Esse é o tempo médio de interação de pessoas com uma tarefa em um computador. Em 2004 eram dois minutos e meio, segundo pesquisas realizadas por Gloria Marks da Universidade de Irvine, que estuda há mais de 20 anos interações de pessoas com máquinas.
Difícil ser produtivo nessa realidade, não? Aliás, nos últimos 20 anos, a produtividade da economia não acompanhou os avanços tecnológicos da “economia digital”. Não que a capacidade de atenção, seja o único fator, mas evidências sugerem ter um grande peso.
A multitarefa é uma ilusão - biologicamente, não fomos preparados para isso como mais e mais pesquisas vêm mostrando. Recuperar-se de uma interrupção pode levar até 30 minutos. Imagine mudar de tarefa a cada minuto.
Recentemente, uma das novidades mais relevantes no campo da inteligência artificial veio de pesquisadores do MIT e da Universidade de Washington , que desenvolveram um algoritmo mais eficaz em predizer comportamento humano que as alternativas existentes. Prever ações humanas permanece um desafio complexo para as ciências da computação, pois raramente agimos de maneira racional e otimizada. Esse novo algoritmo conseguiu ser preciso justamente por modular o que ciências do comportamento vêm sinalizando há alguns anos: pessoas que demoram mais para responder a uma interação tendem a oferecer respostas mais racionais e coerentes, diferentemente das reações rápidas, intuitivas e emocionais que são automáticas, subconscientes, e que nem sempre são as melhores para nós.
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Empresas já perceberam essa realidade em suas interações com clientes, quando o objetivo é aumentar o engajamento e o consumo de produtos e serviços. Segundo experts em comércio eletrônico, por exemplo, um grande avanço na conversão de compras ocorreu quando o auto-preenchimento de formulários de pagamento foi implementado. Antes de sua existência, muitos clientes abandonavam o carrinho de compras sem finalizar a compra, pois tinham mais tempo para pensar. A lógica é semelhante em redes sociais, que mantêm as interações curtas, tornando-as mais inconscientes, previsíveis e superficiais, ativando circuitos cerebrais de recompensa instantânea, similares aos vícios químicos.
Entretanto, essa habilidade de entender a dinâmica de pessoas desaparece quando as organizações se voltam para seus profissionais. Ferramentas de produtividade adotadas nos últimos vinte anos resultam no contrário do que prometem. Notificações constantes de e-mails, plataformas de colaboração, ferramentas de vendas e de gestão de projetos não apenas reduzem a produtividade, mas também diminuem a profundidade das tarefas - além de estarem associadas à crescente crise de saúde mental.
Essa realidade é acentuada por interpretações erradas de novos conceitos de gestão. Modelos ágeis, por exemplo, são constantemente utilizados como uma referência para criticar a velocidade de outras pessoas às nossas demandas.
Agilidade e produtividade têm mais a ver com fluxos inteligentes de informação e aprendizado, que pressupõem “tempo de qualidade” para refletir, aprender e decidir. E não de ferramentas e design que privilegiam conceitos estereotipados de como funcionamos, que confundem velocidade pessoal com agilidade. Deveria ser óbvio que a produtividade real requer algo mais substancial do que quarenta e sete segundos.
Claudio Garcia é presidente da Outthinker Networks e ensina gestão global na Universidade de Nova York