Carreira
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Por Stela Campos

Stela Campos é editora de Carreira, coeditora dos anuários Executivo de Valor e Valor Carreira. Autora do Guia Valor Econômico de Desenvolvimento Profissional.


Nunca se falou tanto, em tempos de acaloradas discussões sobre inteligências artificiais, que somos diferentes das máquinas. Isso porque temos a capacidade de questionar, escolher e ter um pensamento crítico. Tudo isso parece verdade quando nos referimos à nossa capacidade de atuar sobre aquilo que dominamos, como nossas funções no trabalho.

Mas mesmo com essas habilidades intrinsecamente humanas que nos são naturais, por que é que ainda insistimos em trabalhar como máquinas? Em minha última coluna, escrevi sobre uma executiva que em algum momento da carreira teve uma crise de arritmia porque foi além do seu limite em prol de seu perfeccionismo e pelo foco exagerado no trabalho. A coluna falava sobre as dores da liderança, sobre confiar, delegar e desapegar. Recebi várias mensagens de executivos e executivas que se identificaram com o tema.

Uma delas me chamou a atenção. Um executivo disse que estava sofrendo com um burnout que nunca terminava, porque era cíclico. Os temas do dia a dia de sua companhia, como ter que lidar com a insegurança jurídica no país, o deixavam cauteloso e o tempo todo preocupado. Essa rotina, somada à pressão por resultados, estava lhe adoecendo.

Esse talvez seja um aspecto importante por trás do esgotamento mental e físico no trabalho, o burnout. Esse sofrimento antecipado relacionado àquilo que não está sob o nosso controle. A lista é enorme e inclui desde a complexidade do mercado, as taxas de juros, o vaivém da bolsa, o dólar que sobe e desce, até as metas que a empresa ou os acionistas vão estabelecer para o negócio e que, em última instância, vão chegar até você e sua equipe.

Burnout — Foto: Pexels
Burnout — Foto: Pexels

Nada disso está dentro daquilo que podemos resolver, influenciar ou prever com absoluta certeza, portanto, não nos deveria causar nenhum mal. Mas, nosso cérebro reage a esse tipo de ameaça do mundo moderno aumentando nosso nível de estresse, é uma reação física. Aprendi um pouco sobre isso entrevistando recentemente Daniel Goleman, o guru da inteligência emocional.

Para ele, o controle da ansiedade e do estresse passa por soluções naturais como aprender a meditar. Nem todo mundo vai conseguir ou querer seguir por esse caminho, mas é sempre uma possibilidade. A solução dessa doença do trabalho, na verdade, não passa apenas pelo que podemos fazer para melhorar as nossas emoções e reações ao estresse, como ir ao psiquiatra ou ao centro de meditação.

A solução passa também por reorganizar o fluxo do trabalho, reinventar processos e otimizar funções. Medidas que podem suavizar a sobrecarga que nos acostumamos a incorporar. O burnout que não tem fim, aquele que volta sem que o corpo e a mente possam ter tempo para se recuperar, como disse Goleman, não é algo natural, não é trivial e deve ser encarado com a seriedade e a complexidade que o seu controle requer.

A primeira vez que escrevi sobre burnout foi em 2000, na semana de estreia do Valor, quando o tema era quase desconhecido. Hoje a doença do trabalho é reconhecida pela Organização Mundial de Saúde e muita coisa mudou. Existe uma preocupação maior com o bem-estar dos funcionários nas organizações. Mas a solução não é simples e requer várias ações combinadas.

O burnout volta se profissionais, como locomotivas, seguirem em frente em alta velocidade, sem olhar para os lados, cruzando seus limites até o trem descarrilar e toda a carga se esparramar pelo caminho. E isso acontece quando todos passam a enxergar o humano como máquina.

Stela Campos é editora de Carreira
E-mail: [email protected]

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