Não importa se a causa para a desconfiança e desvalorização sejam reais ou não. A desconfiança corrói e a desvalorização destrói.
Fica pior ainda quando a relação é assimétrica, ou seja, quando existe uma diferença de posicionamento hierárquico. É sempre muito mais difícil ser desprezado e desvalorizado por alguém de quem se depende, um chefe, por exemplo. Uma relação de respeito e confiança é sempre recíproca. Não existe essa relação em um só sentido.
Quando um chefe não confia em nós e nem nos valoriza, é certo que também não confiaremos nele. Profissionalmente, isto significa que se não há confiança, é pouco provável que se possa ter sucesso, ser promovido e feliz. Sem valorização e confiança não há engajamento, nem produtividade. Dessa forma, só pode existir uma relação baseada no controle e na imposição.
Infelizmente, é muito comum ter chefes pouco confiáveis. Muitos se aproveitam do “espírito de não confrontação” e do medo que os subordinados têm de perder o emprego, e os mantêm em um nível baixo de utilização e satisfação. E, pela legislação, esse tipo de situação e comportamento pode ser configurado como assédio moral. Entretanto, o que este tipo de “chefe” acaba provocando é muito pior e mais profundo.
Esta atitude de desprezo e desconsideração pelo outro nega a alguém a mais profunda necessidade humana, que é da aceitação, da valorização, do pertencimento. Demonstra sadismo e perversidade e está muito além de um problema judicial. Isto não quer dizer que não se deva buscar uma reparação judicial. Claro que sim. A lei precisa ser aplicada, mas o problema vai muito além disso. É, seguramente, uma questão de desvio comportamental grave. Uma atitude perversamente doentia.
Não é justo nem justificável tratar alguém dessa forma. É desumano e cruel. Um chefe assim deve ser, ainda, um homem profundamente doente. Moralmente comprometido. Um narcisista perverso, daqueles que parecem ser amáveis e encantadores, e usam da sedução para se aproximar, mas que criticam feroz e cruelmente quando se sentem inseguros, atacando e destruindo a autoestima, a autoconfiança e a autovalorização dos que os rodeiam.
Narcisistas perversos, geralmente, provocam brigas por questões triviais, insultam verbalmente e tendem a ser intrusivos e controladores. O pior é que eles não têm consciência do seu problema. Acreditam que estão certos e que não precisam mudar nada em si mesmos. A maioria dos narcisistas perversos sente-se livre para ignorar os pedidos de seus subordinados e "esquecer" de honrar quaisquer promessas feitas. Se o subordinado tentar ter uma conversa racional sobre o que parece injusto, ele provavelmente ficará furioso.
Pessoas com transtorno de personalidade narcisista também não estão dispostas a aceitar a responsabilidade por qualquer coisa que façam ou deixe seu subordinado infeliz e improdutivo. Eles podem mentir, distorcer a verdade, reescrever a história ou transferir a culpa e se apresentar como a verdadeira vítima. O que quer que queiram no momento é, geralmente, mais importante para eles do que a verdade real ou a felicidade e a produtividade de seu subordinado.
O maior problema para a empresa é que todas as emoções são contagiosas. O comportamento de um chefe é ainda mais contagioso e tem um efeito exponencialmente multiplicador no grupo e na organização. Ou seja, quando um chefe impõe esse tipo de atitude à sua equipe, todos passam a desenvolver um procedimento similar nas relações pessoais e com o mundo externo. Isso automaticamente se dissemina e o clima organizacional fica péssimo. Neste ambiente negativo, a capacidade cognitiva e a criatividade desaparecem.
Chefes inadequados destroem a produtividade. As empresas, em especial, as pessoas que estão na liderança, têm que assumir e resolver o problema. É preciso evitar esse tipo de pessoa. A fonte de contágio de energia negativa tem que ser eliminada. Portanto, situações como essas têm que ser divulgadas. E toda divulgação ainda é pouco.
Gilberto Guimarães é diretor da GG Consulting e professor
>> Envie sua pergunta, acompanhada de seu cargo e sua idade, para: [email protected]
Esta coluna se propõe a responder questões relativas à carreira e a situações vividas no mundo corporativo. Ela reflete a opinião dos consultores e não a do Valor Econômico. O jornal não se responsabiliza nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações.