Carreira
Group CopyGroup 5 CopyGroup 13 CopyGroup 5 Copy 2Group 6 Copy
PUBLICIDADE


Outro dia, uma CEO atrasou quase meia hora para um almoço comigo. A assessora já estava ficando sem graça, quando ela finalmente chegou. Estava um tanto esbaforida, mas me disse que a causa era nobre. Mãe de gêmeos, de oito anos, por conta de um imprevisto, a pessoa que costuma buscá-los no colégio tinha faltado e ela não tinha outra opção a não ser desviar sua rota, pegá-los e deixá-los em casa. Naquele dia, seu marido estava viajando. Ela tinha esperança de que mesmo com o trânsito louco de São Paulo conseguiria chegar a tempo, mas não deu.

Ela conta que nem sempre foi assim, tranquila, para lidar com as demandas da família. Levou um tempo para que ela conseguisse colocar uma emergência como essa em primeiro lugar, sem culpa. Aos olhos de quem nunca teve filhos pode parecer uma história banal, mas trata-se de uma operação de logística. Administrar filhos requer planejamento, estratégia, liderança, empatia, firmeza, desapego e amor. Tudo isso junto com uma grande dose de paciência. E sua agenda do dia, pode sim desmoronar.

Para essa CEO, em muitos momentos, os diversos papéis que exerce como profissional, mãe, esposa, amiga, colega, acabam se sobrepondo na sua ordem de prioridades. São muitos pratos para equilibrar diariamente. A questão-chave, segundo ela, é ser generosa consigo mesma e entender que tudo bem se às vezes algum desses pratos cair e quase se espatifar no chão. Somos humanos e como disse o Claudio Garcia, recentemente, em seu artigo, ser multitarefa não é natural para nós, biologicamente falando.

No podcast CBN Professional entrevistei várias mulheres bem-sucedidas que ocupam o cargo de CEO, em companhias de áreas distintas, enormes ou pequenas, mas que relataram questões muito parecidas em suas histórias de carreira até chegarem à liderança.

Executiva atrada — Foto: Pexels
Executiva atrada — Foto: Pexels

A síndrome da impostora, por exemplo, é comum para quem atinge o alto escalão, mesmo que algumas não se reconheçam nesse termo. Várias quiseram estudar mais que todo mundo, demoraram para dizer sim para uma promoção achando que não estavam preparadas ou pediram um coach quando assumiram o cargo de CEO para se sentirem mais seguras. Tudo aquilo que li sobre esse tema, tive a oportunidade de constatar que faz parte da história de muitas delas.

Lidar com a maternidade é outro desafio bastante comentado. Uma executiva jovem me disse que a filha pequena perguntou por que ela era a única mãe que não ia na reunião de pais à tarde. Ela explicou que precisava trabalhar e que no fim de semana elas estariam juntas para brincar e aproveitar o sítio. Para a CEO, conseguir dois dias inteiros no campo, sem trabalhar e deixando o celular de lado, significava uma vitória imensa e uma conquista pessoal depois de muita terapia. Explicar o que isso significa para alguém de sete anos, bem, isso talvez não seja tão simples.

Para essa executiva, o valor do trabalho é o exemplo que ela quer dar para inspirar a filha. Sua história para o topo incluiu uma dedicação ferrenha aos estudos. Ela lembra que os pais eram muito rígidos com suas notas, tirar menos que dez era um problema. Ela foi a primeira da família a ir para a faculdade e conseguiu chegar longe. Cursou uma universidade de primeira linha no Brasil, fez MBA na Chicago Booth, se destacou no mercado financeiro, cocriou um fundo de investimentos, liderou a operação de uma grande empresa brasileira na China e se tornou CEO aos trinta e poucos anos. Chegou lá, mas batalhou um bocado.

Outra executiva mais sênior, com 30 anos de sucesso no mundo corporativo, hoje com filhos jovens adultos, lembra que no auge da carreira rejeitou uma proposta para mudar de país em uma big tech porque não se sentia preparada para morar fora com a família. Preferiu ficar e acabou pedindo demissão. Anos depois, voltou a trabalhar na mesma companhia e recebeu outro convite para atuar nos Estados Unidos como vice-presidente da operação para a América Latina, uma oportunidade melhor que a anterior.

Ao levar a proposta para a família, o filho de 17 anos disse que preferia ficar no Brasil. Ele tinha acabado de entrar para a faculdade. A executiva disse então que tomou uma das decisões mais difíceis de sua vida, que foi emancipar o filho para que ele pudesse ficar. Ela se mudou com o marido e a filha, mas foi com o coração partido. Buscou deixar uma rede de apoio para que não lhe faltasse nada em casa, tipo comida, roupa lavada. Anos depois, conta essa história ainda emocionada. Hoje, ela comanda uma área estratégica em outra empresa global e segue viajando pelo mundo.

São muitas as histórias de mulheres que receberam propostas de emprego grávidas ou durante a licença maternidade. Houve quem decidisse amamentar o bebê em uma reunião de negócios, para espanto dos colegas executivos. Outra conta que controla tudo que o filho assiste no fim do dia, só para ter um momento de tranquilidade no sofá com ele. Equilibrar carreira e vida pessoal não é simples para ninguém. Com filhos ou sem, estabelecer limites no trabalho e em casa, sem arrependimentos, é para pessoas muito evoluídas, acredite.

Stela Campos é editora de Carreira
E-mail: [email protected]

Mais recente Próxima Estresse no trabalho pode prejudicar a gravidez, segundo pesquisa de Harvard

Agora o Valor Econômico está no WhatsApp!

Siga nosso canal e receba as notícias mais importantes do dia!

Mais de Carreira

Carreira

Quem vai trabalhar no exterior tem entre 35 e 45 anos, curso superior e experiência relevante

Brasileiros qualificados escolhem deixar o país

Carreira

Pode-se esperar um investimento mínimo de US$ 10 mil a US$ 20 mil, incluindo despesas com vistos, passagens aéreas, moradia temporária, seguro saúde e custos iniciais

Carreira

O colunista Rafael Souto escreve sobre a necessidade de se rever o modo de trabalho dos gestores, que estão sobrecarregados

Do sucesso ao colapso: o sinal de alerta na liderança

Carreira

Confira as movimentações executivas da semana

Alexandre Ullmann deixa o LinkedIn e assume o RH da Kaizen Gaming no Brasil e América Latina

Carreira

Levantamento com 1.477 pessoas na América Latina mostra o que querem os jovens profissionais

Geração Z: minoria quer seguir carreira corporativa

Carreira

Estudo da Deloitte ressalta aspectos importantes da área de gestão de pessoas. Conheça

8 tendências globais de capital humano em 2024

Carreira

Confira os lançamentos do mês

Estante: 6 livros sobre carreira e gestão

Carreira

Pesquisa com mais de 700 pessoas mostra que cerca de três em cada dez profissionais brasileiros foram diagnosticados com algum transtorno nos últimos doze meses

Questões de saúde mental afetam líderes e liderados

Carreira

Ex-gerente da Volkswagen e fundadora da Rede Mulher Empreendedora é a convidada do podcast esta semana

Empreender é solitário, trabalhar em grupo faz diferença, diz Ana Fontes

Carreira

Oito ações que a alta liderança pode fazer para apoiar profissionais em dificuldades

Como o CEO pode ajudar um executivo com baixo desempenho