Carreira
Group CopyGroup 5 CopyGroup 13 CopyGroup 5 Copy 2Group 6 Copy
PUBLICIDADE


Existe um número na minha vida que não para de crescer. Não é o de views ou likes, mas o de e-mails na minha caixa postal. Ontem apaguei mais de 20 mil e-mails e hoje quando eu olho ainda tenho 63.637 mensagens. E lá vem o servidor desesperado informando que minha caixa está 95% cheia. Estou à beira de um colapso. E, cada vez que leio isso, vem junto a culpa. Me sinto uma acumuladora digital e, pior, incompetente por não resolver logo essa situação assim que vejo essa mensagem.

Mas o ritmo louco do trabalho quase não permite pausas e dois segundos depois dessa mensagem chegar mergulho em uma nova tarefa e não apago nada. Por que faço isso? Fico pensando naquelas mensagens que vi e não respondi na hora, mas que ainda queria responder. No fim do expediente, cansada, elas acabam ficando para o dia seguinte, enquanto a enxurrada de e-mails continua.

Um executivo me disse que recebia mais de 500 e-mails por dia e que aquilo o mantinha o tempo todo ansioso. “O que será que passou e eu não vi?”, ele se torturava à noite à medida que rolava a barra do Outlook. Na pandemia, muita gente supôs que o e-mail iria desaparecer quando migramos para o WhatsApp e outras formas de comunicação digital. Mas isso não aconteceu, o e-mail que surgiu nos anos 70 continua firme e forte. Em 2023, há uma estimativa que existam 4,3 bilhões de usuários de e-mails no mundo.

Um dos grandes responsáveis por nossas caixas abarrotadas é o pessoal do marketing digital, que mesmo com as redes sociais e os aplicativos de mensagens instantâneas, ainda acredita no poder de persuasão desse tipo de mensagem. O algoritmo não se intromete em e-mail e a mensagem pode ser bem personalizada, justificam.

O e-mail é usado por 4,3 bilhões de pessoas no mundo e continua sendo uma ferramenta de comunicação popular no trabalho, diz colunista — Foto: Pexels
O e-mail é usado por 4,3 bilhões de pessoas no mundo e continua sendo uma ferramenta de comunicação popular no trabalho, diz colunista — Foto: Pexels

Mas o pessoal do marketing não está sozinho, o e-mail ainda é uma forte ferramenta de comunicação no trabalho, mesmo sendo meio ‘old school’. Uma pesquisa da Forbes Advisor nos EUA com mil profissionais mostrou que ele é a forma de se comunicar mais popular no trabalho em 2023, sendo a preferida por 18% dos pesquisados (25% remotos e 10% presenciais).

E é justamente na forma de usá-lo para trabalhar que a maioria dos profissionais erra. Na busca insana por chamar atenção nesse mar infinito de mensagens, muita gente parte para o vale-tudo. Começa pelo assunto que pode vir em negrito, colorido, em caixa alta e, por vezes, com uma mentira deslavada. Alguém acreditou que apelando para algo surreal poderia fisgá-lo para depois contar a verdadeira razão da mensagem no corpo do e-mail.

Outra pegadinha é tentar comovê-lo com uma história triste para depois fazer um pedido que pouco tem a ver com aquele tema. Por último, vêm os super apelativos: “Pelo amor de deus, você pode me ajudar? Você leu essa mensagem? Me responda, por favor, se não posso perder o meu emprego”. Sinceramente, já recebi de tudo. E posso dizer, nada é mais eficaz do que ter algo realmente bom para oferecer e dizer isso de forma direta.

Algumas regras para a boa comunicação por e-mail são básicas, eu pesquisei algumas. A primeira parece óbvia, mas é essencial: saiba a razão pela qual está mandando aquele e-mail, qual o objetivo e quem precisa receber. Sério, muita gente se perde na largada. Se for falar mais de um assunto, divida em tópicos, seja claro e conciso. Todo mundo vai te agradecer. Imagine que em caixas de e-mail lotadas mensagens mais curtas têm mais chance. Poupe o tempo dos outros e o seu.

