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O início do século XXI foi marcado por escândalos que desafiaram o mundo corporativo. Em 2001, os casos da Enron e Worldcom mostraram a fragilidade das organizações para coibir práticas de gestão fraudulentas. Também expuseram como o sistema capitalista contemporâneo precisava revisar suas práticas de controle e supervisão.

Depois desse movimento, diversas iniciativas foram tomadas para aumentar o controle e reduzir os riscos de que executivos mais focados no seu bônus anual pudessem realizar práticas predatórias. No entanto, se mostraram pouco efetivas.

A severa crise econômica iniciada em 2008 também teve origem nas práticas duvidosas de algumas instituições levando a um risco sistêmico para os mercados globais. E a história foi mostrando o quanto os sistemas são vulneráveis.

Nos últimos anos, assistimos a uma nova safra de parasitas corporativos, badalados no mundo externo e destruidores do lado interno. As práticas destrutivas vêm com uma mistura ácida de fraudes financeiras e práticas degradantes de gestão de pessoas. Um caso emblemático é o do CEO da Better, Vishal Garg, que demitiu 900 funcionários pela tela da ferramenta Zoom. É um exemplo do grupo de gestores que, vestidos de unicórnios promissores, atuam como vândalos semeando desespero e danos à saúde mental das equipes.

O recente caso das Lojas Americanas colocou o sistema brasileiro em alerta sobre a gestão de informações financeiras através de um conjunto bem articulado de manipulações para encobrir problemas. E não foi diferente na mirabolante 123 Milhas.

Segundo colunista, reguladores devem implementar medidas eficazes para monitorar e punir comportamentos antiéticos — Foto: Pexels
Segundo colunista, reguladores devem implementar medidas eficazes para monitorar e punir comportamentos antiéticos — Foto: Pexels

O livro de Ângelo Issa chamado “Parasitas e Predadores” cita bem esse universo. De forma irreverente e ácida, mostra o quanto estamos de certa forma conectados com esse sistema e podemos por hora ser vítimas e, muitas vezes, coniventes.

Ao construir os personagens, o autor cita diversos tipos de parasitas corporativos. O mais comum é aquele que orquestra o jogo pensando em todos os detalhes. Quando contratado, costuma refazer equipes, desqualificar o passado e recrutar um novo time com seus discípulos formando uma barreira intransponível. São craques do jogo político. Hábeis em apresentações convincentes. Especializados em semear um pó mágico que cega boa parte dos funcionários e o conselho. As preocupações estão centradas apenas no curto prazo e na garantia de seu energizante bônus. Ego inflado e frases de impacto dão o tom da gestão. Ao final, todos percebem que a dinâmica foi nociva, uma enxurrada de demissões e explicações complexas tentam encobrir a trágica gestão que retira valor do mercado, expõe acionistas e funcionários.

Todos perplexos procuram descobrir os culpados num universo de omissão e descaso que poderia incluir fatores estruturais, culturais e sistêmicos facilitadores desses comportamentos, como pressões por resultados de curto prazo, culturas organizacionais tóxicas e falhas nos sistemas de governança.

Em última análise, a erradicação dos parasitas corporativos requer esforço de líderes empresariais, reguladores, investidores e sociedade civil. É crucial que as empresas adotem uma abordagem proativa para promover uma cultura de ética, transparência e responsabilidade em todos os níveis organizacionais. Além disso, os reguladores devem implementar medidas eficazes para monitorar e punir comportamentos antiéticos, enquanto os investidores podem desempenhar papel fundamental ao incentivar práticas sustentáveis e socialmente responsáveis por meio de suas decisões de investimento.

Somente com um compromisso renovado com os princípios fundamentais de integridade e governança corporativa podemos construir um ambiente empresarial mais justo, resiliente e sustentável.

Rafael Souto é sócio-fundador e CEO da Produtive Carreira e Conexões com o Mercado

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