O mundo do trabalho vem sofrendo profundas transformações. Os métodos de gestão do passado baseados em comando e controle, plano de carreira da empresa, previsibilidade das estruturas e relações de longo prazo sucumbiram. Isso torna o papel dos líderes ainda mais desafiador.
Um estudo publicado este ano pelo Great Place to Work (GPTW) mostra que a permanência dos talentos e o desenvolvimento das lideranças estão entre as prioridades das organizações. Os motivos são evidentes: empresas que não são atrativas e não criam ambientes interessantes não são mais foco de trabalho para as novas gerações, perdem talentos e têm dificuldade para entregar resultados.
O mundo pós-pandemia acendeu a chama da luta por propósito e bem-estar. E isso passa pela reformulação do papel da liderança.
O autor David Grossman, em seu recente livro “Heart First” (Coração Primeiro, em tradução livre), aponta três aspectos essenciais da abordagem baseada no coração: empatia e conexão humana; comunicação autêntica e transparente; e liderança intencional e reflexiva.
Grossman enfatiza a importância dos líderes demonstrarem empatia e se conectarem de forma genuína com suas equipes. No ambiente de trabalho, isso significa reconhecer as lutas e desafios pessoais dos membros do time e apoiá-los de maneira significativa. Líderes que praticam a empatia podem criar um ambiente de trabalho mais solidário e engajado.
O segundo aspecto, a comunicação clara e honesta, é crucial, especialmente em tempos de incerteza. Líderes devem se esforçar para serem transparentes sobre os desafios da empresa, bem como sobre suas expectativas. Isso ajuda a construir confiança e garante que todos estejam alinhados e informados.
Já a liderança intencional e reflexiva significa que os líderes devem sempre refletir sobre como suas escolhas afetam a equipe e a organização como um todo. Líderes que adotam uma abordagem reflexiva podem se adaptar melhor às mudanças, liderar com propósito e tomar decisões de mais qualidade.
A liderança baseada na transparência passa por assumir vulnerabilidades. Líderes foram treinados para ter todas as respostas e não assumir fraquezas. Liderar com o coração aponta na direção oposta. Assumir dificuldades e pedir ajuda aproxima os gestores de suas equipes. Construir relações de confiança e com segurança psicológica pressupõe assumir vulnerabilidades. Ambientes confiáveis são mais diversos e propensos à inovação.
Esse modelo de liderança contempla o olhar atento ao pilar de saúde física e emocional da equipe. Dialogar sobre como está o indivíduo é fundamental. Mostrar interesse em apoiar e gerar equilíbrio saudável entre trabalho e vida pessoal gera conexão e produtividade.
Ao contrário do que muitos pensam, esse jeito de liderar que considera emoções e se mostra servidor não afasta os resultados de negócios. É uma alavanca poderosa para atingi-los.
Segundo um estudo global da consultoria Ernst & Young, EY Consulting Survey (2021), 90% dos trabalhadores acreditam que a liderança empática leva a uma maior satisfação no trabalho e 79% concordam que diminui a rotatividade de funcionários. Além disso, 88% sentem que a liderança empática inspira mudanças positivas no local de trabalho, e 87% dizem que possibilita confiança entre funcionários e líderes.
E para os céticos sobre essa nova abordagem, recomendo um primeiro passo. Antes de perguntar sobre um projeto, pergunte ao seu funcionário como ele está, busque saber seu momento de vida e interesses de carreira, e dê espaço para um diálogo aberto. Com essa simples intenção centrada no indivíduo, já é possível notar mudanças profundas nas relações e no engajamento. Como diz o célebre Ram Charan, se você quer saber se um líder é orientado a pessoas, basta olhar sua agenda.
Rafael Souto é sócio-fundador e CEO da Produtive Carreira e Conexões com o Mercado