Comece o e-mail se apresentando, ninguém tem obrigação de saber quem você é, mas não perca tempo com introduções enormes, diga logo o que realmente quer. E, não esqueça de incluir os seus contatos, telefone, endereço de perfil em rede social, nome da empresa, endereço. A pessoa precisa saber como encontrá-lo.

Parece bobagem, mas seja respeitoso e educado, se não tem intimidade com o destinatário, não force a barra. Não use o diminutivo ou palavras fofas. Isso pode ter um efeito contrário e, ao invés de conquistar a simpatia de quem está recebendo, seu e-mail pode ser pulado antes mesmo de a pessoa ler a primeira linha. Quando quiser colocar um anexo, seja razoável. Nunca acima de 1MB, a menos que a pessoa esteja esperando. Mande link, zip, use o bom-senso porque o aquivo pesa para quem recebe e para quem manda e esquece de apagar dos enviados.

Outra dica, controle o seu mau humor. A comunicação digital pode parecer mais agressiva ou, como dizem os americanos, passiva-agressiva, do que realmente foi a sua intenção. Muitos mal entendidos e desafetos no trabalho surgem daí e podem ser evitados. A pontuação, exclamações, interrogações, tudo precisa de um motivo, pense antes de usá-la. Para terminar, sempre diga os próximos passos, dê uma orientação sobre a sua expectativa. E, controle sua ansiedade. Estabeleça um tempo limite razoável para cobrar uma resposta.

Bem, depois de divagar bastante sobre e-mails, vou tirar algumas horas para limpar de vez a minha caixa, porque o servidor continua no meu pé. Chegou a hora do desapego e decidi que não vou apagar mais por nome ou assunto, vou por data: tudo que chegou antes de 2022. (Não consigo desapegar por mais de um ano). Tenho a sensação que essa é uma tarefa inútil e improdutiva, mas não vejo como fugir dela. Você vê?

Stela Campos é editora de Carreira
E-mail: [email protected]

Mais recente Próxima Cochilar durante o dia pode ser mais benéfico do que dormir horas extras a noite

Agora o Valor Econômico está no WhatsApp!

Siga nosso canal e receba as notícias mais importantes do dia!

Mais de Carreira

Carreira

Lista leva em conta critérios como aumento salarial, taxas de emprego de ex-alunos, progresso na carreira e pegada de carbono das instituições de ensino

Melhores MBAs do mundo, segundo ranking do 'FT'

Carreira

A colunista Stela Campos fala sobre como a nossa percepção sobre quem somos no trabalho pode ser tendenciosa e diferente de como o mundo nos percebe

Você sabe menos sobre você do que os outros

Carreira

Monitoramento de riscos, treinamentos para equipes que atuam na linha de frente das interferências e até a criação de uma unidade especial para lidar com temas que extrapolam fronteiras são recomendados

Tensões globais demandam especialistas

Carreira

Acompanhar de perto o ambiente global ajuda a mitigar riscos e também pode gerar insights sobre novas oportunidades de negócios

Geopolítica toma mais espaço nas agendas dos CEOs

Carreira

Obras destacam competências necessárias à liderança de TI, como comunicação eficaz, saber construir uma rede de colaboração e rápida adaptação às mudanças

Os livros que os CIOs devem ler nos próximos meses

Carreira

Maioria das empresas busca um meio-termo entre encerrar os programas e provocar ativistas conservadores

A reação contra DE&I: empregadores estão “reformulando, e não recuando"

Carreira

O documento é uma formalização oficial do desligamento. Veja exemplos de como fazer

Como fazer uma carta de demissão?

Carreira

Maria José Tonelli escreve sobre a importância da participação feminina no mercado de trabalho

Alguma coisa está fora da ordem, precisamos das mulheres!

Carreira

Mais fortes nos EUA com eleição de Trump, iniciativas refletem em ações de subsidiárias locais

Movimento contra diversidade repercute no Brasil

Carreira

A colunista Vicky Bloch escreve sobre as características essenciais a um mentorado para que o processo de mentoria seja bem-sucedido

Como ser um bom aprendiz de feiticeiro