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Há poucos anos, fui convidado para visitar um desses super prestigiados eventos globais de inovação e tecnologia. Obviamente, tecnologia tem sido um tema relevante, e eventos como esse permitem em pouco espaço de tempo ter contato intenso com tudo que está acontecendo. Mas o que, para mim, marcou foi algo bem diferente.

Acredito que passei metade do tempo em um espaço dedicado a pitches de empreendedores. As ideias por trás dos negócios eram interessantes, mas minha fascinação era tentar entender um padrão quase preciso que se passava na maioria das apresentações: jovens inteligentes, com discursos estilo ted-talk, extremamente autocentrados, contando histórias de superação, brilhantismo, e de como suas ideias iriam impactar o mundo. Era difícil ignorar o tom de messianismo.

A outra metade do tempo eu dispendia nos estandes com os profissionais dessas empresas para mergulhar ainda mais em suas realidades. Durante as conversas, entre as várias referências ao fundador, suas ideias e histórias, era evidente, para eles, que nada poderia ser parecido com o que estavam criando. Juntando tudo isso à visível dedicação, com falta de limites entre vida pessoal e profissional e a ausência de espírito crítico, era compreensível o que muitos artigos e pesquisas já mostram há algum tempo: a tênue proximidade entre o ambiente de startups com o de cultos. Aliás, um dos grandes ídolos dessa área é bem aberto sobre isso. Segundo ele, startups devem ser operadas como cultos, com pessoas “fanaticamente certas sobre algo que aqueles do lado de fora não compreendem”.

Mas dizer que isso só ocorre no mundo das startups é um grande equívoco. Muitas organizações andam nessa mesma linha tênue entre culto e o que muitos entendem como cultura - campo repleto de teorias e práticas questionáveis e vulneráveis à manipulação.

Existem centenas de evidências de que esses cultos beneficiam essencialmente quem está no topo da hierarquia, diz colunista — Foto: Unsplash
Existem centenas de evidências de que esses cultos beneficiam essencialmente quem está no topo da hierarquia, diz colunista — Foto: Unsplash

Obviamente nem todas as empresa e startups são assim. Mas é observável em todas as esferas sociais e políticas uma tendência clara de formação que relembra cultos, com lealdade cega a figuras questionáveis, valores absolutos e ausência de questionamento.

Existem centenas de evidências de que esses cultos beneficiam essencialmente quem está no topo da hierarquia. Figuras que, por sinal, como bons humanos, são facilmente corrompíveis e se sentem à vontade para realizar ações moralmente questionáveis devido ao tanto de reverência que recebem (incluindo o empreendedor-ídolo citado anteriormente), dinâmica bem explicada pelo imperdível livro “Cultish: The Language of Fanaticism”, de Amanda Montell.

Um dos pontos interessantes na formação de cultos é que, enquanto aqueles baseados em teorias das conspirações atraem pessoas com baixa escolaridade, cultos associados a propósitos mais nobres e “espiritualizados” são armadilhas fáceis para pessoas com excelente educação e em posições sociais favorecidas. Ou seja, ninguém está ileso.

Paradoxalmente, à medida que temas “inquestionáveis” como um propósito inspirador e ESG são incorporados rapidamente por empresas, mais se ampliam os instrumentos de manipulação coletiva.

Você tem pavor dessa realidade? Um saudável ceticismo suportado por pensamento crítico ajuda muito. E principalmente a defesa indiscutível da individualidade, mesmo que ao custo de conflitos. Não se engane, colaboração é essencial, mas não significa entregar a alma.

Claudio Garcia é presidente da Outthinker Networks e ensina gestão global na Universidade de Nova York

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